Que coisinha mal ajambrada

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Mafalda. Tirinha do Quino

 

          Democracia, como dizia um dos pouquíssimos homens sérios deste país, o filósofo Millôr Fernandes, é quando eu mando em você. Ditadura é quando você manda em mim. No nosso caso particular, esse sistema hoje é um pouco mais complexo e até difícil de ser decifrado. Se formos classificar nossa democracia a partir dos candidatos que agora se apresentam para o pleito de outubro próximo, nosso sistema de democracia, para dizer o mínimo, necessitaria ser revisto antes aos olhos da psicanálise ou mesmo da sociologia, tal o grau de desvio da realidade e da decência.

         De um modo simples, poderíamos entender nosso atual estágio democrático com base apenas na hipertrofia dos partidos políticos, donos das candidaturas, ou mais precisamente com base na direção partidária e na vontade dos caciques. Não seria exagero supor que vivemos um momento em que a nossa democracia pode ser definida como resultado da vontade e dos caprichos dos caciques.

         Não se sabe ao certo se, por herança da cultura indígena, mas o fato é que estamos imersos numa espécie de caciquismo urbano, todo ele moldado com base nas mais de trinta legendas ou tribos que parasitam nosso sistema representativo. Nesse ponto, é lícito afirmar que as federações partidárias nada mais são do que federações de tribos, todas elas de olho gordo nas benesses do poder.

         O que acontece agora com as campanhas, que sequer tiveram início, mostram o tipo e a qualidade de democracia que temos nessa imensa aldeia chamada Brasil. Com todo respeito que devemos aos índios, que foram desde sempre os verdadeiros donos desta terra e, cuja cultura genuína, por suas características sofisticadas, dista anos luz da nossa, o que presenciamos hoje, na dança ritualística das campanhas de 2022, são arremedos de cultura, a mostrar o quão primitivo e selvagem podem ser os homens urbanos neste país.

         Nada do que se ouve e fazem em público pode nos remeter ao que seja civilização. Não é à toa que foi dito, a respeito desses selvagens engravatados, que temos o melhor conjunto de políticos que o dinheiro pode comprar. Melhor conjunto em tudo o que há de ruim e mal conformado.

         Se a qualidade da democracia pouco importa, isso é outra coisa. O importante aqui é a questão que compara a democracia diretamente aos seus representantes eleitos. Fosse um personagem de carne e osso que, se visse diante de um espelho, a democracia brasileira não acreditaria no que estaria vendo. Difícil é saber o que fazer com esses zumbis que dia sim, dia também, surgem nas manchetes dos jornais, dizendo o que não são e o que não farão. O que ocorre agora com a candidata Simone Tebet, do MDB, é apenas um fragmento colhido entre milhares de outros exemplos que, todo o dia, mostra-nos a selvageria de uma disputa capaz de impor uma humilhação pública não apenas a uma indicada oficialmente pela legenda, mas, indiretamente, a todas as mulheres deste país.

         A verdade é que esta e outras campanhas passadas mostram bem o que somos em essência e como o mundo nos vê de longe. Fosse nossa democracia uma mulher, teríamos que confessar para nós mesmos e em silêncio: que coisinha mal ajambrada.

A frase que foi pronunciada:

“A democracia não pode ter sucesso a menos que aqueles que expressam sua escolha estejam preparados para escolher sabiamente. A verdadeira salvaguarda da democracia, portanto, é a educação.”

Franklin D. Roosevelt

Franklin D. Roosevelt. Foto: super.abril

 

Memória

Hoje seria o 95° aniversário de Ari Cunha, criador desta coluna em 1960.

 

Notícia positiva

Depois do sucesso da organização da Feira do Livro, Marcos Linhares divulga agora a “Biblioteca de Gentes”, ideia do Instituto Fazer o Bem, inspirada no projeto dinamarquês Human Libraries, que propõe uma forma diferente de leitura: a leitura de pessoas.

Marcos Linhares. Foto: sindescritores.com

 

Dada a largada

Ontem, Darley, Luiz Eduardo e Núbia inauguraram a primeira edição do projeto. Segundo Linhares, no projeto Biblioteca de Gentes, cada pessoa escolhe um número e é dirigido a uma mesa. Depois de formadas as mesas, cada um dos convidados, com seus respectivos números, assume o seu lugar e conta a sua história. Não serão divulgados os nomes completos das pessoas, para que sejam encontros-surpresa.

Na biblioteca

“São páginas lindas de vidas inspiradoras, que não aceitaram as dificuldades que a vida lhes impôs. São obras abertas e que, ao terminar, respondem perguntas. A duração total varia de 45 a 60 minutos”, revela o presidente do Instituto, Marcos Linhares, que também coordena a programação cultural da BDB, na 506/507 Sul.

 

Fora da lei

Não é o período seco que causa incêndio na mata. São os grileiros. No Setor de Mansões do Lago Norte, pelo trecho 9, começou a corrida por terra alheia. Nada de fiscalização. Pelo contrário, o que parece área verde é terreno vendido.

Foto: chicosantanna.wordpress.com

 

História de Brasília

Já que o povo não se educa num dia, e a manutenção de um guarda para os jardins ´parece dispendiosa, o melhor seria atender a êsse problema em parte, para que não se perca, de uma vez, a beleza dos jardins. (Publicada em 02.03.1962)

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