Falta rumo

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br

Coerência tem sinônimos. Ligação, lógica, nexo são alguns. Harmonia, adequação e propriedade, outros. Igualdade, mais um. Coerência é uma das qualidades da redação. Significa que as partes devem conversar umas com as outras. O povo sabido entende do assunto. “Diga coisa com coisa”, manda ele. Ou, invertendo dito pra lá de repetido, “faça o que eu faço e digo”. Na brincadeira da meninada, trata-se do lé com lé, cré com cré. Cada sapato no seu pé.

A lembrança vem a propósito da conferência do clima de Copenhagen. Será em dezembro, daqui a 31 dias. Em 2012, o acordo lá firmado deve substituir o Protocolo de Kioto. Pra chegar lá, houve rodadas de negociações. A última foi esta semana em Barcelona. O resultado preocupa. Exige-se mudança de paradigma. Os países devem fixar metas capazes de reduzir a emissão de gases-estufa até 2020. O Ministério do Meio Ambiente alardeou 40% de corte. As palavras, porém, não se traduziram em atos.

O Brasil preferiu empurrar o compromisso com a barriga. Adiou a decisão para 13 de novembro. É pena. Havia grande expectativa sobre a participação verde-amarela. Esperava-se que assumisse a liderança mundial na luta contra o aquecimento global. Intimidou-se. Por quê? Falta ao governo posicionamento claro a respeito do tema. No exterior, Lula quer ser visto como defensor do meio ambiente. Em casa, porém, não assume a causa. Bate uma no cravo e outra na ferradura.

O vaivém obedece a diferentes pressões. De um lado, do agronegócio. Somos, vale lembrar, exportadores de commodities. De outro, dos setores econômicos. Eles resistem em rever os sistemas produtivos. Fazem corpo mole ante a exigência de economizar recursos e investir em tecnologia limpa. O governo poderia, como fez agora na prorrogação da isenção do IPI da linha branca, usar mecanismos fiscais para forçar a mudança de paradigma.

As iniciativas, em vez de esporádicas, devem compor agenda de longo prazo. Pra fazer bonito na Dinamarca, uma condição se impõe — assumir internamente posição clara. Não dá para manter o jogo do faz de conta. Maquiagem não cola no cenário internacional. Aparecer bem de cara lavada exige convicção — compromisso de incluir na pauta de desenvolvimento o fator ambiental. Sem isso, continuará o comportamento errático. “Pra quem não sabe aonde vai”, escreveu Lewis Carroll, “qualquer caminho serve.”