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Alguns tropeços na língua portuguesa em tempos de eleição

Publicado em Dicas de português

“Reescrevi 30 vezes o último parágrafo de Adeus às armas antes de me sentir satisfeito.”
Ernest Hemingway

Daqui a pouco
Domingo próximo vamos às urnas. Estamos a uma semana das eleições. Viu? Tempo futuro se indica assim mesmo – com a preposição a. Tempo passado joga em outro time. Escreve-se com h: Há quatro anos os brasileiros elegeram presidente, governadores, senadores e deputados.

Nobel
Bolsonaro bateu asas e voou. Foi a Londres e depois a Nova York. Nos States, discursou na ONU. Lá pelas tantas, disse que o ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli merece receber o Prêmio Nobel. Acertou no diagnóstico, mas tropeçou na pronúncia. Guarde isto: Nobel pronuncia-se como papel e Mabel. A sílaba tônica é a última. Isolado, Nobel tem plural. Acompanhado de prêmio, mantém-se invariável: Ganhou dois Nobéis. Dedicou o livro a dois Prêmios Nobel.

Por falar em pronúncia…
O ditongo -ui de gratuito se pronuncia como o de circuito ou fortuito. O i soa juntinho do u.

Mais bem
As pesquisas viraram febre. Todos os dias sai uma. Os números não surpreendem. Eles praticamente se repetem. O que surpreende é o tropeço de repórteres e apresentadores. Ao anunciar o resultado, falam em “melhor colocado”. Nada feito. A confusão vem de longe. Professores, quando ensinam melhor e pior, dizem que as formas mais bem e mais mal não existem. É meia verdade. Mas os mestres se esquecem de falar na outra metade. Trata-se do particípio — os verbos terminados em -ado e –ido: amado, vendido, partido.

Antes dessa forma verbal, mais bem e mais mal pedem passagem: Nas pesquisas, Lula é o candidato mais bem colocado. As francesas são as mulheres mais bem vestidas da Europa. A redação mais bem escrita tira a nota máxima. A mais mal redigida tira a nota mínima.

Melhor e pior
Não se trata de particípio? Relaxe. O melhor e o pior deitam e rolam sem concorrência: Paulo come melhor do que Maria. Saiu-se melhor na prova final do que nos testes parciais. Foi o pior aluno da turma, mas apresentou o melhor trabalho.

Primavera
Setembro trouxe a primavera e deixou um recado. As estações do ano se escrevem com a inicial minúscula: primavera, verão, outono, inverno.

Tanto faz
“O Copom manteve a taxa de juros”. Juro ou juros? Tanto faz. Você escolhe.

Onde
Candidatos a cargos eletivos não faltam. Promessas também não. Paulo Octavio disputa o governo do Distrito Federal. No programa eleitoral obrigatório, disse que sua administração será “um governo onde nossos estudantes tenham um tablet na mão”. Tropeçou no erro mais cometido por redatores. É o emprego do onde. Jornalistas, advogados, professores batem no advérbio. Como escapar da enrascada? Pra acertar sempre, lembre-se: o onde indica lugar físico, palpável. Veja:

A cidade onde moro tem 3 milhões de habitantes.

O onde se refere à cidade. Cidade é lugar físico.

Gonçalves Dias escreveu:

“Minha terra tem palmeiras

Onde canta o sabiá.”

O onde está no lugar de palmeiras. Palmeiras é lugar físico. Nota 10.

Em que
Agora leia esta frase: No encontro dos governadores, onde se discutiram as propostas, ouviram-se muitas opiniões, mas nenhuma solução. O onde se refere a encontro. Encontro não é lugar físico, concreto, palpável. Então o onde não tem vez. A duplinha em que pede passagem: Na discussão dos governadores, em que se discutiram as propostas, ouviram-se muitas opiniões, mas nenhuma solução. É o caso da frase de Paulo Octavio “um governo onde nossos estudantes tenham um tablet na mão”. Governo não é lugar físico. Vem, em que.

Leitor pergunta

Mal estar ou mal-estar?
Jonas Eduardo, Viamão

Mal-estar se grafa com hífen. Bem-estar também.