Calda e cauda: o porquê da confusão

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Maldade e saudade. Pronuncie as duas palavras em voz alta. Reparou? Elas soam do mesmo jeitinho. O l no fim da sílaba se confunde com o u. É aí que mora o perigo. Gente boa costuma escrever uma letra em lugar de outra. Vítimas não faltam. Uma delas é cauda. A pobrezinha apanha mais que mulher de malandro antes do movimento feminista e da Delegacia da Mulher.

O trecho a seguir, extraído de coluna social, serve de prova: “Apelar para o longo também não tem nada a ver. Se esse longo tiver calda, então, valha-me, Deus!” Leitores ficaram encucados. Como um vestido poderia ter calda? Estaria pincelado com calda de chocolate, morango ou baunilha? Sabe-se lá.

Fato parecido aconteceu em páginas de outro jornal. A matéria tratava de óperas e concertos. Lá pelas tantas, apareceu esta: “O solista tocará o piano de calda do Teatro Municipal”. A dúvida bateu. A cauda do piano armazenaria calda de doce para deliciar os intervalos? Nestes tempos modernos, tudo é possível.

Viu a confusão? No fim da sílaba, a pronúncia do l e do u parece gêmeos univitelinos. É difícil distinguir um do outro. Ao escrever, não dá outra. Confunde-se uma letra com a irmãzinha. E daí? A alternativa é ir ao dicionário. Ali está a grafia nota 10:

Calda é o sumo gostosinho fervido com açúcar e água. Quem resiste a uma calda de chocolate quentinha sobre o sorvete? Só louco. Ou quem acredita que o bom engorda, faz mal ou é pecado. Xô!

Cauda é o rabo do cachorro, do gato, do peixe e da bicharada em geral. É, também, a parte do vestido que se arrasta atrás. Ou o prolongamento traseiro do piano. E por aí vai. No fundo, no fundo, os significados têm um denominador comum – o alongamento traseiro.