Sucupira é aqui

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

Facebook.com/vistolidoeouvido

 

Foto: José Cruz/Agência Brasil

 

           Estivesse vivo hoje, por certo, o dramaturgo Dias Gomes (1922-1999) ficaria espantado com a verossimilhança entre sua peça “Odorico, O Bem-Amado”, de 1960, e o que ocorre atualmente na cena política do país neste ano do nosso Senhor de 2022. É a realidade imitando a ficção e elevando a imaginação aos píncaros da criatividade. De fato, o Brasil é hoje uma imensa Sucupira, local fictício onde se desenrola a trama. Na verdade, desde sempre, o Brasil, pelas próprios personagens e lideranças políticas caricatas, é um país onde a realidade e ficção sempre andaram de mãos dadas. Tanto que é difícil saber, ao certo, onde começa uma e termina outra.
           Certo também é que, no atual contexto político, fica fácil saber a quem melhor encarnaria o personagem de Odorico Paraguaçu, por seu histrionismo e por suas falas amalucadas, cheias de nonsense. Na ficção, Odorico é o prefeito de Sucupira, retratado como um político corrupto, demagogo e que ilude a inocente população local com seus discursos verborrágicos, repletos de neologismos e de ameaças mirabolantes. Odorico é um ufanista, defensor do nepotismo e, na peça, acredita, com segurança, que irá resolver todos os problemas locais de sua administração, como os problemas centrais do planeta, através de medidas como a exportação do azeite de Dendê. “Vamos temperar o Brasil com azeite de Dendê e, prafrentemente, vamos temperar o mundo e o mundo vai se curvar ante o Brasil, ao provar do nosso Acarajé, do Vatapá e do nosso Caruru. Vamos acarajeizar a América, vamos vatapazar a Europa. Para esse meu coração verde amarelecido, que nada de braçada no mar das ufanias, mormentemente considerando que isso representa mais divisas para nosso país, o equilibrismo de nossa balança de pagamentos e quiçá, a salvação da nossa mui amada e afazmente individada pátria.”
           Vivêssemos na terra do nunca, onde até a maldade é de mentirinha, esse seria um discurso apenas hilário. Mas a realidade não tem graça alguma e torna-se até ameaçadora, quando vemos esse tipo de político, milagrosamente ainda aceito pela população iletrada, brandir suas promessas agourentas, cheias de maus presságios.
          Com relação ao petróleo, nada mais atual do que o discurso de Odorico: “Para o problema do petróleo, eu já criei a Petropira, que é para explorar o petróleo de Sucupira, emboramente esses retaguardistas, esses retogradistas, corugistas, digam que não existe petróleo em Sucupira. Mas nós vamos assinar um contrato de risco com a Petrobras, desses em que o risco é todo dela e o petróleo é todo nosso.” Nada mais semelhante ao que escutamos hoje.
          Quando perguntado sobre a posição política desse gênio da raça, filho legítimo do cabrestismo ou voto de cabresto, a resposta é de uma atualidade ímpar: “eu sou partidário da democradura e que bota os pés no hoje com os olhos no depois de amanhã.” Qualquer semelhança é pura coincidência!
          Para que tão nobre e impoluto personagem prossiga sem atropelos em sua caminhada, agora na vida real, levando à frente toda essa farsa sociopolítico-patológica, como definia o próprio Dias Gomes, é que o Tribunal Superior Eleitoral, na figura de seu comandante, mandou censurar, severamente, todas as críticas que porventura venham a ser feitas a esse político de passado ruinoso. É a justiça tentando reescrever a realidade, dando cores fantasiosas aos fatos, numa autêntica medida “marronzista” e “badernenta”. É a história entrando para os anais e menstruais desse país surreal.
A frase que foi pronunciada:
“Vai ter uma confabulância político-sigilista sobre as nossas candidaturas”
Odorico Paraguaçu
Odorico Paraguaçu. Foto: Acervo TV Globo
Contra a lei
Ligações não reconhecidas, cobrança de portabilidade indevida, cobrança de serviço cancelado, propaganda enganosa, telefones fixos sem funcionamento. A população, que teria uma agência nacional para protege-la, está completamente abandonada. A OI, por exemplo, que traz na conta a informação que está em recuperação judicial, não disponibiliza um número que funcione para receber as ligações dos clientes que reclamam sobre os telefones fixos, que não funcionam mais. Basta dar uma volta pelo Reclame aqui. Não há interesse nem em responder os registros no site.
Imagem: SOPA Images/Getty Images
Contra o edital
Uma lástima alguns concursos oferecidos pelo GDF. É preciso considerar o Edital durante a contratação. As vagas disponíveis não são preenchidas pelos cargos oferecidos. O resultado é que o proponente assume o trabalho e, por ter um novo emprego, não reclama. Na realidade, a insatisfação pessoal é nítida quando se empenha dois anos de estudos para não ser o que estudou para ser.
Foto: Divulgação/Sejus
Contra o orçamento
Pelo menos os milhões tirados dos contribuintes e usados para a construção do Buritinga serviram para nortear alguns endereços: “próximo ao Buritinga, retornando o Buritinga.” No mais, está inservível e abandonado.
Centro Administrativo do governo do Distrito Federal, em Taguatinga — Foto: Isabella Calzolari/G1
História de Brasília
Quando surgirem os primeiros casos de polio em Brasília, aí então o ministro Souto Maior sairá em campo, correndo, para trazer vacinas Sabin para o Distrito Federal. Criminoso abandono. (Publicada em 11.03.1962)
It's only fair to share...Share on Facebook
Facebook
Share on Google+
Google+
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin