Não vou por aí

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

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         Como dizia José Régio, in Cântico Negro: “Não, não vou por aí! Só vou por onde/Me levam meus próprios passos…Se ao que busco saber nenhum de vós responde/Por que me repetis: “vem por aqui!”? Prefiro escorregar nos becos lamacentos, /Redemoinhar aos ventos, /Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,/A ir por aí…”

         Em pleno século XXI, a humanidade, temerosa das imensas responsabilidades que tem pela frente, num planeta em grande ebulição, insiste ainda em permanecer estagnada, dentro de uma fase evolutiva que muito se assemelha à adolescência, oscilando entre a infância e a maturidade, receosa em ter que assumir as rédeas do próprio destino, livrando-se definitivamente da tutela de políticos.

         De fato, um novo século para a humanidade só virá quando ela adquirir a capacidade plena de andar sem essa muleta, liberta de intermediários, que no final das contas são também seus carcereiros. Um olhar em volta mostra que ainda estamos longe desse dia. As guerras e os extremismos políticos representam bem essa eterna adolescência. As desigualdades sociais e a violência reafirmam, por hora, nossa dependência e amarras a esses títeres.

         Não somos o que somos. Estamos resumidos a sermos aquilo que querem que sejamos e assim seguimos sem vontade, ao sabor do empurrão dos ventos. A própria democracia, como a temos, é ainda o menos aflitivo modelo que encontramos para delegar nossas responsabilidades sem nos responsabilizarmos pelo que virá.

         E é aí que as coisas tomam os rumos que não desejamos. No nosso caso particular, passados os quatro anos de governo, com mudanças nos Poderes Executivos e Legislativos de todo o país, nenhum dos eleitores se apresenta perante a justiça para confessar seus crimes por haver eleito esse e outro mandrião, esse e outro corrupto, ficando o passivo dessa irresponsabilidade dividida por todos igualmente, numa punição que se repete ad infinitum a cada quadriênio.

         Por isso, falar em esquerda e direita, num país que não sabe sequer seguir em frente e em linha reta, rumo ao futuro, é como torcer em vão pela vitória vazia na disputa ente o Boi Garantido, de vermelho, e o Boi Caprichoso, de azul. De olhos postos nesse ludopédio enfadonho, nesse verdadeiro Fla Flu flatulento, entregamos, de bandeja, todo um país e toda uma nação, nas mãos de muitas autoridades que demonstram desdém com a própria sorte.

         Não se enganem! Somente eleitores notoriamente irresponsáveis e imaturos delegam o destino de suas vidas e de seus familiares àqueles que irão, na primeira oportunidade, roubar-lhes a carteira e a vida. É nessa disputa que rumamos para outubro, certos de que vamos no bom caminho, afinal seguimos em círculo e sem enxergar um palmo à frente. Só escutamos a gritaria dizendo: vem por aqui! Tivéssemos algum juízo, há tempos teríamos gritado de volta: não, não vamos por aí. Seguiremos para onde dizia o filósofo de Mondubim: “Para o rumo da venta!”

A frase que foi pronunciada:

“Deve-se ficar bêbado todos os dias e nunca ir para a cama sóbrio.”

Este era o principal requisito para a adesão a um grupo de beberrões criado pelo tsar Pedro I, da Rússia, no final do século 17.

Evento

Com apoio da Embrapa e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, dois eventos podem ser decisivos para a tomada de decisão sobre a produção e comercialização do trigo. O Fórum Nacional do Trigo e a 15ª Reunião da Comissão Brasileira de Pesquisa de Trigo e Triticale acontecem na próxima semana em Brasília, no Centro de Eventos Complexo Brasil 21, do dia 28 ao 30.

Print: reuniaodetrigo.com

 

Humano

Nenhum outro papa precisou de passaporte para viajar. Como cidadão do mundo, o Papa Francisco, abdicando de qualquer privilégio, pediu que o governo argentino renovasse seu passaporte. Foi um exemplo para mostrar ao mundo que ele também é do mundo.

Foto: w2.vatican.va

 

Financiamento

O que seria uma facilidade virou pesadelo para muita gente. Um curso superior passa a valer uma casa simples. Com atrasos no pagamento, muita gente entrou no emaranhado das dívidas. O fato de o presidente Bolsonaro sancionar lei que permite renegociação de até 99% da dívida do Fies vai dar fôlego para os endividados.

Foto: Marcello Casal Jr./ Agência Brasil

Faixas
O acidente no Eixo W, altura da Estação Galeria, área central do Distrito Federal, chama a atenção para a sinalização antiga no asfalto. As faixas depois da reforma no local ainda não estão acertadas, causando grande confusão

Foto: Divulgação/CBMDF

 

História de Brasília

O Departamento de Correios e Telégrafos está sempre reclamando contra o abuso dos deputados e Senadores, que utilizam seus serviços sem pagar nenhuma taxa com assuntos que absolutamente não deviam ser transmitidos. Efetivamente, o abuso chegou ao máximo na temporada do Natal, quando 45 mil mensagens foram transmitidas pelos parlamentares, sobrecarregando o serviço. (Publicada em 02.03.1962)

Vaidade é tudo vaidade

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Congresso Nacional. Foto: EBC

 

         Um dos maiores problemas decorrentes da polarização política extremada é que aqueles que se encontram equidistantes desses pontos, e que representam a grande maioria da população, são, justamente, os que mais sofrem com os efeitos dessas radicalizações irracionais. Primeiro, porque, seja quem for o vencedor do pleito, não haverá, por birra política, continuidade de programas e projetos, interrompendo, muitas vezes, projeto vitais e de interesse exclusivo da população.

         Esse tem sido um dos principais motivos pelos desperdícios e pelos prejuízos bilionários acarretados com obras e programas sociais, abandonados ou empurrados para um futuro incerto. Por ouro lado, o que se verifica, como consequências dessas radicalizações de posições é que a prepotência faz com que os novos governantes comecem do zero, como se o Brasil fosse redescoberto, depois de cinco séculos, refazendo o que está feito e desfazendo o que não foi concluído ainda. É nesse vai e vem que o país não sai do lugar.

         Estamos metidos ainda, em pleno século XXI, em disputas ideológicas, enquanto o resto do mundo avança em novas tecnologias, investindo pesado em pesquisas e planejamento para o futuro. No meio da polarização insana e improdutiva das disputas políticas pelo controle da máquina do Estado, o que sobra para a sociedade são as balas e os obuses perdidos, vindos de uma parte e de outra, a atingir, indiscriminadamente, a todos.

         Vaidade das vaidades, tudo é vaidade e aflição de espírito. “Aquilo que é torto não se pode endireitar”, (Eclesiastes 1). É com ensinamento como este, vindo de um passado milenar, que devemos pôr nossos sentidos. Ao longo de toda a história humana, que proveitos tiveram aqueles povos colocados ao meio do caminho, entre disputas bárbaras, senão a destruição?

         É justamente nessa aflição de espírito que vamos ao encontro de outubro, certos de que, depois dessa data, não cessarão as agonias, e por uma razão simples: os extremos nessa disputa estão, cada um, ao seu modo e com seus vícios, de um lado do precipício. Não se enxerga no horizonte nenhum programa consistente de governo. Tudo são xingamentos e acusações. Há, sim, um programa de ódio, armado, como uma bomba que irá detonar na hora certa, sobre a cabeça de todos, sobretudo daqueles que nada têm haver com essas pelejas e que nada esperam delas.

          Uma Justiça Eleitoral, digna do epiteto, capaz de conduzir esse e outros pleitos, dentro do que estabelecem as mais básicas regras do respeito e da ética, seria capaz de colocar ordem na disputa, conduzindo todos para o vale da harmonia, da transparência e do equilíbrio das partes. Talvez, assim essa campanha conseguisse alcançar um nível de racionalidade e utilidade pública que a sociedade almeja e merece.

         Ao invés disso, o que se observa, flagrantemente, é o posicionamento desses árbitros em benefício de uma das partes, emperrando a balança da justiça e da ordem para um lado, numa clara demonstração de que há um tribunal que veio para complicar um pleito que, por si só, já é bastante confuso, improdutivo e belicoso.

A frase que foi pronunciada:

“Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada.”

Otto von Bismarck

Otto von Bismarck. Foto: wikipedia.org

Pratas da Casa

David Chatelard, da Engenharia Mecatrônica da UnB, representa Brasília e o Brasil com toda a turma de Divisão de Robótica Inteligente em exposições e competições.

Foto do perfil de David Chatelard no linkedin.com

 

Tão simples

Passear a pé pela Asa Norte é diferente de passear no Lago Norte por uma razão. O bem comum. Para os donos de cães do Lago Norte, recolher as fezes do animal é uma cena impossível. Por isso, ao longo das calçadas, os excrementos compõem a paisagem de uma das áreas mais “nobres” de Brasília. Já na Asa Norte, saquinhos para esse fim estão disponíveis para a colaboração como cidadãos.

Imagem: dfaguasclaras.com

 

Brasília

Um fenômeno social acontecendo perto da colina, na L3, residência dos professores da UnB. Uma cena totalmente bizarra. De um lado, barracos de lona ao longo da pista, com crianças descalças brincando na terra vermelha. De outro, uma mesquita luxuosa, de arquitetura refinada. Os barracos que invadem a avenida são a moradia de carroceiros que juntam todo tipo de material reciclável. Mereciam viver em um lugar decente, legalizado, para que exerçam essa importante atividade.

Reprodução do Google Maps

 

Preparação

Poucos no mundo sabem que, na Amazônia, acontece um carnaval genuinamente raiz, onde o folclore amazonense se mistura com a tradição local. É hora de o  ganhar os continentes.

História de Brasília

Já foi iniciado o combate às invasões no Plano Pilôto. A Secretaria do Interior e o DFLO da Prefeitura estão retirando os barracos, e já limparam as superquadras 301, 302 e 303. (Publicada em 01.03.1962)

Enxadadas e canetadas

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Charge para o Jornal O Dia

 

         Em terras semeadas pela classe política nacional, basta um golpe de enxada, dada na terra inculta, para que dali surjam indícios de que há muito mais nesse campo arado do que se pode esperar. É como dizia o filósofo de Mondubim: “a cada enxadada, uma minhoca”. Portanto escarafunchar a vida dos principais políticos nacionais nunca é um exercício em vão. Há sempre a produção de surpresas, todas elas apontando para aldrabices e outras maquinações que desembocam sempre no pardieiro da corrupção.

         A terceira Instância do Judiciário até que tenta ajudar para que essas surpresas não resultem em punição para seus autores, mas são tantas as evidências e elas vão se acumulando num crescendo tão febril, que vai ficando, cada vez mais difícil esconder, do olhar do público, as montanhas de provas varridas para debaixo dos luxuosos tapetes caríssimos.

         Os órgãos de investigação, há muito, já perceberam que não é preciso sequer seguir esses meliantes, basta ir atrás do dinheiro. Foi o que aconteceu, por exemplo, no caso das malas, contendo mais de R$ 50 milhões, encontradas em um apartamento em Salvador, que servia como uma espécie de agência informal de pagamento de propinas. Foi o que ocorreu também com outra mala, de grife famosa, dessa vez contendo a módica quantia, para os padrões nacionais, de R$ 500 mil, transportada pelo assessor especial de um ex-presidente, propina essa recebida da notória J&F. Em junho de 2016, no aeroporto internacional de Guarulhos, três pesadas malas, que não passaram pelo exame de raio X, foram interceptadas em um jatinho particular, levando um ex-presidente para Roma.

         A operação, deflagrada pela Polícia Federal, foi abortada por ordens superiores e o caso foi também varrido para debaixo dos tapetes dos chiques gabinetes de Brasília. Os desvios de dinheiro público são tantos, e em tão grande volume, que já não bastam caixas de whisky e outras embalagens pequenas, é preciso malas, muitas malas.

         Fossem dadas enxadadas em paraísos fiscais e outros países que fazem vista grossa para essa dinheirama surrupiada, bilhões de minhocas saltariam para fora da terra, com as mãos para o alto. Guiam, esses nada nobres senhores, a famosa senha que diz: “Se mais dinheiro houvera lá chegara”. Nem bem o defunto da Lava Jato esfriou, nova enxadada, dada pela Polícia Federal, fez surgir outras minhocas, e um novo escândalo parece se erguer no horizonte. A justiça de São Paulo anda às voltas agora com um curioso caso envolvendo lavagem de grandes somas de dinheiro, feito pela poderosa e cada vez mais onipresente dentro da máquina do Estado, o PCC. Mais de R$ 45 milhões em imóveis e veículos foram apreendidos, levando a polícia ao contador João Muniz Leite, como definiu a imprensa, um técnico em transformar dinheiro sujo em recursos limpinhos. Ocorre que o tal contador, olha aí a minhoca, foi o responsável por fazer a declaração do Imposto de Renda de um famoso ex-presidente por anos, sendo que, até hoje, maneja a contabilidade da alma mais honesta desse país.

         Outras enxadadas revelaram ainda que o tal contador divide sala com empresas do craque das finanças, o filho desse mesmo ex-presidente. É preciso agora que a junta dos mais caros escritórios de advocacia do país cuide logo de entrar em campo, isso é, nos gabinetes de Brasília, para salvar, mais uma vez, esse senhor e sua família, de preferência antes das próximas eleições.

         Nesse caso também, os prognósticos sobre os resultados dessa investigação são sombrios e incertos. O mais provável é que todo esse novo movimento de enxadada acabe lá adiante, interrompido por uma canetada, dada por aqueles que estão onde estão para que tudo fique como sempre foi. Dizer o quê?

A frase que foi pronunciada:

“Acho que nós consideramos mais a boa sorte do pássaro que acordou cedo do que a má sorte da minhoca.”

Franklin Roosevelt

Foto: Margaret “Daisy” Suckley/1921/FDR Presidential Library & Museum

 

Agenda

Brasília recebe, até o dia 26 desse mês, a 36ª Feira do Livro de Brasília. A entrada é gratuita. Uma pena o país não estimular a leitura. Em países desenvolvidos, os ônibus escolares levam livros diversos que a criançada pega, lê e devolve. O hábito se faz de criança. Luiz Amorim abasteceu as paradas de ônibus de Brasília com livros doados e os carroceiros pegaram para vender por peso. Depois de uma conversa, eles passaram a respeitar o projeto.

Foto: Joel Rodrigues/Agência Brasília

 

QI

Um paredão de gente importante resolveu enfrentar quem tem feito de tudo para acabar com as nascentes do ParkWay e outras áreas do DF. Nessa altura dos acontecimentos, é preciso que nossas autoridades percebam que Brasília não sobreviverá sem as nascentes que circundam a capital. Nosso lago é artificial. É uma questão de inteligência e respeito pela cidade.

Foto: chicosantanna.wordpress.com

 

História de Brasília

O lado leste do Eixo Rodoviário Sul está tremendamente prejudicado em suas construções. Várias autarquias entregaram seus prédios a firmas que já requereram concordata, e nenhuma providência foi tomada para a substituição dos empreiteiros. (Publicada em 01.03.1962)

Samba ou Réquiem

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Charge do Cazo

 

          Se, no século passado, era a saúva o inseto apontado como uma verdadeira ameaça ao Brasil, hoje esse posto ganhou novos protagonistas, seres de uma espécie muito mais evoluída e cujos estragos à existência do país e da nação se elevam a um altíssimo nível, impossível de calcular. A situação adquiriu um tal grau de emergência e periculosidade que hoje é possível afirmar, parafraseando Saint-Hilaire em 1800: Ou o Brasil acaba com o crime organizado e suas vertentes, ou esses grupos acabarão com o Brasil.

          Vivemos uma situação limite, na qual o ponto de inflexão está dado, quando se verifica que o crime organizado está estendendo seus braços para dentro do Estado, ocupando posições estratégicas, ameaçando instituições e, com isso, ganhando um novo status e poder, substituindo a antiga sandália havaiana branca com bermuda pelo terno de corte italiano de colarinho branco.

         Têm sido cada vez mais frequentes os noticiários, em todo o país, dando conta do espraiamento do crime organizado para dentro de empresas municipais e de prestação de serviços públicos, de onde lava o dinheiro do crime e ainda ganha posição de pressão sobre os governos locais.

         Em outra vertente, os criminosos, agrupados em organizações cada vez mais profissionais, bem estruturadas e com protocolos sofisticados, passaram a controlar vastas áreas dentro da cidade, onde a população é ameaçada e pressionada a votar apenas nos candidatos apontados por esses marginais, ao mesmo tempo em que proíbem a campanha de outros políticos.

         Fazer campanha pela moralização do Estado, com combate ao crime e outras propostas éticas dentro dessas comunidades, é assinar um decreto de morte. Os prefeitos e vereadores dessas localidades dominadas são acompanhados de perto e, não raro, só adotam medidas com a benção desses bandidos. Ao estender seu domínio sobre o Legislativo local, como parece estar acontecendo agora na Assembleia de São Paulo, onde um deputado é acusado de colaborar com o crime organizado, as novas gerações desses chefes do crime aprenderão que é, dentro da máquina do Estado, que estão as maiores oportunidades de enriquecimento. Nessa posição, os meliantes, cujas candidaturas foram financiadas pelo dinheiro dessas organizações, adquirem a prerrogativa do foro, que lhes fornecem a blindagem necessária para roubar em paz, longe das bisbilhotices da lei.

         É preciso atentar que o crescimento dessas organizações só foi possível graças a fatores como o aumento da corrupção no meio policial, da leniência da Justiça, da frouxidão das leis e do pouco empenho das autoridades, desanimadas com a tarefa de enxugar gelo. De todos esses fatores, que favorecem o crescimento dessas organizações criminosas e sua infiltração no Estado, nenhum outro tem sido mais importante do que a própria corrupção política, entranhada em nosso país, desde seu nascimento.

         A corrupção política e sua contrapartida, a impunidade generalizada, têm sido, nesses últimos anos, o principal incentivo e modelo que os criminosos passaram a incorporar, para ter uma verdadeira vida de foras da lei, sem serem importunados pela lei. Como diz a letra do samba “Homenagem ao malandro”, de Chico Buarque: “Agora já não é normal/O que dá de malandro regular, profissional/Malandro com aparato de malandro oficial/Malandro candidato a malandro federal/Malandro com retrato na coluna social/Malandro com contrato, com gravata e capital/Que nunca se dá mal…” Lirismo à parte, a situação atual não dá enredo para samba. No máximo, ajuda a compor o réquiem de uma nação.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Educar com marxismo é como amamentar com álcool.”

Armando Ribas, cubano.

Armando Ribas. Foto: OnCubaNews

 

Inovação

Chega à Brasília, no dia 21 deste mês, um evento importante para quem acompanha inovações em tecnologia. O 2° Innova Summit acontecerá até o dia 23, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. Há inscrições e serão gratuitas. Arena Games é a área mais disputada pela meninada. Eduardo Moreira é o idealizador do encontro e presidente do Instituto Conecta Brasil.

 

Desde pequenino

Não são só o maior índice de crimes contra os idosos na cidade que preocupam. O descaso com os mais velhos, desde a infância, mostra, pelo comportamento dos adultos, que a nossa sociedade não valoriza a experiência. No estudo de Silvia Masc, da Universidade de Juiz de Fora, ela afirma que, “na China e no Japão, a velhice é sinônimo de sabedoria e respeito. O fenômeno envelhecer é natural e inerente a toda espécie e tem sido preocupação constante da chamada civilização contemporânea. Os idosos são tratados com respeito e atenção pela vasta experiência acumulada em seus anos de vida.  A família é o Porto Seguro do idoso.”

Autor — Foto: Marcelo Camargo/ABr (valor.globo.com)

 

Participe

Por falar em idosos, Juliana Seidl convida pessoas com 50 anos ou mais que continuam trabalhando a participar de uma pesquisa da professora Lucia de F. P. França. A decisão da aposentadoria é o mote da pesquisa. Acesse o link a seguir.

–> Tomada de Decisão na Aposentadoria sob a Perspectiva Ibero-Latino-Americana

Foto: Getty

 

História de Brasília

Os jardins da W-3, à altura das estações de TV, estão sendo pisados pelo público, que está formando trilhas. Não seria o caso de colocação de cercas porque enfeitaria demais, mas de vigilância da Polícia Florestal. (Publicada em 01.03.1962)

Dois Minotauros

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Charge do Cazo

 

         É bom que os antigos paladinos da justiça, na sua grande maioria composta pelas equipes que fizeram parte da força tarefa da Lava Jato, providenciem, quanto antes, meios de colocarem as barbas de molho, de preferência, por meio da urnas, nessas próximas eleições, elegendo-se para os cargos de deputados, senadores ou seja lá o que for. Importa aqui que eles obtenham algum tipo de prerrogativa de foro ou blindagem política. A outra opção é evadir-se do país, buscando refúgio em outras nações.

         A questão aqui é simples: o já conhecido aparelhamento da Justiça, principalmente nas altas Cortes, ganhará ainda mais fôlego e audácia, com um possível retorno do ex-presidente Lula e de todo o seu bando, conforme vai indicando as pesquisas de opinião.

         Depois de ter feito parceria com o presidente Bolsonaro, onde teria carta branca para agir contra a praga secular da corrupção, o ex-juiz Sérgio Moro, um neófito nas artimanhas da política, abandonou a magistratura e foi varrido pelos ventos da suja política nacional. Caiu numa espécie de desgraça, sendo perseguido pela esquerda e pela direita.

         Do mesmo modo, um a um dos antigos protagonistas da justiça, que atuaram contra os poderosos corruptos, vão sendo colocados na alça da mira de uma Justiça, totalmente descredibilizada e partidarizada. O retorno do demiurgo de Garanhuns promete mais uma saraivada de balas contra os membros dessa antiga força-tarefa. Não há quem possa defendê-los, nem de um lado, nem do outro.

         O Congresso, a quem deveria caber a tarefa de tomar para si o combate à corrupção, há muito já lavou as mãos, uma vez que muitos de seus membros estão atolados em suspeitas nessa e em muitas outras operações da Polícia Federal. O Ministério Público, que foi saudado como a grande esperança de justiça e de correção dos rumos do Estado, depois da redemocratização, não consegue agir em todas as dimensões.

         Mesmo os órgãos de fiscalização das movimentações de dinheiro estão hoje sob domínio das forças políticas, que estenderam seus tentáculos para outras repartições públicas, como o Tribunal de Contas da União e dos estados, todos eles igualmente dominados por grupos políticos. Não apenas não há espaço para a atuação e desempenho da Justiça, como todas as brechas para a realização de operações contra a corrupção foram vedadas.

         A população, que a tudo assiste inerte e sem esperança, nessa altura dos acontecimentos, vai percebendo que as eleições de outubro próximo, pelos caminhos que vão sendo traçados pelos poderosos, tornaram-se um jogo de carta marcada, servindo apenas para selar o destino malfazejo.

         Em outubro, milhões de brasileiros adentrarão cegos para o labirinto, sendo, dessa feita, perseguidos não por um Minotauro, mas por dois desses seres com corpo de homem, cabeça e cauda de touro. Um deles virá pela porta de entrada. O outro pela porta de saída.

 

A frase que foi pronunciada:

“Subjugue seus apetites, meus queridos, e você conquistou a natureza humana.”

Charles Dickens

Charles Dickens

 

Formigas vs Cigarras

No último dia de maio, foi publicado, no Diário Oficial do DF, pela Secretaria Executiva das Cidades, uma ratificação de inexigibilidade de licitação de interesse da Administração Regional de Brazlândia. Foram 85 mil reais, não para saneamento básico, mas para o cantor Fernandinho. Cem mil reais, não para reforma de escolas, mas para o cantor Thiago Jhonathan (a grafia é essa mesmo), cinquenta mil reais para Lucas Reis e Thácio, enquanto as quadras de esporte estão aos pedaços, e cento e trinta mil para o É o Tchan, enquanto alunos penam pela falta de transporte público. Caro administrador Marcelo Gonçalves da Cunha, festejar é bom, mas depois de cumpridos os deveres.

 

Caixinha, obrigado

Por iniciativa do TCDF, o GDF vai suspender a reforma da piscina de ondas. Se há intenção de vender para a iniciativa privada, melhor economizar os R$8 milhões do aprimoramento.

Foto: Divulgação

 

Mais que merecido

Márcio Fava tem conseguido adesão dos moradores do Taquari para a instalação do Parque Ecológico na área. A empreitada é urgente, já que falta espaço para lazer e socialização. Outra importância do parque é a mesma de todos os parques nessa cidade. Conter invasões e a gana dos empreiteiros. Já são 22 anos de espera para que o projeto saia do papel.

Imagem: taquari.org

 

História de Brasília

Eu ia passando ontem em frente à Escola Parque, e vi uma fila enorme de camelôs, bem organizados, com banquinhas em carrinhos com rodas de bicicletas. (Publicada em 01.03.1962)

Fingindo-se de morta para sobreviver

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Charge do Genildo

              Credibilidade é todo o capital que uma instituição necessita tanto para exercer com eficiência seu mister, como para ganhar a confiança e aprovação daqueles que buscam seus serviços. Sem essa qualidade, nada pode ser levado adiante. No caso das instituições públicas, essa é uma virtude fundamental, que uma vez perdida, dificilmente pode ser recuperada.

             O problema com a perda de credibilidade de algumas, ou de boa parte das instituições do Estado, é que isso não fica restrito apenas no âmbito da avaliação da sociedade, sendo que seus efeitos deletérios acabam se estendendo e ganhando terreno, contaminando toda a máquina pública, prejudicando o cidadão e, por tabela, gerando crises que, de uma forma ou de outra, acabam afetando a qualidade da própria democracia.

            Por essa visão, fica explícito que democracia e credibilidade são irmãs siamesas. Onde uma está, está também a outra. No caso do Brasil, em particular, esse é talvez um dos maiores problemas a afetar a qualidade do nosso almejado regime político. A população em geral não deposita confiança nos homens públicos e na maioria dos que estão à frente das instituições em nosso país. Diversas pesquisas de opinião comprovam a perda de confiança da população não apenas com relação às instituições, mas com relação também aos três Poderes da República.

            No ano passado, segundo pesquisa realizada pelo Datafolha, cerca de 50% dos entrevistados diziam não confiar no desempenho da Presidência da República. A mesma baixíssima avaliação era apontada com relação ao Legislativo e ao Judiciário. Até mesmo o Ministério Público entrou nessa lista, considerado como instituição que goza de pouca ou quase nenhuma confiança por parte dos brasileiros.

            Reparem aqui que confiança e credibilidade são sinônimos diretos, sendo que a perda de uma ou de outra traz prejuízos incalculáveis para a população, afetando de modo drástico a vida de todos, criando um fosso irreparável entre a nação, de quem, segundo o artigo 1º da Constituição, “todo poder emana”, e o establishment. É na perda de credibilidade das instituições que está o nascedouro das desigualdades, do qual somos campeões mundiais. “O país real, esse é bom, revela os melhores instintos; mas o país oficial, esse é caricato e burlesco”, já afirmava o escritor Machado de Assis, em 1861.

            De lá para cá, e no sentido contrário do que induz a evolução e o progresso, esse modelo perverso ganhou ainda mais ímpeto e maiores proporções, ao ponto de hoje estarmos diante de uma situação anômala, em que a população se vê forçada a trabalhar, de modo compulsório, para sustentar todo esse edifício em ruínas e sem credibilidade, recebendo em troca as migalhas que caem das mesas fartas.

             Não causa espanto que todas as pesquisas de opinião pública acabam por apontar os partidos políticos com os maiores índices de desconfiança ou credibilidade. Em 2021, ainda segundo o Datafolha, 61% dos ouvidos disseram não confiar nas legendas. Também o Congresso Nacional é visto com desconfiança por 49% da população. O Judiciário alcançou, em 2021, 31% de desconfiança dos brasileiros. Melhor avaliação ficou com as Forças Armadas, que conta com 76% de confiança por parte da população. A questão aqui é saber que nação pode almejar algum futuro ou melhora nos índices de desenvolvimento humano, quando seus cidadãos torcem o nariz para suas instituições, porque reconhecem a pouca credibilidade que possuem?

            Essa perda paulatina de credibilidade interna provoca estragos também fora do país, forçando o Brasil a ir se afastando de outras nações desenvolvidas do planeta. Sobretudo no quesito combate à corrupção. A impunidade, que a população reconhece que vigora para as elites, juntamente com os mecanismos que tornam a classe dirigente blindada aos rigores da lei, tem sido um fator a catalisar fortemente a desconfiança da população em suas instituições.

            Os ricos e poderosos estão totalmente não apenas imunes às leis, como recebem proteção e prioridades nas altas Cortes. Há quase mil dias, repousa, nos labirintos infinitos do Congresso, o projeto de condenação já em segunda instância, o que coloca nosso país numa posição sui generis perante os 194 países que fazem parte da ONU. Aproveitando essa brecha, que veio a calhar, o Supremo tem livrado da cadeia os maiores corruptos deste país, gente que desviou bilhões de reais e nem por isso perdeu seus direitos políticos.

             São benefícios a atingir apenas os poderosos, que podem, com o dinheiro que roubaram, pagar os mais caros escritórios de advocacia deste país. O desmanche da Operação Lava Jato e a colocação do ex-presidiário para disputar o mais alto cargo da administração pública falam por si e traduzem o trabalho hercúleo que as altas Cortes vêm fazendo para tornar a corrupção, nas altas esferas, crimes eleitorais de menor importância.

             Leis como a Ficha Limpa, que a população chegou a creditar um dia, que teria vindo para impedir que verdadeiros delinquentes ocupassem cargos públicos, foram estraçalhadas, o mesmo acontecendo com a Lei de Improbidade Administrativa. Na percepção da população, há todo um arcabouço meticulosamente engendrado para que os três Poderes mantenham o status quo de intocáveis, fora do alcance, inclusive, da própria Constituição. É o Brasil oficial ou perniciosamente oficioso e que medra como erva daninha, dilapidando o país por dentro. O mais espantoso em todo esse processo de dilaceração do Estado é que, nesses últimos cinco séculos, a população vem conseguido sobreviver, aos trancos e barrancos, mesmo a despeito de suas instituições e, apesar delas, de suas tiranias.

            Não surpreende sermos considerados uma nação ímpar que, há séculos, vive num autêntico sistema anárquico de governo. De fato, o povo não confia, mas também não aposta um níquel furado em suas instituições, preferindo viver à parte, porque sabe que essa é a melhor receita para sobreviver num país desigual e injusto. A fórmula é simples: fingir-se de morta.

A frase que foi pronunciada:

“Quando estamos fora, o Brasil dói na alma; quando estamos dentro, dói na pele.”

Stanislaw Ponte Preta

Stanislaw Ponte Preta. Foto: reprodução

 

História de Brasília

Para que depois ninguém venha por a culpa em ninguém, o aumento foi autorizado pelo Conselho Nacional do Petróleo, que cedeu, assim, à pressão do Sindicato dos Distribuidores de Gás Engarrafado no Brasil. (Publicada em 01.03.1962)

O status que importa

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Congresso Nacional durante a votação dos vetos presidenciais 03/03/2020 Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

 

         Junto com o fenômeno nefasto da hipertrofia dos partidos políticos, todos eles super vitaminados com os bilhões de reais dos cofres públicos, nada mais natural que, com essa metástase, verdadeiro carcinoma no tecido institucional do país, surgisse também a figura da partidocracia, em que as legendas vão assenhoreando-se do poder, sem cerimônia alguma, contaminando a democracia com uma nova roupagem que nada mais é do que a própria ditadura, erigida por outros meios e que prescindem de canhões e outros equipamentos bélicos.

         A reforçar essa desnaturalização da democracia, infectada por dentro, estão os tribunais eleitorais, todos eles uma excrescência jurídica, semelhante aos tribunais militares, aos tribunais de contas do estado e outras instituições erguidas apenas para o gaudio de burocratas com a finalidade de infernizar a vida dos cidadãos.

         Sem uma reforma política e administrativa séria, que viesse pôr um fim nessas sinecuras a onerar os contribuintes, as eleições vão se transformando naquilo que elas possuem de essência, que é a perpetuação dessa gigantesca e inoperosa máquina do Estado. É justamente com as eleições, feitas nesses moldes em que ditam os partidos e seus caciques, que todo esse arcabouço vai se estendendo no tempo, atando o país num burocratismo estatal que em nada se diferencia do antigo Brasil Colônia.

           Com isso, fica fácil deduzir que as eleições, a despeito da polarização e das brigas fratricidas que ocorrem e que podem recrudescer ainda mais, nada mudarão para os cidadãos, permanecendo o mesmo aparato estatal inerte, em que o estado, perdulário e indiferente às necessidades reais da população, usa e abusa da nação, quer por meio de uma carga tributária, que é uma das maiores do planeta, quer por intermédio de leis que blindam o estamento e as elites no poder, fazendo do povo apenas um gerador de riquezas, pronto a alimentar todo esse Leviatã que não para de ganhar estatura. A dicotomia que faz do Brasil um país rico, povoado por uma população pobre, tem, nesse modelo cruel, seu nascedouro e prolongamento no tempo.

         Portanto, não é de se estranhar que praticamente inexiste, entre nós, a figura de um político ou alto burocrata que tenha permanecido com o mesmo patrimônio depois de sair do poder. A escassez, e mesmo a quase inexistência de verdadeiros homens públicos entre nós, é o que nos diferencia do restante dos países desenvolvidos.

         O pior nessa paisagem desolada e sofrida é que todo esse quadro, que antes tinham como personagens apenas os áulicos do Executivo e Legislativo, hoje vai sendo povoado também pelas figuras das altas corte, todos eles irmanados nesse projeto de manter o subdesenvolvimento do país. Assim, o que temos de fato, é que nenhuma eleição, dentro desse modelo perverso será capaz de mudar.

          É uma elite de sibaritas, muito bem instalada nos píncaros do poder, imbuída de comandar os destinos do país de acordo com suas próprias regras, disposta a permanecer, a qualquer custo, onde estão e, para isso, comandam todo um circo de pantomimas, iludindo os eleitores com as prestidigitações bem orquestradas, que virão em outubro próximo. Não é por outra razão que dizem: o status que importa é o status quo.

 

 

A frase que foi pronunciada:   

“A inteligência não basta ao que aspira dirigir homens. Se à inteligência não se alia o caráter, o condutor de alma frágil baqueia na jornada.”

Assis Chateaubriand

Assis Chateaubriand Bandeira de Mello. Foto: Agência Nacional

 

Protocolo

Farmácias da capital têm tido dificuldades em manter o estoque de antibióticos infantis. Seria um facilitador para os pais se os pediatras colocassem, pelo menos, duas alternativas de medicamento nas receitas.

Foto: Jhonatan Vieira/Esp. CB/D.A Press

 

Contra a lei

Mais uma armadilha da Nestlé. Depois do “composto lácteo” em embalagem idêntica à embalagem do leite Ninho, agora a “mistura láctea condensada” ganha a embalagem similar do Leite Condensado. Mesmo que a lei diga que induzir alguém ao erro e obter vantagem sobre a situação seja crime (artigo 171 do Código Penal Brasileiro), as novidades continuam tomando conta das prateleiras dos mercados.

 

Pesquisas

Hoje é possível avaliar a importância de se regular a divulgação das pesquisas eleitorais. Um leitor estranhou o ibope de Lula em relação a Bolsonaro na pesquisa do Ipec. Se o ex-presidente não consegue nem passear mais nas feiras, que resultado é esse? Indagou. Os dados estão absolutamente corretos. Só que poucos meios de comunicação divulgaram que a entrevista foi feita com apenas 1.008 pessoas. Veja tudo sobre essa pesquisa nos links a seguir.

–> Consulta às pesquisas registradas

–> Visualizar Pesquisa Eleitoral

Charge do Ivan Cabral

 

História de Brasília

Um bujão de gás, de 13 quilos, que custava 590 cruzeiros, está custando, agora, 712 cruzeiros sendo êste o maior aumento verificado nestes últimos tempos. (Publicada em 01.03.1962)

É ou não é?

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Charge do Cazo

 

         Nunca, em tempo algum, o Brasil, como o resto do mundo, teve tanta necessidade de conhecer ou até mesmo se aproximar da poderosa luz da verdade. O que nos parece, nesses tempos de niilismo extremado e de uma distopia generalizada, é que nos aproximamos do que muitos acreditam ser a chegada de um apocalipse bíblico. Vivemos um período muito peculiar, intensificado pela passagem simultânea de século e de milênio. De fato, o século XXI teve sua inauguração no folhetim das ações humanas, com os ataques às Torres Gêmeas em Nova Iorque, no dia 11 de setembro de 2001, numa espécie de revival anacrônico das antigas cruzadas.

         Nada do que acontece hoje deve ser deixado de lado, sob pena de virmos a nos arrepender depois. Pudéssemos ouvir o que conversam em particular, no recato do lar ou entre amigos de longa data, as autoridades e as elites deste país, por certo, a maioria seria banida da vida pública ou presa e linchada em praça pública. Repetia o filósofo de Mondubim: In vino veritas, querendo, com isso, confirmar que, sob o efeito embriagador dessa bebida, o cérebro entorpecido pelas musas do álcool faz com que as travas na língua e a prudência verbal deixem de existir, despindo o indivíduo de suas máscaras diárias.

         A verdade vale por sua conveniência de momento. Os ministros do Supremo Tribunal Federal não tiveram receio ou pudor em usar as escutas telefônicas, feitas de modo ilegal, para ouvir as conversas entre o juiz Sérgio Moro e os procuradores, conversas essas totalmente normais entre envolvidos num caso tão rumoroso e delicado como foi a Lava Jato, apenas para encontrar filigranas jurídicas por onde enveredaram seus pareceres para libertarem os padrinhos poderosos.

         Nesse caso, as mentiras não estavam nos diálogos ouvidos, mas sim nas manobras por onde obtiveram a desculpa para anular a custosa operação. A verdade, assim como sua antípoda, a mentira, pode conduzir, sobre suas costas, a carga da conveniência ou seu oposto, de acordo com interesses de cada grupo e em certas ocasiões. Assim é que, em nosso tempo, em que vamos erguendo essa Torre de Babel moderna, verdade e mentira se misturam ao gosto do freguês, criando o que já chamam de pós-verdade. São as chamadas mentiras sinceras ou verdades fictícias, tudo muito bem ajeitado e amarrado, dentro do embrulho que passou a ser conhecido como a meta-verdade, dentro desse mundo virtual em que vamos nos enfiando até o pescoço.

         O trabalho em desembaraçar o ex-presidiário Lula das amarras da Justiça, depois de um caminhão de provas, confissões de cúmplices e devolução real de grandes somas de dinheiro, é um exemplo dessa pós-verdade, construída dentro desse mundo virtual de aparências, onde o verdadeiro e o falso ganham mesmo protagonismo e roupagem, transformando o que é em o que não é.

         Assim como a coragem humana, a verdade vai se exilando para longe e hoje são raros os exemplos daqueles que defendem e lutam pela luz da verdade, já que a maioria prefere repousar sob a sombra da mentira. Não fosse por essas nuances singelas entre os padrões modernos a classificar verdade e mentira, pouco ou nada haveria o que comentar. Ocorre é que existe, exatamente entre essas tênues variações, todo um conjunto de realidades que vai afetando nosso cotidiano, colocando-nos num mundo de incertezas e dúvidas, em que os honestos e éticos vão se assemelhando aos criminosos, sendo as virtudes iguais aos vícios, com o homem de bem se envergonhando de seu comportamento, considerado hoje conservador e ultrapassado.

          Mesmo o combate às chamadas fakenews e sua coirmã representada pelo controle da mídia, defendido justamente pela alma mais mentirosa deste país e seu grupo, encastelado nas altas cortes, entram nesse “novilíssimo” processo de falsa purificação, não por uma busca e sede de verdade, mas por estratégias políticas que visam manter essa confusão em que as línguas foram costuradas com arames e ninguém já não se entende. O fato é que, ao acenderem as luzes sobre as leis, haverá de ficar claro, para todos, que não se faz e não se opera justiça alguma sobre um mar de mentiras. É ou não é?

A frase que foi pronunciada:

“No Brasil, quem tem ética parece anormal.”

Mário Covas

Mário Covas. Foto: Agência Brasil.

 

Diário de Brasília

Café, leite, pão quente, manteiga e jornal. Era esse o pensamento de Geraldo Vasconcelos quando capitaneou o lançamento do Diário de Brasília, em 1° de Maio de 1972. A notícia vinha com o primeiro alimento da manhã. Para o corpo e para as tomadas de decisão. Veja a foto do jornal a seguir.

Corpo

Participaram, do Diário de Brasília, Antônio Carlos Elizeide Osório, vice-presidente do jornal e primeiro advogado de Brasília; José de Ribamar Oliveira Costa, diretor financeiro; Ivo Borges de Lima, diretor comercial; Oswaldo Almeida Fischer, escritor; Wilson Menezes Pedrosa, diretor de impressão, que foi também diretor da gráfica do Senado; José Carlos Vasconcelos, integrante da equipe da gráfica; Nuevo Baby, redator-chefe; e Maria Julia Ludovico, secretária executiva da diretoria. Também colaboraram os jornalistas José Wilson Ibiapina, Fernando César Mesquita e Paulo Fona.

 

História de Brasília

O governo anunciou há três meses, a diminuição do preço do gás engarrafado. Anunciou certamente sem saber o que estava prometendo, porque veio, agora, um aumento de uma violência sem paradeiro. (Publicada em 01.03.1962)

O Grande Irmão

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Cartaz promocional do filme ‘1984’ com a mensagem “O Grande Irmão está te vigiando” (1956)ALAMY (CORDON PRESS)

 

         Por mais espantoso e surrealista que possa parecer, os ainda cidadãos brasileiros estão, de forma lenta e gradual, aplainando, com as próprias mãos, o terreno para a construção do que pode vir a ser o mais eficaz e moderno Estado ditatorial que se tem notícia. Toda essa distopia vai, a cada dia, ganhando forma e conteúdo, por meio de um mega sistema que vai permeando todo o Estado, contaminando suas instituições, ao mesmo tempo em que prepara todo um arcabouço legal para legitimá-lo, em caso de oposição ou questionamentos.

         Trata-se, aqui, não de uma teoria da conspiração, como alegam seus beneficiários, mas de uma realidade que vai se concretizando a olhos vistos, diante de todos. De um lado, vamos assistindo inertes, o enfeixamento de super poderes nas mãos do Judiciário, com juízes e outros operadores desse Poder, ganhando relevância sobrenatural, operando e interferindo em outras instâncias, legislando e interpretando as leis como bem lhes aprazem, investigando, julgando e punindo, tudo num mesmo pacote, intimidando governadores, prefeitos e até o presidente da República abertamente e, enfim, impondo um clima de medo geral, ameaçando inclusive todos aqueles que ousarem antepor dúvidas sobre seu comportamento. Há aqui uma visível hipertrofia do Judiciário, prejudicial ao que ainda acreditamos ser o Estado Democrático de Direito.

         Um termo pomposo, mas que vai perdendo seu significado real, à medida que os dias passam. Por outro lado, existe ainda uma ameaça tão ou mais sobrenatural para a cidadania vinda justamente de onde se esperava haver uma maior proteção e amparo aos cidadãos. Os ditos representantes da população, com assento no Poder Legislativo, estão, todos eles, por conta de uma atuação estratégica, coordenada e controlada pelos partidos, com o controle absoluto sobre um naco significativo do Orçamento da União, na forma de emendas secretas, tanto de relatoria, como de bancadas ou individuais.

          São dezenas de bilhões de reais, que transitam sem controle, indo diretamente para correligionários, redutos ou currais eleitorais ou para as mãos de amigos, parentes, laranjas e outros grupos, que usam essas verbas para abrir veredas livres para esses parlamentares e para perpetuação desses indivíduos no poder. Nada dessa dinheirama toda, sem carimbo e sem auditoria, é destinada para o benefício de projetos para as populações necessitadas.

          O que se tem aqui é um novo tipo de Orçamento da União sujo, em que o dinheiro do pagador de impostos vai para essa união espúria de grupos parlamentares, que dele fazem o que querem. Nesse verdadeiro oceano de dinheiro em que navegam, os parlamentares contam ainda com os recursos bilionários provenientes dos Fundos Partidários e Eleitorais, todo ele destinado ao enriquecimento de legendas privadas e vazias de conteúdo, para a perpetuação de um sistema viciado em que notórios indivíduos, a maioria com processos cabeludos junto à justiça, permanecem se elegendo, pleito após pleito.

         Leis como improbidade, ficha limpa e outros instrumentos legais, que deveriam trazer alguma proteção e ética à coisa pública, são descartados e sequer mencionados. O que a população parece não ter se dado conta ainda é que está, por meio dos impostos que paga ou que são arrancados pela Receita daqueles que não possuem as blindagens do Estado, financiando a consolidação de um governo e principalmente de um Estado ditatorial, onde a elite política, juntamente com a elite da magistratura, está fechando o cerco em torno dos cidadãos, obrigando-os a custear uma gigantesca máquina burocrática e corrupta, a serviço apenas de um pequeno grupo, que vive naquilo que Machado de Assis denominava, ainda no século XIX, como o Brasil Oficial, longe do que é o Brasil real. É a nossa versão piorada e abrasileirada do Grande Irmão, que bancamos com nosso suor.

 

 

A frase que foi pronunciada:

“Esta é a primeira CPI da história que fecha os olhos para a corrupção.”

Senador Girão sobre estados e municípios que não prestaram contas do que fizeram com o dinheiro público

Senador Girão. Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

 

Inacreditável

Mais uma vez, o consumidor, completamente desamparado, é feito responsável pelas perdas das empresas de turismo durante a pandemia. Amiga que buscou o judiciário, não só não conseguiu o dinheiro de volta da viagem que marcou antes da pandemia, como não pode remarcar o mesmo percurso e ainda teve que pagar os honorários do advogado da parte contrária. A sugestão dada para a nova viagem é diminuir o percurso e pagar quase o dobro do que já pagou. Se isso é justiça, precisamos trocar de dicionário.

 

É mesmo

Recebemos uma pergunta do leitor Davi Yamim e não sabemos responder. Alguém viu uma nota de R$200 por aí?

Imagem: bcb.gov

 

História de Brasília

Não posso mais falar com minha vizinha aí do lado. Ela foi para outra página, enquanto nós registramos, daqui, nosso protesto ao Elton e Adilson. (Publicada em 23.02.1962)

Bancada do paraíso

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Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

 

         Existe uma diferença estelar entre o que é hoje, sob o pseudônimo, “bancada evangélica” e o próprio Evangelho, conforme apresentado no Novo Testamento da Bíblia Cristã. Mesmo quanto ao significado dessa palavra grega, traduzido como “Boa-Nova”, essa distância só poderia ser aferida com a utilização de unidades de medidas astronômicas (au), ainda mais quando se analisa, de perto, o real significado e o que é, e pretende, de fato, essa bancada, organizada sob a falsa pele do evangelismo.

        De boa-nova, já se sabe, nada trazem de bom e que possa ser aproveitado pelo eleitor, mesmo aqueles cujo fanatismo turva a visão e a razão. Trata-se aqui de uma bancada que, à semelhança das bancadas do boi e da bala, é organizada apenas para somar forças e, com isso, garantir o máximo possível de vantagens para cada um, isoladamente, e para seus nichos específicos, dentro da autêntica e velha máxima do “toma lá, dá cá”. Não há boa-nova possível em práticas velhas, assim como não é prático colocar-se remendo novo sobre tecido velho. Ainda que fôssemos imaginar que a formação de uma bancada dessa natureza obedeceria às regras do jogo que é jogado no Legislativo, ainda assim estaríamos diante de uma aberração e negação do que seria uma boa-nova.

        Quando se trata de um jogo viciado, recorrente dentro do parlamento, em que as boas práticas da ética são postas de lado, e quando o próprio sentido de República é, seguidamente, conspurcado em benefício de um individualismo tacanho, não há alcunha possível capaz de nomear qualquer grupo político, muito menos com o carimbo de evangélico. O que se tem aqui é o mais puro “Homo Homini Lupus”, numa briga feroz e em que, ao cidadão, caberá o que cair da mesa do banquete.

        A questão curiosa aqui é porque o cidadão e eleitor jamais foi brindado com a formação da bancada da ética ou a bancada dos princípios republicanos. Ou mesmo com a criação da bancada da lei, dos fins dos privilégios e outras do gênero, que viessem impor o mais básico dos princípios: o povo paga e manda. Não surpreende, pois, que, como ocorrem com outras bancadas de pressão política, os escândalos se sucedem nesse nicho evangélico, como numa rotina monótona e pachorrenta do cotidiano.

A separação entre Igreja e Estado, princípio básico do modelo republicano e dos direitos humanos fundamentais, é relegado a terceiro plano, quando forças políticas, camufladas de religiosos, passam a interferir no ordenamento do Estado, exercendo pressão negativa para renúncias de impostos, para a indicação de membros dessa e daquela igreja para ocuparem cargos dentro dos Três Poderes e outras estratégias que, na visão do idealizador, viria a ser o cristianismo, pertenceria apenas aos césares e àqueles que encontraram, nas benesses e mordomias do Estado, o céu ou o paraíso.

        O escândalo do momento, envolvendo o atual ministro da educação e um grupo de evangélicos que, supostamente, estariam sendo favorecidos com o orçamento bilionário dessa pasta, é apenas a ponta menor e visível de um gigantesco iceberg a remover o leito do oceano e a mistura, o que é de Deus e o que não é.

 

A frase que foi pronunciada:

De todos os homens maus, os homens maus religiosos são os piores.”

C.S. Lewis

O escritor britânico C.S. Lewis, em 1950 John Chillingworth/Picture Post/Getty Images

Personalidade

Muita gente não sabe, mas a mãe do jornalista Chico Sant’Anna foi uma das primeiras professoras na Casa Thomas Jefferson em Brasília. Norma Corrêa Meyer Sant’Anna, conhecida como Mrs. Sant’Anna. Depois lecionou inglês no Gila-Ginásio do Lago, francês na Aliança Francesa e português na Escola Americana. Chegou em Brasília em abril de 58 com os 4 filhos. Chico Sant’Anna tinha 6 meses de vida

Ela está sentada no banco de trás. O local é o canteiro de obra da SQS 106. O fotógrafo, Cláudio Sant’Anna

Eleições, nada mais

Mais uma vez, os donos das mídias sociais atacam. Para empresários e em vários seguimentos de trabalho, a lista de transmissão no WhatsApp facilitava a comunicação. Agora, com a atualização, foi extinta. Parece que nada mudará esse ano.

Imagem: techtudo.com

Furos X Furadas

Em 28 de setembro, nas últimas eleições, o mais conhecido instituto de pesquisa paulista apontou a vantagem de Haddad: 45% para o petista, contra 39% de Bolsonaro. A Dilma seria senadora, João Doria iria para segundo turno, Zema estava na lanterna. É sempre bom voltar ao passado apenas para estudar.

Charge do Sinfrônio

Empoderamento

Dentro das iniciativas de valores femininos, está o Festival de Filmes de Mulheres. Para quem se inscreve na página, as opções são variadas. Veja na página: https://womensfilmfest.com/.

História de Brasília

O deputado Raul Pilla acusa o sr. João Goulart pelo não funcionamento do regime. Ora, se um homem pode atrapalhar um regime, é mais fácil o regime não prestar, que o homem. (Publicada em 20.02.1962)