O farsante da liberdade

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

A investida do bilionário Elon Musk contra a soberania nacional é um acinte que não pode ser aceitado. Em toda história sobre o nazismo e o fascismo, a inação e a hesitação das instituições para defender a democracia foram determinantes para a ascensão dos movimentos autocráticos. Quem é esse sujeito para acusar o Brasil de ser uma ditadura?

Com a sua cumplicidade e omissão criminosas, as big techs contribuíram, decisivamente, para a derrocada das democracias e para a ascensão das ditaduras em vários pontos do mundo, por meio de uma política sistemática de propagação de notícias fraudulentas. O fascismo é a burrice no poder. E a mentira se tornou um negócio altamente rentável.

É por isso que as grandes corporações das redes sociais resistem tanto a regulação de suas atividades. Elas querem funcionar como uma terra sem lei para explorar os incautos e para ganhar mais dinheiro. Várias delas têm um capital maior do que o PIB de muitos países. São poderosas e se impõem atropelando todas as regras de civilidade e da democracia.

Todas as atividades humanas são mediadas por regras. Por quê elas se alçam acima da lei e da Constituição? Elon Musk é investigado por violação de regras na compra do Twiter. Que autoridade moral ele tem para pretender intervir no sistema Judiciário brasileiro? Quem é esse cidadão para se arvorar a ditar cátedra sobre as leis e a ser defensor das liberdades democráticas, quando conspira contra elas?

Não consta que Musk tenha se manifestado em defesa da liberdade ante a censura que impera na ditadura da China ou ante a morte do jornalista esquartejado na Arábia Saudita, ambos países com quem mantém lucrativos negócios. Musk compartilhou informações falsas sobre as eleições nos Estados Unidos e foi desmentido por autoridades de três estados. O Globo publicou matéria lembrando postagens de Musk simpáticas a nazistas

O bilionário prestou solidariedade ao ativista de extrema direita belga Dries Van Langenhove, condenado a 1 ano de prisão por disseminar conteúdos racistas por meio de um aplicativo de conversas. Em réplica, o secretario de estado belga para a Recuperação Econômica e Investimentos Estratégicos, Thomas Dermine, explicou a Musk, no X, do bilionário que “na Bélgica, o racismo não é uma opinião. É um crime”. E, ainda argumentou que “a liberdade de expressão termina onde o ódio começa’.

É esse o homem que se apresenta na condição de paladino da liberdade. Fala em nome da liberdade, mas defende a escravidão. A liberdade que querem é a de bombardearem fake news, difamarem o nome dos outros, promoverem campanhas negacionistas das vacinas, incitarem a violência nas escolas e mobilizarem os incautos para aplicar golpes políticos. Ou seja: a liberdade de cometer crimes impunemente.

Vejam o que aconteceu em Brasília: em plena crise sanitária da dengue, o Ministério da Saúde teve de transferir as vacinas destinadas às crianças brasilienses em razão da falta de procura, para não perder a validade. Tudo por causa das campanhas irresponsáveis contra a imunização. Essa é a liberdade de expressão que eles querem exercer, sem serem responsabilizados pelas consequências dos seus atos

Quem garante os direitos de liberdade dos cidadãos brasileiros é a Constituição, é o Judiciário, e não qualquer falastrão. Os ataques de Musk são manjados e estão mapeados. Na verdade, o embate não é entre Musk e Alexandre Moraes; é entre o golpismo e a democracia. Os que cometeram crimes não estão sendo perseguidos; estão sendo punidos por infringir a lei. Todas as decisões de Alexandre Moraes foram referendadas pelo plenário do STF.

Ainda bem que o presidente do Senado e do Congresso, Rodrigo Pacheco, se posicionou e conclamou para a necessidade de regular as redes sociais. É uma indignidade a Câmara dos Deputados se omitir ante uma situação de ameaça à democracia, claramente orquestrada. Os líderes do Centrão só são valentes para achacar. Fingir que não está entendendo ou fazer piruetas retóricas apenas agravarão a instabilidade política.

 

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