O maior desafio para um cantor é encontrar canções que caibam na voz. A história da música popular é cheia de histórias de intérpretes e compositores que se completam, com casos emblemáticos: Aracy de Almeida e Noel Rosa, Demônios da Garoa e Adoniran Barbosa, Assis Valente e Carmen Miranda, Ary Barroso e Francisco Alves ou Jair Amorim/Evaldo Gouveia e Altemar Dutra.
Não eram compositores exclusivos desses cantores ou vice-versa, mas foram tantas parcerias marcantes que muitas vezes as canções passam a fazer parte da personalidade de quem canta, tanto quanto de quem compôs. Difícil imaginar Saudosa Maloca sem os Demônios da Garoa ou Brigas sem Altemar Dutra.
Di Brasil veio de Minas Gerais para embalar algumas das melhores festas em Brasília. A voz grave e melodiosa conquistou espaços com interpretações de canções conhecidas mas cheias de personalidade. Ele também descobriu que é bom ser generoso; e abre o microfone para quem canta – ou acha que canta – onde quer que se apresente.
Eclético, vai do samba ao rock, do bolero ao reggae, do sertanejo à bossa nova com habilidade incomum, enchendo os ambientes com música de qualidade, mesmo que muitas vezes as canções não ajudem – sim, música ruim também pode ser apresentada com competência.
De uns tempos para cá, Di Brasil sentiu que estava faltando registrar sua voz, não da maneira apressada como aparece em vídeos do youtube, mas de forma que pudesse mostrar sua visão musical com mais esmero.
E começou a garimpar canções para fazer um EP, apelido de extended play e que os mais velhos conhecem como compacto duplo – no tempo do onça, eram discos de sete polegadas com duas gravações de cada lado. Já tinha três escolhidas e gravadas, mas faltava o toque final, a grande canção inédita para pôr sua marca.
Foi quando ele se lembrou de um fã. E dos mais importantes.
Di Brasil já conhecia o ministro José Múcio Monteiro. Hoje presidente do Tribunal de Contas da União, tem uma longa folha de serviços públicos, mas se notabiliza também pela voz grave e bem colocada em sambas-canções, xotes e boleros – e também em casos engraçados. E por incontáveis vezes, Di acompanhou o ministro cantor.
José Múcio gravou um disco com algumas de suas canções, que ele distribuiu entre os mais chegados, como Di Brasil, que perdeu a inibição e pediu uma música inédita para gravar. Acabou levando um xote à moda antiga, bom de ouvir, melhor ainda de dançar, que ele não para de cantar, na certeza de ter um sucesso nas mãos.
“Mandei um whatsapp, você não respondeu
Eu vi que você leu/ Eu vi que você leu
Dizia na mensagem que estava apaixonado
Andava muito só e me sentia abandonado
Andava tão tristonho e carente de carinho
Queria de você nem que fosse um só beijinho
Falava da saudade que eu sinto de você
Por mais que eu me esforce não consigo lhe esquecer
Eu lhe faço um pedido por favor
Me deixe numa nuvem que eu fico ao seu dispor”
Publicado no Correio Braziliense em 28 de fevereiro de 2020