VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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A linguagem é um poderoso instrumento de construção de significados, de interação entre os humanos e de construção de ideias. Sem ela, o desenvolvimento da sociedade e todo o progresso que conhecemos na história da humanidade seria outro, talvez menos brilhante e bem mais lento. Educação, cultura de toda uma diversidade de saberes nascem e fluem por intermédio da linguagem. Sócrates foi o mestre da linguagem e da palavra. Toda a sua obra se baseia no uso da palavra, pois enxergava que, por meio da linguagem, era possível alcançar a verdade. Dizia ele: “fala para que eu te veja”. Pelo uso e prática da maiêutica, questionava incansavelmente seu interlocutor na longa estrada em busca do conhecimento que leva a verdade. Parir a verdade, eis a técnica do grande filósofo. Também a psicanálise se baseia na maiêutica, pois busca trazer à tona o que está guardado no inconsciente, buscando aqui a cura pela fala. Desde cedo, ficou patente o poder de conduzir os homens pela força da linguagem e da palavra.
Os políticos, os clérigos e todos aqueles que estavam acima e à frente das populações souberam usá-las para seus propósitos. Com isso, a linguagem foi usada tanto para iniciar guerras como para proclamar a paz, para trazer o progresso e para deixar ruínas. Se, portanto, a palavra nasce das ideias, é nesse campo que todos aqueles que buscam dominar o homem querem influir. Ao tornar o homem um ser desprovido de ideias próprias, estamos conduzindo-o para um lugar onde podemos melhor controlá-lo. A linguagem liberta e aprisiona. Nos regimes totalitários, caçar o direito a voz e a linguagem tem sido a primeira medida dos tiranos. Garcia Lorca (1898-1936), o mais importante poeta espanhol durante a guerra civil, dizia: “o mais terrível dos sentimentos é o sentimento de ter a esperança perdida”, pois, para ele “ há coisas encerradas dentro dos muros que, se saíssem de repente para a rua e gritassem, encheriam o mundo”. Apenas por utilizar o poder da linguagem, acabou fuzilado pelas forças de fascistas de Franco, sendo os seus restos mortais escondidos até hoje.
O perigo que o poder da linguagem possui quando gestada por uma mente desse calibre, tornara-o uma arma letal contra o regime e a opressão. O lado das sombras também sabia do poder da linguagem e usava-a sem cerimônias por meio de uma propaganda massiva a incutir o medo e a renúncia à fala. Neste contexto, nada mais velho e também mais eficaz do que fiscalizar o que é dito verbalmente ou por escrito. Por isso, antes de aprisionar o homem, é preciso aprisionar suas ideias.
A liberdade de expressão, que na maioria das constituições de países do Ocidente é um dos temas principais, vai, nessa primeira metade do século XXI, sendo, pouco a pouco, limitada e restringida, pois contraria o pensamento daqueles que se acham, erroneamente, donos do poder ou de uma situação momentânea de poder. Talvez, esteja aí o tão repetido sentido de censura, denominado nesses tempos de novilíngua ou mais precisamente de wokismo. A esse tipo de anti-linguagem, somam-se confusões propositais ao idioma, de forma a corrompe-lo desde a raiz. Sem a linguagem, aprisionada em proposições que busca eufemisticamente “regular as mídias sociais”, o ser humano capitula de forma mais ligeira. Ao caçar o direito à palavra, a crítica ou a defesa, como temos visto nestes tempos surreais, os seres humanos são reduzidos à condição de um enorme formigueiro, silencioso e sem sentido. Assim temos que cortar a palavra ou a linguagem é cortar também uma das poucas maneiras de se aproximar da verdade. Notem que a verdade aqui, nesse caso, não é só o que é certo e aceitável, mas o que é belo e ético ao mesmo tempo, ou seja: sem a liberdade da linguagem, não há caminho possível rumo à tão desejada felicidade humana, que, afinal, é o Santo Graal de todo o propósito humano.
A frase que foi pronunciada:
“Sentimo-nos livres porque nos falta a linguagem para articular a nossa falta de liberdade.”
Slavoj Žižek
Vírgula
Solução simples para as ardilosas armadilhas contra os idosos. Realizar um empréstimo consignado sem a autorização do titular isenta o cliente do banco ou do INSS a pagar a conta. Simples assim.
Ponto final
Esse assunto recebeu espaço no legislativo, que agora cria uma lei para multar o banco. Melhor que a multa, seria a isenção do pagamento do empréstimo não autorizado. Mal cortado pela raiz.
Exclamação
É preciso um apelo dos produtores para que o governo reconheça a importância do cacau brasileiro. Mais cacau puro nos chocolates vendidos no país é o que a classe pede. O que parece óbvio precisa ser gritante!
Aspas
“Nesse plano geral do mundo para exterminar os idosos, poderiam começar pelos corruptos”! Disse Eliana de Siqueira Alves.
Em cerrado
Como sempre Nicolas Behr, canta Brasília em poesia contagiando a todos que amam essa cidade. “Nem tudo o que é torto é errado. Veja as pernas do Garrincha e as árvores do cerrado.”
História de Brasília
O caso do BNDE era um abuso porque mantinha fechadas as casas, mas o movimento grevista, inclusive insuflando alunos foi recebido com reserva pelo povo. Êste é o fato. (Publicada em 02.05.1962)