Crise estrutural da Saúde Pública

Publicado em ÍNTEGRA

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

 

Foto: Clique diário (agemt.pucsp)

 

Fenômeno mais grave manifesta-se na ponta do sistema de saúde e não é só o sucateamento de unidades ou a superlotação crônica de hospitais e postos de atendimento. A deterioração do vínculo humano entre profissionais de saúde e pacientes é um grande problema. Nesse estágio, quando o cidadão finalmente obtém atendimento, relação que deveria pautar-se pela escuta e pelo cuidado, transforma-se, muitas vezes, em distanciamento e impessoalidade. Alunos não são preparados para esse contato. A notícia de uma doença séria é dada pelo profissional de uma forma banal e sem empatia.

Em outra perspectiva, casos de tensão e violência verbal, e por vezes física, multiplicam-se nas áreas de espera dos serviços públicos. Aglomerações, filas extensas e sensação de abandono desencadeiam hostilidade, invasões de consultórios e conflitos que se tornam rotina. Transferir a culpa, exclusivamente, para médicos e atendentes é um equívoco: tal simplificação não apenas obscurece as causas profundas do problema, como agrava a desmotivação e o desgaste desses profissionais, comprometendo ainda mais a qualidade do serviço.

Recursos federais destinados à saúde, embora elevados, mostram-se insuficientes frente à demanda. A Lei Orçamentária Anual de 2025 prevê R$ 245 bilhões para o setor (Agência Senado, 2025), valor significativo, mas inadequado para atender ama população superior a 203 milhões de habitantes (IBGE, 2024). Insuficiência não se resume à quantidade; a qualidade da gestão também é crítica. Alocação deficiente de recursos, ausência de planejamento de longo prazo e escolha de dirigentes sem critérios técnicos reduzem a capacidade do sistema de responder eficientemente às necessidades da sociedade.

Outros setores essenciais recebem o reflexo do desempenho da saúde pública, como educação e segurança. Prioridade estratégica ausente e condução condicionada a interesses imediatistas e conveniências administrativas produzem serviços precários e corroem a confiança da população no Estado. Má gestão combinada com mau uso das verbas são o principal fator corrosivo que se propaga do topo às instâncias mais elementares do atendimento. Profissionais de linha de frente, sobrecarregados, enfrentam pressões constantes e tornam-se alvo direto da insatisfação popular. Consequência inevitável é o cidadão frustrado em seu direito constitucional a um serviço público digno.

Desumanização não surge só do contato individual entre servidor e usuário, emerge de negligência institucional sistemática. O distanciamento das instâncias decisórias em relação à realidade concreta da população alimenta impessoalidade. Superar esse quadro exige um compromisso político autêntico com gestão eficiente e transparente dos recursos, aliado a investimentos proporcionais à complexidade do sistema. Reverter o endurecimento das relações requer políticas públicas que resgatem caráter humano do atendimento, incluindo capacitação contínua de equipes, melhoria das condições de trabalho, redução da sobrecarga operacional e valorização profissional baseada em mérito e competência técnica. Sem tais medidas, a saúde pública permanecerá presa ao ciclo de ineficiência e desgaste social. Um exemplo de que é possível trabalhar com verba pública e oferecer qualidade ao contribuinte: A Rede SARAH de Hospitais de Reabilitação, que é uma instituição pública federal vinculada à Fundação das Pioneiras Sociais, é mantida com recursos do Governo Federal. Em 2023, a dotação orçamentária final da Rede SARAH foi de R$ 1.053.000.000,00, conforme o Relatório de Gestão do mesmo ano. A Rede SARAH é referência nacional em reabilitação, com unidades em diversas capitais brasileiras, incluindo Brasília, Salvador, São Luís, Belo Horizonte, Fortaleza, Belém, Rio de Janeiro e Macapá. Em 2023, a instituição atendeu pacientes provenientes de 4.889 municípios, representando 88% do total de 5.570 municípios brasileiros (dados da própria rede). Embora o número exato de pacientes atendidos em 2023 não esteja especificado nos documentos disponíveis, a ampla cobertura geográfica e a especialização da Rede SARAH indicam um volume significativo de atendimentos realizados ao longo do ano.

A compreensão da realidade dessa rede hospitalar reconhecida internacionalmente deve permear o debate público, porque somente com profunda análise é possível que se alcance as origens da crise da saúde pública no país.

Estatísticas internacionais revelam disparidade preocupante: enquanto o Brasil investe cerca de US$ 1.200 per capita em saúde, comparado a US$ 5.500 em países de renda alta, está clara a necessidade urgente de gestão mais eficiente e foco em resultados concretos. Pesquisa do IBGE de 2022 indica que 47% da população ainda enfrenta filas superiores a duas horas para atendimento ambulatorial o que reforça a necessidade de implantação de políticas estruturais.

 

 

A frase que foi pronunciada: 

“Nesses tempos em que as utopias se esgotam por falta de rumos, valores e referenciais, a sociedade se canibaliza.”

Aloysio Campos da Paz

Aloysio Campos da Paz Junior durante entrevista no Sarah, em Brasília.              Foto: Roberto Stuckert Filho/ 30-5-2003

 

 

História de Brasília

Adiado, novamente, o julgamento de João Peles. O advogado auxiliar da acusação teima em dizer que está ameaçado de morte, e já está ficando sem graça, porque não acontece nada. (Publicada em 08.05.1962)

It's only fair to share...Share on Facebook
Facebook
Share on Google+
Google+
Tweet about this on Twitter
Twitter
Share on LinkedIn
Linkedin