Estudantes perguntam

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É sempre errado utilizar pleonasmo ou há alguma situação em que essa figura de linguagem é bem-vinda? (Fernando de Albuquerque, 18 anos)

 
A palavra pleonasmo vem do grego. Na língua de Platão e Aristóteles, quer dizer superabundância. Em bom português: repetição de uma ideia com palavras diferentes.

Há pleonasmos e pleonasmos. Alguns não dão nenhuma expressividade à frase. Aí, deixam de ser figuras de linguagem e passam a ser vício. É o caso de comer com a boca, subir pra cima, descer pra baixo, entrar pra dentro, sair pra fora, elo de ligação, ver com os olhos.

Outros pleonasmos acrescentam graça e força à frase. São bem-vindos: “Ele sabe pescar peixe, mas não sabe pescar homens.” “Ver com meus olhos não é o mesmo que ver com os dedos.” “Esse ouro e prata, posto que naturalmente desce pra baixo, havia de subir para cima.”

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Costumo ficar em dúvida ao escrever algumas expressões com a e há. O certo é “a poucos dias” ou “há poucos dias”? “Daqui a dois anos” ou “daqui há dois anos”? (João Gabriel Estrela Brey, 16 anos)

Rapaz, essa dúvida não é só sua. Ela ataca estudantes, profissionais ou simples mortais. Como mandar a incerteza plantar batata no asfalto? Lembre-se destas dicas:

a. o há indica tempo passado: Cheguei há pouco. Moro em Brasília há dois anos. Vi o filme há poucos dias. Preparo minha entrada na universidade há anos.

b. o a indica  tempo futuro: Daqui a dois meses, vou fazer meu primeiro vestibular. Espere, vamos chegar daqui a pouco. A menos de seis meses das eleições, os partidos ainda não definiram os candidatos.

Olho vivo! Na língua impera a lei do lé com lé, cré com cré. Se o verbo da oração principal está no imperfeito, o haver não pensa duas vezes. Vai atrás: Falava havia mais de meia hora. Morávamos na cidade havia dois meses quando conheci João. Havia 40 minutos que esperava na fila.

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Como faço para evitar a ambiguidade do seu e sua? (Franco Ferreira Mota, 18 anos)

Eta pronome perigoso! Ele parece inofensivo. Mas causa senhores estragos à frase. Quase sempre dá duplo sentido à declaração. A gente diz uma coisa. O receptor entende outra. Ou fica confuso. Veja:

O presidente garantiu aos parlamentares que o seu esforço levaria à aprovação da emenda.

Esforço de quem, cara pálida? Dos parlamentares? Do presidente? Ambígua, a frase permite duas leituras. O que fazer? Partir para o troca-troca — substituir o possessivo pelo pronome dele: O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço dele levaria à aprovação da emenda. O presidente garantiu aos parlamentares que o esforço deles levaria à aprovação da emenda.

Certas palavras, Franco, rejeitam o possessivo. Aproximá-las é briga certa. Evite confusões. Dispense o indesejado. Não o use com:

a. as partes do corpo: Na batida, quebrou o dedo (nunca: seu dedo). Arranhou o rosto. Fraturou o fêmur.

b. Os objetos de uso pessoal: Calçou os sapatos (não: seus sapatos). Pôs os óculos. Vestiu a saia.

c. As qualidades do espírito: Rafael, Malu e João Marcelo têm a inteligência (não: sua inteligência) posta à prova todos os dias.

Superdica: em 90% dos casos, o possessivo sobra: Fez a (sua) redação. Pegou o (seu) carro. Perdeu as (suas) chaves. Xô!

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Depois de interjeições, é necessário usar alguma pontuação? (Kayanne Ramos Fernandes, 14 anos)


A interjeição, Kayane, traduz emoção. Por isso pede ponto de exclamação: ah!, oh!, olá!, oxalá!, tomara!, ui!, alto!, psiu!, cuidado!, alerta!.

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Quando dar a vez a onde e aonde? (Isabella Cristine da Silva, 16 anos)

O aonde, Isabella, é raro como viúvo na praça. Pra aparecer, impõe uma condição: a existência de verbo de movimento que exija a preposição a. É o caso de ir. O monossílabo joga no time do vaivém e pede a preposição a (quem vai vai a algum lugar): Aonde você vai? Não sei aonde você vai. Gostaria de saber aonde você vai.

Atenção, marinheiros de primeira viagem. Não se precipitem. Há verbos que são de movimento, mas não regem a preposição a. E vice-versa. Com eles, só o onde tem a vez: Onde você assistiu à palestra? Não sei onde você assistiu à palestra. Gostaria de saber onde você assistiu à palestra. Onde ele está? Ninguém sabe onde ele está.