Ana Maria Braga tropeça no verbo haver

Publicado em português

Ana Maria Braga dava entrevista à TV Cultura. Segura, simpática e sorridente, falou de câncer, família, carreira, amores. Ao opinar sobre a política cultural, disse: “Acho que houveram excessos na área”. O verbo haver, coitado, apanhou. Está gemendo até agora. Que tal consolá-lo? Ele joga em dois times:

Pessoal = conjuga-se em todas as pessoas: hei de estudar, hás de estudar, há de estudar, havemos de estudar, haveis de estudar, hão de estudar.

Impessoal = na acepção de existir e ocorrer, só se flexiona na 3ª pessoa do singular: Não haverá perguntas. Há cinco alunos na sala. Houve distúrbios durante as manifestações. Houve tempos de paz no Oriente Médio? Houve excessos na área.

No caso, o verbo haver não tem sujeito. Perguntas, alunos, distúrbios, tempos e excessos funcionam como objeto direto. Muitos pensam que são sujeito. E lá vem o plural.  Valha-nos, Deus!

Por falar em haver…

Haver ou a ver? A pronúncia é a mesma. Mas a grafia e o significado de um não têm nada a ver com o outro:

A ver = ter relação com: Minha história tem tudo a ver com a de Paulo. Este fato não tem nada a ver com aquele. O que uma coisa tem a ver com a outra?

Haver = verbo: Vai haver distúrbios na volta às aulas? Pode haver manifestações durante a visita de Bolsonaro? No Brasil, costuma-se empregar o verbo ter no lugar do haver.

Superdica

Como não confundir as duas formas? Faça o jogo do troca-troca. Se o a for substituível por que, dê a vez ao a ver. Caso contrário, o haver pede passagem: Este caso não tem nada a (que) ver com aquele. Minha história tem tudo a (que) ver com a de Paulo. Vai haver festa aqui?