Autor: Denise Rothenburg
O anúncio de Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para ministro da Saúde e a entrevista ao lado do governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado, foram sinais de que o DEM está sim fechado com o governo de Jair Bolsonaro. Por isso, para contrabalançar, o PP deseja agora apoio para comandar a Câmara e pretende contar com o suporte do PSL nesse projeto. Nesse sentido que o partido de Arthur Lyra (PP-AL) agirá nos próximos dias.
Mandetta foi o terceiro ministro do DEM anunciado desde a eleição. O primeiro, Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, estava com Bolsonaro desde a pré-campanha. Tereza Cristina, da Agricultura, e Mandetta, da Saúde, apoiaram ainda no primeiro turno. Essa sucessão de ministros do DEM tira força de Rodrigo Maia entre os partidos de centro que almejam um espaço de Poder privilegiado para negociar com o governo de Bolsonaro. Esses partidos agora vão tentar se reunir para tirar a chance de reeleição de Rodrigo, que hoje janta com os deputados eleitos para a próxima Legislatura. Agora, cada movimento terá influência direta na campanha para presidente da Câmara, a próxima do mundo da politica. A eleição é em fevereiro do ano que vem, mas a campanha já está em plena efervescência nos bastidores.
Senadores articulam voto aberto para impedir Renan na presidência da Casa
Senadores deflagram uma cruzada para que o futuro presidente da Casa seja eleito pelo voto aberto. O objetivo dos parlamentares envolvidos na estratégia é dificultar a eleição de Renan Calheiros (MDB-AL) para o cargo. Eles acreditam que, ao ter o voto exposto, muitos que hoje poderiam apoiar Renan não o desejam fazer publicamente.
O primeiro disparo será hoje à tarde, quando o senador Lasier Martins (PSD-RS) irá à tribuna para pedir o voto aberto. “Temos que atender o grito das urnas que pediu renovação”, afirmou o senador ao blog.
Lasier apresentará como precedente o caso da prisão do então senador Delcídio do Amaral, que se deu com o voto aberto. “Se ali foi possível, por que não para eleição do presidente da Casa? O regimento fala em voto secreto, mas a Constituição, não”, argumenta Lasier, que pretende ir até ao STF, se preciso for, para tentar garantir o voto aberto para eleição do presidente do Senado, em 2019.
Com o presidente Michel Temer enfraquecido e um número expressivo de deputados e senadores limpando gavetas, a influência do Poder Executivo sobre o Legislativo caiu ao ponto de ninguém mais ter o comando fechado das bancadas nas votações deste fim de ano. Nessa batida, a pauta-bomba não saiu de cena, apesar da conversa entre o economista Paulo Guedes e o presidente do Senado, Eunício Oliveira. Só na Câmara, são quase R$ 14 bilhões incluídos em vários projetos, em benefícios fiscais que ainda podem ser votados nas próximas semanas. E, subsídio, sabe como é, depois que aprova, para tirar é uma novela.
» » »
Enquanto isso, medidas provisórias vão caducando. A MP que facilita a privatização de empresas de saneamento, por exemplo, vence nesta segunda-feira e não há acordo para votação. A oposição comemora, e os governos, o de hoje e o do ano que vem, se mostram preocupados. Será mais um tema para retomar em 2019.
Lula arrependido
Aliados do ex-presidente Lula dizem que, só agora, depois da eleição, é que ele passou a avaliar que, talvez, teria sido melhor aceitar a linha do ex-presidente e ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Sepúlveda Pertence, de buscar a prisão domiciliar. Porém, ainda não autorizou seus advogados a seguirem nessa direção. Já tem gente pensando em dizer que essa seria a única saída no momento.
Setor problema
Em todos os governos, desde a redemocratização, a área de infraestrutura dá dor de cabeça aos governantes. E com Jair Bolsonaro não será diferente. Está uma queda de braço na equipe de transição pela indicação do futuro ministro, depois que o general Oswaldo Ferreira recusou o cargo. Será mais uma disputa para Bolsonaro arbitrar, como o fez na Agricultura.
Economia em alta
A reação do mercado em relação ao nome de Roberto Campos Neto para a presidência da Banco Central compensou o susto com o novo chanceler, Ernesto Araújo, visto com reservas dentro do Itamaraty. Porém, nem só de críticos vive Araújo: “Quem o critica é porque não compra um novo livro há, pelo menos, 15 anos”, diz o ex-deputado Paulo Delgado, sociólogo, que é só elogios ao estudioso e aplicado Ernesto Araújo.
Siga o sogro
Ernesto Araújo é genro do embaixador Luiz Felipe Seixas Corrêa, com uma vasta experiência na carreira diplomática, um dos mais respeitados da velha guarda do Itamaraty. Ou seja, escola para caminhar ao centro e fazer uma gestão equilibrada não falta ao futuro chanceler.
CURTIDAS
Mourão é pop/ O vice-presidente eleito, general Hamilton Mourão, fez o maior sucesso no feriadão, ao ser reconhecido na academia de um condomínio de Brasília. Foi cumprimentado, tratou todo mundo com a maior simpatia e não se recusou a posar para fotos ao lado dos moradores.
Renan, o jeitoso/ Logo depois da eleição, o senador Renan Calheiros enviou os parabéns aos novos senadores com quem conseguiu algum contato. Ele, da parte dos senadores, e Fábio Ramalho (MDB-MG), da parte da Câmara, saíram na frente no corpo a corpo com os novatos.
Recondução garantida/ O MDB já acertou a permanência do deputado Baleia Rossi (foto), de São Paulo, no cargo de líder da bancada no ano que vem.
Futuro duvidoso/ Agora, quando chegar a hora de escolher o novo presidente do partido, a bancada vai se pintar para a guerra. Tem muita gente incomodada com a prorrogação do mandato de Romero Jucá até setembro.
Bessa sobre senadores do MDB: ‘Esses caras precisam ir para a cadeia’
Coluna Brasília-DF/ Por Denise Rothenburg
Os políticos não têm mais dúvidas de que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, terá dois pontos nevrálgicos na relação com o Congresso: os partidos do chamado Centrão (PP, PR, PTB e outros) e o Senado. Nessa terça-feira (13/11), por exemplo, o futuro chefe do Gabinete de Segurança Institucional do DF, Laerte Bessa, aliado de Bolsonaro, atacou diretamente os senadores do MDB, que compõem a maior bancada da Casa: “Eles roubaram demais o país, e a condição de eles irem para a cadeia é a Operação Lava-Jato”, citando nominalmente Renan Calheiros; Jader Barbalho, que Bessa chama de “Jarbas”; e Romero Jucá, este último não se reelegeu.
Declarações e Senado à parte, o Centrão já fez chegar ao governo de transição que, se houver mais um ministro do DEM, adeus reeleição de Rodrigo Maia (RJ). Disse isso ao próprio Maia, na semana passada, e, nessa terça-feira, Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) já era chamado de ministro pelos colegas e até por integrantes do governo de transição.
Temer é de cumprir acordos
E por isso mesmo as apostas no Palácio do Planalto são de que o presidente Michel Temer vai sancionar o reajuste salarial dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
No Congresso, Analógico versus digital
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, aproveitará a conversa, hoje, com Rodrigo Maia (DEM-RJ) para reforçar que não haverá toma lá dá cá com o Congresso. Significa que, se alguém do PSL quiser concorrer à Presidência da Câmara, algo que Bolsonaro não estimula, estará por sua própria conta e risco. Aliados do presidente eleito garantem que ele quer o Congresso na “era digital”, ou seja, do que for melhor para o país e não no “analógico sistema”, de troca de cargos por votos no Congresso.
Lula na política
A expectativa é de que o ex-presidente Lula aproveitará o depoimento de hoje à juíza Gabriela Hardt para falar tudo o que não pôde dizer durante o período eleitoral. Mais uma vez, será mais político do que técnico em sua defesa.
Mando de campo ajuda Maia
Com Bolsonaro fora do jogo de favores e relações pessoais que, invariavelmente, envolvem a disputa para presidente da Câmara, Rodrigo Maia tem mais chances de emplacar uma reeleição. Afinal, tem os cargos da Mesa Diretora para oferecer a quem quiser apoiar sua reeleição.
É pra já
A autonomia do Banco Central é um dos primeiros projetos que o presidente eleito pretende levar adiante. Se der, ainda neste ano. Técnicos da transição informam que esse é o jeito de sinalizar ao mercado que acabaram os tempos de intervenção política no BC promovida especialmente no governo de Dilma Rousseff.
A primeira missão do general
Antes de assumir a Defesa, o general Fernando Azevedo cuidará de pôr um fim no mal-estar
com a Marinha e a Aeronáutica, que chegaram a ser cogitadas para o status de ministro, entregue ao Exército.
Constrangimento/ O embaixador Luiz Fernando Serra circulou, dia desses, pelo Itamaraty citando os diplomatas Manuel Inocêncio e Miguel Griesbach, respectivamente, como seu secretário-geral e futuro chefe de gabinete.
Sutis diferenças/ Enquanto o presidente da UDR, Nabhan Garcia, foi para casa triste depois do anúncio da deputada Tereza Cristina para ministra da Agricultura, a Confederação Nacional da Agricultura (CNA) faz propaganda elogiando a indicação. Na tevê, um comercial da CNA apresenta a deputada como a voz do agro e ainda faz um agradecimento a Bolsonaro.
#ficamarun/ Com tanto ministro de Mato Grosso do Sul, tem gente fazendo périplo ao Planalto para pedir que Carlos Marun fique em Brasília. Certamente, não será no governo, mas tem muita conversa entre Marun e Romero Jucá, o presidente do MDB, que não foi reeleito.
Por falar em Planalto…/ Parlamentares cravam que o general Augusto Heleno, tão influente na indicação dos ministros, vai terminar com funções além da parte de Segurança Institucional. É no GSI que deputados sem muita relação com Onyx Lorenzoni pensam em aportar.
O presidente eleito, Jair Bolsonaro, fez um balanço da semana, durante um pronunciamento transmitido, ao vivo, nas redes sociais. Ele aproveitou para tranquilizar o funcionalismo sobre as notícias a respeito da Reforma da Previdência. Em pouco mais de 30 minutos de transmissão, disse, também, que considera um absurdo aumentar a alíquota de contribuição dos servidores públicos. “Não vamos resolver a reforma (da Previdência) quebrando o trabalhador”, disse. O futuro presidente reclamou, ainda, que “tentam colocar na conta dele” a responsabilidade pelo aumento do Judiciário. “Não sou o presidente. Não tenho nada com isso. Quem aprovou foi o Senado. E agora quem vai decidir é o atual presidente”.
Bolsonaro mencionou a entrevista do futuro ministro da Justiça, Sérgio Moro, e comentou a escolha de Teresa Cristina (DEM-MS) para o Ministério da Agricultura. “Ele quer carta branca para combater o crime organizado e a corrupção. Ele terá toda a liberdade. Combater como? Seguindo o dinheiro. Teremos um braço da Coaf – Conselho de Controle de Atividades Financeiras – dentro do Ministério da Justiça”. Sobre um tema espinhoso, que seria a diminuição da maioridade penal, Bolsonaro disse que cabe conversa. “Se eu quiser 16 e ele 18, vamos conversar. Ninguém quer impor nada”, detalhou.
O futuro chefe do executivo federal falou também sobre a embaixada brasileira em Israel: “Vamos parar com essa frescura. Estive com vários embaixadores, conversas ótimas, queremos reduzir pressão de conflito no mundo”.
Quanto à agricultura, Jair aproveitou para dar um chega para lá no presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Nabham Garcia: “O nome dela (Teresa) foi colocado na mesa, numa reunião com mais de 50 pessoas. Lamento um colega aí, que achou que devia ser ele por estar há mais tempo comigo. Agradeço, me acompanhou, mas, se fosse assim, tinha que colocar a minha mãe, que é quem está há mais tempo comigo”.
Turismo
“Vocês estão de brincadeira. Não é demarcar como parque nacional. Queremos fazer o turismo nessa região (Baía de Angra) que traz divisa para a gente. Ilha do Sandri está tudo abandonado. Quem quiser fazer barbaridade, faz, porque não tem fiscalização. Se tivesse um hotel explorando turismo, estaria preservada a área. O turismo preserva, e não da forma xiita que o Ibama vem fazendo até hoje”.
Bolsonaro disse , também, que pretende anunciar na semana que vem os ministros do Meio Ambiente, Saúde, Relações Exteriores e, na Educação, quer alguém alinhado: “Não vai ter essas questões que teve no Enem, porque vamos ver a prova antes”, diz ele, considerando um absurdo qualquer questão sobre ideologia de gênero no ensino.
Toffoli quer acelerar fim do auxílio-moradia e outros penduricalhos
Depois do reajuste de 16% nos salários do Supremo Tribunal Federal, algo que terá efeito cascata sobre o teto salarial da República, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, fará todo o esforço para acabar com o auxílio-moradia dos magistrados e, ainda, outros benefícios que incidem sobre os vencimentos de juízes e desembargadores nos estados. Toffoli pretende conversar ainda essa semana com o ministro Luiz Fux para que ele leve as ações do auxílio-moradia a julgamento no plenário do STF.
Fux é o relator das ações sobre o tema que tramitam no STF. Houve uma tentativa de julgamento em março, quando a Associação dos magistrados Brasileiros (AMB) pediu que o caso fosse levado à conciliação e Fux atendeu, adiando o envio do assunto ao plenário. Como não houve acordo, agora não há mais desculpas para não julgar a legalidade do auxílio, pago inclusive a juízes que possuem imóvel próprio.
Esse tema foi ainda motivo de conversa e acordo entre Toffoli e Temer, em agosto, pouco antes de Toffoli assumir a Presidência do Supremo Tribunal Federal. Na ocasião, o governo estava fechando os últimos números do Orçamento da União para 2019 e o STF pressionava por esse reajuste __ aprovado agora pelo Senado. Na época, Toffoli se comprometeu a acabar com o auxílio-moradia em troca do reajuste. Agora, chegou a hora do STF cumprir a sua parte no acordo. O primeiro passo é o julgamento das ações que questionam a legalidade do benefício.
A bola agora está com o STF e, ao que tudo indica, os magistrados não deixarão de cumprir a sua parte o mais breve possível, dando uma resposta que os coloque bem na fita. Se nada for feito pelo Poder Judiciário nessa seara e rápido __ em especial, em tempos de déficit fiscal elevado, de adiamentos de reajustes de uma forma geral e de um novo governo que chegará pedindo sacrifícios a todos __ , o STF perderá sua posição de mediador de conflitos. Afinal, como já disse o presidente eleito, Jair Bolsonaro, governa-se pelo exemplo.
Os primeiros acordes de Moro: Siga o dinheiro do crime organizado
Num dia cheio de notícias, merece destaque a entrevista do juiz Sérgio Moro, futuro ministro da Justiça. Ele no governo representará, na avaliação de muitos políticos, uma espécie de “seguro” do cumprimento dos preceitos democráticos e constitucionais.
A entrevista foi lida como a carta de apresentação do futuro do ministro à população brasileira que conhecia apenas suas sentenças. O juiz chega para valer e levará com ele muitos integrantes da Lava Jato. Na mega Operação que levou muitos poderosos para a cadeia funcionou o “follow the money”, ou seja, “siga o dinheiro”. Na Lava Jato, começou pelo doleiro e chegou no que a Justiça e investigadores colocaram como destinatários finais. Agora, pretende fazer o mesmo em relação ao crime organizado. Ninguém tem dúvidas de que esse será o objetivo de Moro, com os instrumentos legais em mãos, do Coaf à Polícia Federal, será esse.
Moro se coloca fora do processo político em si, assegura que não pretende disputar mandatos eletivos. Quer se dedicar de corpo e alma a uma “forte agenda anti-corrupção”. Chega suave a temas polêmicos. Como juiz, considera razoável redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em caso de crimes graves, tais como, assassinato, estupro. Quanto à exclusão de ilicitude, diz que o estado tem reagido de forma “fraca”. Mas evita falar abertamente do que defenderá nessa seara. A prisão a partir da condenação em segunda instância é o único tema em que ele chega firme e com uma postura forte em defesa dessa possibilidade. “Se os países berço da presunção de inocência consideram (a prisão em segunda instância), por que não? Vou defender respeitosamente a minha posição junto ao Supremo Tribunal Federal”, diz ele.
Mostrou-se ainda bastante disciplinado, ao, perguntado, evitar tecer comentários sobre temas afeitos às áreas de Educação de Economia e apresenta seu futuro chefe, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, como um “moderado”. “A avaliação que tenho do presidente eleito é de uma pessoa mais moderada. Não vejo nenhum risco à democracia e ao estado de direito. Existe alguns receios infundados e minha presença sobre ajudar a afastar. Sou um juiz, sou um homem de lei. Não admitiria qualquer solução fora disso, assim como o presidente eleito não admite”, diz ele. Porém a presença reforça essa posição de defesa da lei. Moro é um seguro e um emblema. Se conseguir cumprir o combate intransigente ao crime organizado, o Brasil agradecerá comovido.
A segunda ponte construída sobre o Lago Paranoá, hoje denominada Honestino Guimarães, volta a se chamar presidente Costa e Silva. O retorno do nome foi decidido há pouco, por unanimidade do Conselho Superior do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.
A ação popular das procuradoras Bia Kicis e Cláudia Castro, entre outros, tramita desde 2015, quando o governador Rodrigo Rollemberg sancionou o projeto da Câmara Legislativa que substituía o nome do ex-presidente do regime militar pelo do líder estudantil. É mais um sinal de mudança dos ventos.
A alegação para a volta do nome antigo foi a falta de uma consulta à população do DF. “Não houve nem sequer uma audiência pública e, para mexer no patrimônio, tem que ouvir a população”, comenta Bia, eleita deputada federal do DF pelo PRP este ano. Você concorda? Participe da nossa enquete no Twitter.
Nas conversas com aqueles que deseja levar para o governo, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem feito a seguinte afirmação aos mais reticentes: “Olha: depois, se der errado, você vai ficar com dor na consciência por não ter feito a sua parte pelo Brasil. É a chance que temos, com carta branca para trabalhar”. Assim, quem conversa com ele fica sem jeito de recusar. Quem for para a Saúde, por exemplo, terá o poder de indicar a Fundação Nacional de Saúde, os secretários, os diretores da Agência Nacional de Saúde e da Vigilância Sanitária, sem precisar dar satisfações aos partidos políticos.
» » »
Foi essa a conversa que funcionou com Sérgio Moro, que terá ainda um braço do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) sob sua jurisdição para ajudar no combate à corrupção e ao crime organizado. Isso dá ao juiz o poder de avaliar as movimentações financeiras suspeitas. Outros nomes desse porte virão.
Toque feminino no governo
Jair Bolsonaro foi aconselhado a levar a senadora Ana Amélia Lemos, candidata a vice na chapa de Geraldo Alckmin, para compor o seu governo. Ana Amélia, que ficará sem mandato a partir de fevereiro, é da bancada do agronegócio e surge agora como cotada para a Agricultura. Outro nome, também da bancada feminina, é o da deputada Tereza Cristina, atual presidente da Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA). Ele ainda não bateu o martelo, mas já foi avisado por aliados de que é bom ter alguma mulher no primeiro escalão. Ambas estão no radar.
A janela da Previdência
Se for para aprovar alguma coisa dentro da reforma da Previdência, terá que ser antes de 12 de dezembro. Essa é a data marcada para a cirurgia em que o presidente eleito vai recompor o intestino, para que possa estar em condições de tomar posse em 1º de janeiro.
Orçamento em revisão
Paralelamente à reforma previdenciária, os responsáveis pela transição de governo começaram a rever o Orçamento. Estão convencidos de que ou se parte para as parcerias público-privadas, ou não haverá recursos para investimentos.
PT na lida
Os petistas vão colocar todo o seu pessoal se revezando, no plenário da Câmara e em entrevistas às agências internacionais, para passar a ideia de que o convite ao juiz Sérgio Moro foi um “pagamento” pela condenação de Lula. Em tempo: não foi o juiz que prendeu Lula e, sim, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região.
CURTIDAS
A cotação de Moro I/ O fato de as casas de câmbio em Brasília terem zerado seus estoques de dólares, ontem, conforme noticiou o Blog do Vicente, passou a impressão de algo diretamente relacionado ao anúncio de Sérgio Moro para o Ministério da Justiça. A princípio, não há relação entre esses dois temas.
[FOTO2]
A cotação de Moro II/ Na porta da casa de Bolsonaro, uma senhora desfilava ontem com um boneco Super Moro, nos mesmos moldes do famoso Pixuleco. Era um tal de “nosso herói” para cá, “lindão” para lá. O juiz pensou inclusive em dar entrevista ao lado de Paulo Guedes (foto). Porém, desistiu. Aliás, a presença de Paulo Guedes seria para explicar a parte relativa ao Coaf dentro do Superministério da Justiça e da Segurança Pública.
Por enquanto, eles aguentam/ Parte da vizinhança do presidente eleito, Jair Bolsonaro, está contando os dias para que ele fique definitivamente em Brasília. Nada contra o vizinho ilustre. É que já tem gente cansada da parafernália eletrônica da imprensa na porta do condomínio.
Depois, arranja outro lugar/ Um vizinho que chegava de bicicleta foi direto, quando um jornalista comentou que ele podia se acostumar com aquela movimentação todas as vezes que o presidente estivesse no Rio: “Ele que vá para a base da Marinha, como os outros”. O problema é que se tem algo que Bolsonaro pretende ser nesse governo é diferente dos antecessores.
Antes de começar a fazer os convites, Jair Bolsonaro precisa definir o tamanho da Esplanada e os cargos que terá para preencher. Até aqui, por exemplo, ele havia dito que pretendia juntar os ministérios do Meio Ambiente e da Agricultura. Porém, hoje seus aliados dizem que isso pode mudar. Também havia a ideia de juntar a pasta de Indústria e Comércio à Fazenda. Porém, não existe mais essa certeza. A única área hoje onde é certo que a Esplanada vai diminuir é na infraestrutura. Todo esse setor deverá ser Transportes, Minas e Energia, Telecomunicações, tudo ficará sob um único ministro.
O nome para esse cargo ainda não foi definido. Além de Paulo Guedes (Economia), general Heleno (Defesa) e Onyx Lorenzoni (Casa Civil), estão no radar dele o astronauta Marcos Pontes para Ciência e Tecnologia e o juiz Sérgio Moro para Justiça.
Quanto aos projetos prioritários, há quem diga que ele, no primeiro ano, se dedicará a terminar o que está aí em termos de obras em andamento. A tendência, por enquanto, é trabalhar mais na gestão do que propriamente num projeto nacional de desenvolvimento. Nas entrevistas, deixou claro que o pais precisam economizar, cortar excessos em todas as partes. “Governar pelo exemplo”.
Um dos pés do presidente eleito parece que ainda continua no palanque. Nas entrevistas desta noite mais criticou os programas dos antecessores do que apresentou os seus. O PT é passado e o que o importa no momento é o que Bolsonaro fará para tirar o país do buraco. Acena com Sérgio Moro na Justiça ou no Supremo Tribunal Federal. Ok, mas quem irá cuidar do serviço de terminar de julgar as ações da Lava Jato, em especial, aquelas que envolvem o ex-presidente Lula? Ainda há muito por fazer ali. Até outro juiz pegar o “fio da meada”, certamente, virão críticas por mais atrasos nas ações.
Alguma coisa já está delineada, por exemplo, deflagrar as privatizações pelas empresas deficitárias. Cita em epsecial a EBC, a empresa de comunicação governamental. “Tudo o que não for ação do estado, tem que partir para a privatização”, disse ele, confirmando a guinada liberal do governo.
E a saúde pública? Até aqui, só se sabe que ele modificará o Mais Médicos. Na entrevista à Record, ele afirma que o programa foi “criado pelo PT para atender a ditadura cubana”, onde, diz o presidente eleito com razão, parte expressiva dos salários dos médicos ficam para o governo daquele país. Quanto aos movimentos sociais, como o MST que promove invasões, a intenção dele é tipificar qualquer invasão como ato terrorista, algo que terá que ser aprovado pelo Congresso.
Quanto ao estatuto do desarmamento, o excludente de ilicitude _ a chamada “licença para matar” _ e a reforma previdenciária, haverá uma tentativa de mexer ainda este ano. No caso da reforma previdenciária, a ideia é, ao menos, adiantar a discussão para adiantar. O presidente eleito não está seguro se a melhor forma de relacionamento com os partidos será via líderes das bancadas ou com os parlamentares individualmente. Vale lembrar que, ate aqui, nenhum presidente conseguiu essa façanha, desde o governo de Fernando Collor. Mas, para quem conseguiu uma vitória que era considerada quase que impossível no início deste ano, a expressão “não vai dar” foi apagada da cartilha.
Aliás, embora chegue cheio de ideias que não se sabe se serão factíveis, vale lembrar que Bolsonaro sabe recuar quando a situação exige. Na entrevista à TV Record, a mais alentada desta noite, revelou um traço de personalidade que poucos presidentes até aqui tinham exposto de forma tão direta: Admitir que estava errado. Foi o que disse quando perguntado se havia desistido da nomeação de mais ministros para o STF. “Ficou no passado, tem que ver o contexto, o momento, quando o povo reclama de algumas decisões do STF… Eu estava embarcando num rumo equivocado”, disse ele, com todas as letras, conforme já havia declarado em entrevista à Rede Vida, quando faltava uma semana para o pleito. Pode não ser nada, mas é um bom começo. Que venham as propostas.