Vírgula 7

Publicado em português

A frase tropeça. Basta provocar o adjunto adverbial que está quietinho, lá no fim da oração. Pra se dar conta da malícia malandra, uma condição se impõe – entender o lugar de cada termo. Como diz o povo sabido, cada macaco no seu galho.

Vaivém.

A língua detesta monotonia. Daí por que termos da oração têm liberdade de passear no enunciado. Saem do quadradinho que lhes é destinado e invadem o de outro. Abandonam então a ordem direta e partem pra ordem inversa. Lembra-se?

Ordem direta.

Quer ser fácil? Use a ordem direta. Ela é a mais natural, mais simples e, por isso, mais fácil de entender. Com ela, cada termo fica no seu lugar. É esta sequência: sujeito, verbo, objeto (direto ou indireto) e complemento (adjunto adverbial):

Rebeliões em presídios (sujeito) mataram (verbo) 134 homens (objeto) em Manaus e Natal (adj. adverbial).

O governo (sujeito) perdeu (verbo) o controle dos presídios (objeto) de uns tempos para cá (adjunto adverbial).

Os brasileiros (sujeito) assistem (verbo) à luta de facções (objeto) nos presídios (adjunto adverbial).

Viu? Ordem direta sem termos coordenados e sem termos explicativos, nada de vírgula.

Ordem inversa

Que chatice! Frases com a mesma estrutura dão sono. Variar é a ordem. Como? Termos mudam de lugar. O mais passeador é o adjunto adverbial. Ele sai do fim da oração e aparece ora no começo, ora no meio. O deslocamento não é gratuito. Vem indicado pela vírgula. Veja:

Em Manaus e Natal, rebeliões em presídios mataram 134 homens.

Rebeliões em presídios, em Manaus e Natal, mataram 134 homens.

Rebeliões em presídios mataram, Em Manaus e Natal, 134 homens.

***

De uns tempos para cá, o governo perdeu o controle dos presídios.

O governo, de uns tempos para cá, perdeu o controle dos presídios.

O governo perdeu, de uns tempos para cá, o controle dos presídios.

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Nos presídios, os brasileiros assistem à luta de facções.

Os brasileiros assistem, nos presídios, à luta de facções.

 

Encarceramento

Olho vivo! Termos deslocados vêm entre vírgulas. O sinalzinho deve aprisioná-lo – um no começo, o outro no fim. Nada de deixar porteira aberta.