A enganadora

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O governo informou:

— Vamos pagar os atrasados em partes. Ou seja: à prestação.

Os jornalistas ficaram alvoroçados. Correram para a sala de imprensa. Na hora de escrever, pintou a dúvida. Com crase ou sem crase? Uns escreveram à prestação. Outros, a prestação.

E daí? Você sabe qual a forma certinha da silva?

a. sim
b. não

Se sabe, assinale a opção que merece nota mil:

a. Ocorre crase.
b. Não ocorre crase.
c. O sinal da crase é facultativo.

Marcou a letra c? Pra lá de certo. Você conhece as manhas do acentinho grave. Mas, se preferiu outra letra, abra os olhos e dê uma estudadinha no assunto. Vamos lá.

Abra, cadabra

Eis o mistério. Nem sempre o grampinho resulta da fusão do a + a. Às vezes, a clareza fala mais alto. Apela-se, então, para a falsa crase. Para evitar confusão, usa-se à mesmo sem a contração dos dois aa. É o caso de vender à vista.

Aí, não ocorre o encontro dos dois aa. Quer ver? Vamos ao tira-teima. Substituamos a palavra feminina por uma masculina. No troca-troca, dá a, não ao: vender a prazo.

Por que o à? Para evitar mal-entendidos. Sem o acento, poder-se-ia entender que se quer vender a vista (o olho). O mesmo ocorre com bater à máquina. Sem o grampinho, parece que se deu pancada na máquina. Não é bem isso, convenhamos.

Quando ocorre duplo sentido? Geralmente nas locuções que indicam meio ou instrumento: Matou-o à bala. Feriram-se à faca. Escreve à tinta. Feito à mão. Enxotar à pedrada. Fechar à chave. Matar o inimigo à fome. Entrar à força.

O acento é obrigatório? Ou só tem vez em caso de ambiguidade? Sem risco de duas interpretações, fica a gosto do freguês. Mas há forte preferência pela falsa crase. Com ela, não dá outra. É acertar. Ou acertar.

 

Mãos à obra

A frase pra lá de certa é esta:

a. Escreveu o poema à mão.
b. Escreveu o poema a mão.


A resposta? Ambas estão corretas. Mas prefira a primeira.