VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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A história não perdoa os que dormem enquanto o tempo corre. O Brasil, em suas últimas quatro décadas, parece ter cochilado no banco do passageiro enquanto outras nações aceleravam na estrada do desenvolvimento. Enquanto o mundo engatava marcha rumo ao crescimento com médias globais beirando os 117%, o Brasil avançava um tímido 45%, como quem tem pressa, mas tropeça nos próprios sapatos. Países como o Chile, por exemplo, avançaram quase 200% no mesmo período. Não se trata apenas de perder velocidade, mas de perder o rumo.
Tornamo-nos espectadores da própria estagnação. Em 1980, ocupávamos a 48ª posição no ranking de PIB per capita (em paridade de poder de compra) do FMI. Quarenta e cinco anos depois, caímos para a 87ª colocação. Um declínio silencioso, quase imperceptível no dia a dia da população, mas gritante, quando se observam os números. Em 1985, nosso PIB per capita (PPP) era de cerca de US$ 5.890. Em 2019, alcançamos US$ 25.150. Um aumento que parece expressivo à primeira vista, mas que empalidece diante da performance dos países da OCDE.
Enquanto isso, o Chile, que nos seguia de longe no século passado, ultrapassou-nos com folga. Seu PIB per capita (PPP), que era de US$ 3.412 em 1980, saltou para quase US$ 15 mil. Um crescimento de 339%, ante 327% do Brasil. A diferença? Menos retórica, mais ação. Menos Estado interventor, mais liberdade econômica. A Venezuela, por outro lado, serve como espelho sombrio: uma queda de mais de 68% no mesmo indicador, lembrando-nos de que o retrocesso não é apenas possível, é provável quando se insiste em fórmulas falidas.
No Brasil, o Estado continua crescendo em peso, mas não em eficiência. Nossa dívida pública, entre 2024 e 2025, oscilou entre 76% e 83% do PIB, uma das maiores da América Latina, cuja média ronda os 54%. A isso se soma a carga tributária elevada para quem paga, ineficaz para quem administra. Embora o índice geral tenha ficado em torno de 14,7% em 2022, a informalidade distorce a realidade. Para a classe média formalizada, o peso é sufocante. Os juros, por sua vez, orbitam em torno de 15%, consumindo 7 a 8% do PIB apenas com o serviço da dívida. Essa engrenagem emperrada transforma o Brasil em um país que trabalha muito para entregar pouco.
Ainda assim, insiste-se em políticas que acentuam o controle estatal, inibem a produtividade e desestimulam o investimento privado. A abertura comercial segue tímida, quase envergonhada, enquanto as reformas estruturais, tributária, previdenciária, administrativa, parecem eternamente proteladas. A hesitação custa caro: o capital foge, o emprego esmorece, a confiança desaba. E o país? Este continua correndo no mesmo lugar, como hamster em roda enferrujada.
A retórica de que “o Estado deve cuidar de tudo” perdeu fôlego até mesmo entre os países que a inventaram. Mas aqui, ressurge com sotaque populista, embalado por promessas que desconsideram a matemática e o tempo. O resultado é um ciclo vicioso: mais impostos para cobrir mais gastos, menos crescimento, mais dívida, menos liberdade econômica. Um país sufocado sob o peso de sua própria estrutura.
A projeção para 2025 é desalentadora. Com PIB per capita nominal estimado em US$ 11.200, estamos abaixo da média mundial (US$ 14.200). Não é apenas uma questão de número — é uma questão de destino. Não crescemos o suficiente sequer para manter nossa posição relativa no mundo. O risco não está apenas na estagnação, mas no retrocesso, como alertam os economistas e como ilustram nossos vizinhos bolivarianos.
Repetem-se discursos sobre “desigualdade”, “justiça social” e “redistribuição de renda”. Mas sem crescimento, não há o que redistribuir. Sem produtividade, não há riqueza a ser compartilhada. Sem eficiência, o Estado torna-se um buraco negro que suga recursos, esperança e tempo. A equação não fecha.
Há saídas, sim. Mas elas exigem coragem, visão de longo prazo e compromisso com o futuro, não só com a próxima eleição. Reverter essa trajetória exige reformas estruturais, responsabilidade fiscal, estímulo à competitividade e desburocratização real da economia. Não é ideologia. É sobrevivência.
O país que quer ser protagonista no século XXI precisa abandonar os vícios do século XX. Não há como construir o futuro com ferramentas do passado. O bonde do desenvolvimento pode até ter partido, mas ainda é possível correr atrás dele, desde que paremos de discutir quem puxa o freio.
A frase que foi pronunciada:
”O erro dos Países emergentes é pensarem que o seu desenvolvimento reside nos programas dos seus Governos, quando na verdade o progresso comunitário e a educação cívica coletiva são determinantes para o progresso social, político e econômico de uma Nação.”
Edgar Fonseca

História de Brasília
A Universidade de Brasília solicitou ao IAPI e êste à Novacap para que sejam abertas fossas “provisórias” para os blocos 4 e 7 da superquadra 305. Nada mais absurdo. Ou muda tudo ou não deve haver privilégio em detrimento de outros. (Publicada em 08.05.1962)





