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Dicas para não errar na concordância da porcentagem

Publicado em Dicas de português

“Nas palavras e nas modas, observe a mesma regra: sendo novas ou antigas demais, são igualmente grotescas.”
Pope

Reta final. Os brasileiros vão escolher o presidente da República. E, em alguns estados, os governadores. Candidatos e eleitores têm um comportamento comum. Ficam de olho nas pesquisas. A divulgação dos levantamentos alegra uns e entristece outros. Ao falar no assunto, ambos têm uma preocupação — a concordância. Como fica o verbo em construções como 75% da população, 1% dos votos, 20% das mulheres? Singular ou plural?

A concordância de percentagem joga no time dos partitivos. O verbo pode concordar com o número ou com o nome: 75% da população votaram (concorda com 75). 75% da população votou (concorda com população). 1% dos votos foi anulado (concorda com 1). 1% dos votos foram anulados (concorda com votos).

Limite 1
Lembre-se de pormenor pra lá de importante. A generalização é burra. O verbo tem de concordar com o núcleo do sujeito ou o complemento. Às vezes, ambos são do mesmo número. Aí, adeus, escolha. Veja: 1% da população permanece indecisa. (O número é 1, singular. O nome é população, singular). 20% das mulheres declararam a preferência. (O número é 20, plural. O complemento, mulheres, plural.)

Limite 2
Às vezes, o número deixa a solteirice pra lá. Convida o artigo ou o numeral para juntar os trapos. Acompanhado, ele fica forte como Zeus no Olimpo. A concordância se fará só com ele: Uns 15% da população continuam indecisos. Os 10% do corpo docente mais qualificado se aposentam este ano. Este 1% de insatisfeitos tumultuará o processo.

Moral da opereta
Ao lidar com percentagem, todo o cuidado é pouco. A concordância pode enganar como pesquisa eleitoral. Olho vivo!

Ou…ou
Lula ou Bolsonaro… ops! será ou serão presidente do Brasil pelos próximos quatro anos? Com os núcleos ligados pelas conjunções ou…ou, é necessário verificar a relação estabelecida:

1. Se indicar exclusão ou sinonímia, o verbo vai para o singular: Ou um ou outro será presidente do Brasil. (Lembre-se: só há uma vaga na cadeira do Palácio do Planalto.)

2. Se exprimir inclusão (= e), o verbo vai para o plural: Casamento ou divórcio são regulamentados por lei.

3. Se for retificação, o verbo concorda com o núcleo mais próximo: Os autores ou o autor da melhor reportagem receberá o prêmio. O autor ou os autores da melhor reportagem receberão o prêmio. Ele ou nós redigiremos o requerimento.

Mais do mesmo
“Por unanimidade, toda a diretoria do PDT decidiu apoiar Lula”, disse o repórter. Viu? Baita pleonasmo. Se o apoio foi por unanimidade, o toda sobra: Por unanimidade, a diretoria do PDT decidiu apoiar Lula.

Colaboração
André Gustavo é leitor voraz. Curioso, diversifica os temas aos quais dedica tempo e atenção. É dele esta mensagem compartilhada com a coluna: “Estou lendo um livro muito interessante, O chamado da tribo, do Vargas Llosa (Objetiva).

É uma coleção de biografias de autores que tiveram grande influência sobre ele. Mas me lembrei de falar com você sobre o livro
porque na biografia de Adam Smith ele utiliza a palavra irrito, com acento agudo no primeiro i. Fui ao dicionário e verifiquei que existe: significa nula, sem efeito. Conhecia?”

Leitor pergunta

Debaixo ou de baixo?
Debaixo = sob (de baixo da mesa, debaixo do tapete).
De baixo se usa nos demais casos: de baixo pra cima, roupa de baixo.