Troca-troca (3)

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Onde x em que

O onde, coitado, virou curinga. Mas curinga não é. Um dos abusos contra ele é usá-lo no lugar do em que. Xô! O onde tem emprego pra lá de restrito. Indica lugar físico:

 A cidade onde nasci fica no litoral.

O onde se refere a cidade. É bem-vindo. Cidade é lugar pra lá de físico.

Minha terra tem palmeiras! Onde canta o sabiá.

O onde se refere a palmeiras, lugar físico. Palmas pra ele e pro Gonçalves Dias, o maranhense que escreveu os versos famosos da “Canção do exílio”.

Apesar do papel bem definido, muitos abusam do onde. Usam-no em contexto diferente daquele para o qual foi criado. Quer ver? Exemplos pululam a torto e a direito. Aprecie os desvios:

O discurso onde o presidente acusou os pecuaristas não convenceu os críticos.
O século onde se desenvolveu a teoria da informação acabou há pouco.
Fixou-se no pensamento onde o filósofo destaca a decadência política.

Viu: O onde se refere a discurso, século e pensamento. As três palavras não têm parentesco nem remoto com lugar físico. O em que pede passagem:

O discurso em que o presidente acusou os pecuaristas não convenceu os críticos.
O século em que se desenvolveu a teoria da informação acabou há pouco.
Fixou-se no pensamento em que o filósofo destaca a decadência política.

Guarde isto: na disputa com o em que, o onde só tem vez quando indica lugar físico. No mais, o dissílabo se recolhe. Dá a vez à duplinha.