GuedesPequeno Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

“Guedes deixou de ser fiador do governo e quem paga a conta é o BC”

Publicado em Economia

Sem qualquer respaldo no governo e no mercado, o ministro da Economia, Paulo Guedes, “deixou de ser fiador do governo”, ao aderir à farra fiscal, e “quem está pagando a conta é o Banco Central”, diz a economista -chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack.

 

Segundo ela, o descontrole das expectativas dos agentes econômicos chegou a tal nível, que o resultado será recessão em 2022. “Neste momento, o benefício do controle das expectativas é muito inferior aos malefícios que isso vai trazer em termos de atividade econômica”, afirma a especialista.

 

Com isso, acredita Camila, “a população continuará sofrendo com a perda do poder de compra e o mercado de trabalho voltará a enfrentar dificuldades”. Ela afirma que a inflação atual não será contornada com mais elevação dos juros, porque o aumento de preços está concentrado em segmentos sobre os quais a política monetária não tem efeito.

 

Na quarta-feira (27/10), o BC elevou a taxa básica de juros (Selic) em 1,5 ponto percentual, de 6,25% para 7,75% ao ano, o nível mais alto em quatro anos. “Se o BC tivesse subido a taxa de juros para dois dígitos de uma única vez, isso não contornaria a situação, porque parte da inflação não é sensível à política monetária”, frisa.

 

A economista da Veedha ressalta que a inflação mais relevante está nos preços administrados (combustíveis e energia elétrica, principalmente) e nos gastos de subsistência das famílias (alimentos em domicílio). “Por isso, é difícil ver essa taxa de juros derrubar a inflação”, assinala.

 

Preços administrados

 

Ela reconhece que há um movimento especulativo e, nesses momentos, se o Banco Central não é tão agressivo na definição dos juros, o mercado precifica. Assim, fica o questionamento de que o BC não foi tão duro, que está atrás da curva. “Mas isso não é só uma questão da inflação. Há a desancoragem da política fiscal”, acrescenta.

 

Na avaliação de Camila, o Banco Central se encontra em uma situação muito mais complicada por conta da bagunça que o governo e o Congresso estão fazendo, a começar pela colcha de retalhos em que se transformou a PEC dos Precatórios, da qual Guedes quer tirar recursos para bancar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.

 

“Portanto, é uma tarefa difícil, num país que perdeu a credibilidade na área fiscal, jogar para o Banco Central a missão de assumir sozinho o compromisso de resgatar a confiança na equipe econômica”, conclui a economista.

 

Brasília, 19h07min