VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
jornalistacircecunha@gmail.com
Facebook.com/vistolidoeouvido
Instagram.com/vistolidoeouvido
Seria o Brasil a prova viva a confirmar a teoria, segundo a qual, cada povo tem o governo que merece? Para uma parte da sociedade brasileira, principalmente aquela que prima pelos valores da ética na gestão da coisa pública, tal afirmação não passa de uma estultice sem fundamento teórico ou científico. Mas, para uma parcela significativa de cidadãos que vive em constante conflito com um Estado perdulário e patrimonialista e, por isso mesmo, necessita estar onipresente quando se trata de tributar os contribuintes, essa é a mais pura verdade a resumir o modelo de país desigual que construímos para nossa própria infelicidade.
Pelo sim, pelo não, o fato é que, desde que essa expressão foi cunhada pelo filósofo francês Joseph-Marie Maistre, em 1811, para justificar sua tese de que a escolha de maus representantes se devia, basicamente, à ignorância popular, já que o povo não sabia usar do poder do voto para ser corretamente governado, existem ainda muitos defensores dessa teoria, principalmente no Brasil, onde ocorre, neste domingo, o que pode ser considerado o maior pleito eleitoral do planeta.
Não é pouca coisa, mas, pelo o que se tem visto e ouvido dos candidatos que estão nessa disputa pelos cargos de vereadores e prefeitos em 5.570 municípios, reunindo mais de 147 milhões de eleitores, a tendência é de que a qualidade desses postulantes não chegue a diferir muito dos antecessores. Pelo contrário, o que se acredita é que essa geração de políticos que está por vir seja ainda mais sofrível do que a anterior. Para se ter uma ideia do que nos espera, 66% dos candidatos que buscam se reeleger já estiveram filiados a uma série de outros partidos anteriormente.
Tal dança das cadeiras demonstra não só a fragilidade ideológica desses políticos, embora confirme a suspeita de que muitas legendas partidárias continuam a existir apenas como instituições privadas de aluguel, abastecidas com bilhões de reais dos fundos partidários e eleitorais. De fato, a miríade de partidos, já há bastante tempo, tornou-se um negócio muito mais lucrativo do que os cargos disputados, sejam eles quais forem.
O problema é que boa parte da população não desconhece esses fatos e ainda assim, misteriosamente, acorre em massa às zonas eleitorais a cada novo pleito. A questão aqui é que os rigores propostos pela população, ao reunir milhões de assinaturas para a proposição da Lei da Ficha Limpa, não resultou num ordenamento capaz de retirar de cena postulantes claramente enredados em ilícitos de toda a ordem.
Para o cidadão e eleitor, interessa uma reforma que acabe com os custos exorbitantes da atuação política em todos os níveis, eliminando, de saída, as mordomias descabidas. Interessa à sociedade que seja posto um ponto final na figura do suplente, na imunidade parlamentar, na formação de partidos de aluguel e outras excrecências que só oneram o contribuinte. O cidadão já deu algumas pistas do que deseja para o Estado, quando, por ele mesmo, foi confeccionada a Lei da Ficha Limpa.
Parece que as autoridades se deram conta de que o modelo de financiamento de campanhas coloca em risco a própria democracia. Basta atestar o ocorrido em governos passados, quando apenas um pequeno grupo de empreiteiras ficara com mais de 70% dos recursos emprestados, a juros camaradas, pelo BNDES, e que 75% dos recursos que bancaram as eleições de deputados estaduais, federais, governadores e senadores vieram dessas mesmas empresas. A coisa é extremamente grave!
Com o financiamento de campanha ocorre o mesmo efeito. Todas as propostas vindas à tona acenam para a resolução de efeitos imediatos, desprezando o cerne do problema. Também a realização do Congresso Internacional sobre Financiamento Eleitoral e Democracia, realizado pelo Tribunal Superior Eleitoral, vem sendo feito a reboque dos acontecimentos.
Questões como voto de cabresto, curral eleitoral, caixa dois e outras manobras flagrantemente desleais e fora da lei, nascidas lá século XIX, continuam a existir sob novas roupagens e a desafiar a justiça. Pior é que muitos desses crimes acabam sendo remetidos à Justiça Eleitoral, inabilitada para examinar esses casos, o que acarreta, na maioria das vezes, que esses crimes caiam na vala comum da impunidade generalizada. Isso, por sua vez, alimenta novos ilícitos, num ciclo sem fim.
A frase que foi pronunciada:
“Os lugares mais quentes do inferno são reservados aos omissos.”
Dante Alighieri, escritor e político florentino
Leitor
Com as chuvas, a administração do Lago Norte precisa ter mais atenção no combate à dengue. Vizinhos da última casa do conj. 8 da QL2 estão preocupados com os restos de obra descartados em área verde, juntando escorpiões, baratas, ratos e muitos mosquitos.
Artigo
“E o Brasil?” É preciso encontrar logo alguém que pense, acredite no planejamento e tenha competência para executar, de maneira autônoma, com seriedade, um modelo de desenvolvimento econômico e social, antes que novos aventureiros assumam o poder. Getúlio introduziu o planejamento, JK e os militares o seguiram. Para ter êxito, não dá para ficar bem com as partes predadoras: os vampiros encastelados na sociedade. Os eleitores precisam entender que estamos no final de mais uma década perdida.” Leia, na íntegra, o artigo do professor Aylê-Salassié a seguir.
–> We can?! Recuperar o tempo perdido: como , com quê e com quem?
Aylê-Salassié F. Quintão*
A eleição de Joe Biden, democrata, à presidência dos Estados Unidos, indica um reposicionamento na política externa de metade dos países do mundo, onde os chefes de Estado foram contaminados pelo nacionalismo extremo, o liberalismo exacerbado e as sandices do republicano, que permanece no Poder até 20 de janeiro. O próprio governo norte-americano deverá retornar aos tempos de Obama. Começar tudo novamente. O Brasil não estará imune às consequências, por causa da conivência de Bolsonaro com Trump.
O caminho de Obama todos conhecem – respeito aos direitos humanos, universalização dos planos de saúde, combate ao terrorismo, crescimento da economia e multilateralismo.
O que chama mesmo a atenção é o fato de que, enquanto todos distraíam-se com o protagonismo das eleições americanas, a República Popular da China, aprovou o 14º Plano Quinquenal (FYP) 2021-2025, na quinta sessão plenária do 19º Comitê Central do Partido Comunista, encerrada na quinta-feira (05-10). Estabeleceram-se novas metas para o desenvolvimento social e econômico, com vistas a tornar a China o principal contraparte à hegemonia dos EUA no planeta, inclusive militar e tecnológico. A China caminha para uma nova era em sua história, frisou o presidente chinês Xi Jinping,
Após a fundação da República Popular da China, em 1949, a economia do país passou por um árduo período de recuperação. Em 1953, o governo central lançou seu primeiro FYP (1953-1957), que visava mudar o país de agrícola para industrial avançado, com foco na indústria pesada. E mudou! Com a economia planejada e sem a interferência dos políticos predadores, a Rússia recuperou-se e a China deu um salto no desenvolvimento.
Tinha à frente de sua economia pessoas totalmente concentradas nos planos de desenvolvimento. Nenhum prêmio Nobel . Cumpriria a etapa primeira do desenvolvimento, criando uma indústria nacional forte. Os próximos cinco FYPs destacariam o desenvolvimento agrícola e industrial para amenizar as carências internas de alimentos . Os planos deram continuidade ao desenvolvimento industrial pesado, que avançou em direção à tecnologia, e colocou os chineses na lua.
No último FYP os chineses tiveram um crescimento médio do PIB em torno de 10º, registrando índices anuais próximos de 14 por cento. Nele já se projetava a China como a primeira economia do mundo. Caminha para acontecer. Já desbancou os Estados Unidos como o primeiro parceiro comercial de muitos países, inclusive do Brasil.
A moeda chinesa , o yuan, ultrapassou o Euro em 2014, convertendo-se na segunda moeda mais utilizada no financiamento do comércio mundial, depois do dólar. Projeções na economia indicam que, nos próximos anos, a China será o maior investidor internacional do mundo. O renmimbi – o nome da moeda corrente – poderá tornar-se um dos eixos determinantes. Os seus ativos globais triplicaram, passando de quase seis e meio trilhões de dólares a vinte trilhões de dólares, o que fortalece a sua posição econômica global.
A projeção do 14º Plano é um crescimento médio de 5% ao ano, até 2035. Significa que os chineses estão prevendo anos muito promissores e, para não serem surpreendidos pelo esgotamento de alguns setores produtivos, uma pandemia e até com uma guerra, mostram uma certa modéstia ao fixar a taxa de crescimento econômico. Os indicadores da economia chinesa nesse período vai se aproximar de 50 %. Para quem trabalha com trilhões, é algo de se assustar.
Os EUA de Biden e seus aliados terão de conviver e competir nesse cenário. E o Brasil ? É preciso encontrar logo alguém que pense, acredite no planejamento e tenha competência para executar de aneira autônoma, com seriedade, um modelo de desenvolvimento econômico e social, antes que novos aventureiros assumam o Poder. Getúlio introduziu o planejamento, JK e os militares o seguiram. Para ter êxito, não dá para ficar bem com as partes predadoras. Os vampiros encastelados na sociedade. Os eleitores precisam entender que estamos no final de mais uma década perdida.
· Jornalista e professor
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Dizem os que fazem estudos “dos mais”, que o acontecimento “mais Brasília” até agora, foi a inauguração da loja da Vasp, e procuram reunir Pepone e D. Camilo quando relembram o Batista e o Padre Roque. (Publicado em 16/12/1961)