Glênio Bianchetti

Publicado em Crônicas

Severino Francisco

Elas sabem fazer as coisas acontecerem. Quando o coletivo Maria Cobogó lança livros no Beirute, a casa lota e falta kibe. O grupo é constituído por mulheres de diversas idades, animadas, talentosas, elegantes, pilhadas, generosas e delicadamente bravas. O nome é inspirado naquele material usado nos prédios de Brasília para permitir a passagem da luz e do ar.

E é precisamente essa a ação cultural que o coletivo de mulheres empreende para colocar Brasília no mapa da literatura. Ao longo de quatro anos de existência, publicou mais de 20 livros e revelou vários poetas e ficcionistas para cidade. Os livros do selo Maria Cobogó são caprichados, esmerados e belos.

Duas produções foram reconhecidas como finalistas do Prêmio Jabuti: o projeto Calango Leitor, de estímulo à leitura nas escolas, coordenado por Claudine Duarte, em 2018, e o livro Fios, de Christiane Nóbrega, em 2020, destinado especialmente ao público infantojuvenil, mas que pode ser apreciado por leitores de todas as idades. .

Com a delicadeza da tessitura de um bordado, Chris Nóbrega escreveu Fios (Ed. Maria Cobogó), uma história tocante, que narra a doença e a morte da avó. É notável a maneira com que Chris consegue tocar em tema tão difícil de uma maneira tão leve, afetuosa e verdadeira. Mas o livro não é para ser lido apenas com as palavras. Ele compõe um bordado de palavras, imagens e espaços brancos de silêncio.

Agora, Ana Maria Lopes e Márcia Zarur oferecem um presente para a cidade: o livro Glênio Bianchetti, que inaugura a Coleção Mestre Cobogó, que pretende apresentar os grandes artistas de Brasília para as novas gerações. O livro é um primor gráfico, a história de Glênio é narrada com o esplendor de suas pinturas de cores fulgurantes.

Quem conduz o fio da meada é o boneco encantado Giroflê, criado, supostamente ou ficcionalmente, por Glênio. Ele convida a um passeio pelos personagens de rua, os artistas populares, os vendedores de peixes, os lances do futebol, as melancias expostas nas bancas, as cirandas infantis, as cabras, os autos de bumba-meu-boi.

Envolvidos pela beleza das cores, ficamos sabendo que Glênio nasceu em Bagé, participou de um célebre Clube de Gravura, começou a pintor misturando tintas em tampinhas de garrafas de refrigerante, mudou-se para Brasília a convite de Darcy Ribeiro para ser professor da UnB e sua obra ganhou novos matizes de cor sob o impacto da luminosidade brasiliana.

Darcy Ribeiro gostava de repetir que só se faziam mestres com mestres. Por isso, ele trouxe para Brasília mais de 200 artistas e intelectuais, dentre os mais brilhantes dentro de um tempo que formou uma constelação de pessoas brilhantes. Além de ser um pintor extremamente talentoso, um mestre da cor, Glênio participou ativamente da vida cultural da cidade.

A sua casa sempre foi um ponto de referência para os artistas. Ana Maria Lopes e Maria Zarur narram a história do artista gaúcho-brasiliense de uma maneira muito envolvente, saímos do livro com os olhos impregnados da luz humanista da pintura de Glênio Bianchetti.

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

*