Categoria: Íntegra
Criada por Ari Cunha desde 1960
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com Circe Cunha e Mamfil
Numa República, que faça jus ao nome e que objetive a universalização do bem público, não caberia, por razões óbvias e éticas, a existência de cargos e outras sinecuras no serviço público, do tipo vitalício. O próprio sentido da vitaliciedade já desconfigura a República, naquilo que ela possui de mais característico, que é a impessoalidade e o interesse comum.
Ao assenhorear-se de um cargo vitalício, todo e qualquer indivíduo, adentra para um mundo onde as leis naturais, que regem outros homens, já não possui mais sentido. Nesse ambiente, distante anos luz de qualquer sentido republicano, o tempo cuida de amalgamar o cargo, a função e o próprio indivíduo, transmutando tudo num só elemento, onde já não é possível separar e distinguir sujeito e objeto.
O cargo e a função vitalícia representam não só o antípoda da República, como cuida de desmaterializá-la, desmoralizando-a frente a sociedade. Ao transplantar esse modelo próprio da antiga monarquia, para a República, o que o instituto da vitaliciedade conseguiu, foi a contaminação da correta e isenta prestação dos serviços públicos com elementos personalistas, distantes, pois, aos interesses dos cidadãos.
Ao mesmo tempo em que se afasta das necessidades dos cidadãos e da própria ética pública, a vitaliciedade faz da máquina pública um mecanismo à serviço das elites. Para além de servir como instrumento de impunidade para aqueles que eternamente esses cargos, a vitaliciedade cria, aos olhos de todos, cidadãos de primeira e de segunda classe, tornando esses privilegiados e outros, aos quais protegem, blindados pelo manto de intocabilidade, livres de quaisquer punições, mesmo que cometam crimes não condizentes com o cargo que ocupam.
Quando apanhados em crimes e delitos de grande repercussão, dos quais os cidadãos comuns jamais se livrariam, esses eternos senhores são punidos com aposentadoria compulsória, recebendo salário integral e outras prebendas como reparação a expulsão do paraíso.
Esperar que qualquer sentença judicial, transitada em julgado, venha por fim à esse caso é esperar pelo o que jamais irá acontecer. A vitaliciedade de uns acoberta e protege a vitaliciedade de outros e todos vivem felizes para sempre, nessa terra do nunca em que se transformou os cargos vitalícios.
As razões são sabidas: todos esses cargos levam o contemplado à uma espécie de paraíso na terra, onde as mordomias são infinitas, as obrigações são poucas e os castigos não acontecem. De vitalício para uma República bastaria a ética.
A frase que foi pronunciada:
Muitas vezes é a falta de caráter que decide uma partida. Não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos
Nelson Rodrigues
Empatia
Ninguém vê mais em Brasília cavalos puxando carroças cheias de material de reciclagem. Sofriam de maus tratos e exaustão. As instituições que protegem os animais fizeram e aconteceram. Agora é lei. Nada de cavalos carregando peso, sem alimentação adequada e tratados com tanta indignidade. No lugar deles ficaram seres humanos, que agora carregam sozinhos o peso dos carros improvisados que lhes dão o sustento.
Crime
Outro caso é a lei de trânsito, onde há a proibição de o motorista colocar o braço para fora do carro. A não ser que seja caminhão de lixo. Nada previsto na legislação neste caso. Aí sim, é permitido que seres humanos pendurem o corpo na parte externa do veículo faça sol, venha a lua ou faça chuva.
De Brasília
Pouca gente sabe que as primeiras missas da igreja Nossa Senhora de Guadalupe aconteciam no apartamento de Dona Cora Monção, no 5º andar do bloco A da quadra 312 Sul. Enquanto a construção não estava pronta a comunidade da redondeza se apertava no apartamento para ouvir a homilia e receber a hóstia.
História de Brasília
Quando Cachoeira Dourada foi construída, em 1953, ainda não se falava em Brasília. Por isto, a usina foi projetada para uma linha de 200 quilômetros, e 132 mil volts. Com Brasília, essa linha passou a ser de 400 quilômetros, e de 220 mil volts. (Publicada em 22.03.1962)
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Não há hoje um único cidadão de bom senso capaz de apostar um centavo furado no futuro de uma América do Sul, onde os cartéis do narcotráfico cuidam, cada um a seu modo, de destruir os alicerces políticos, econômicos e sociais de muitos países do continente. Para piorar uma situação, que em si mesma já é pra lá de caótica, existe ainda, comprovadamente, associações veladas entre esses cartéis do crime e alguns no comando de seus países, como é o caso específico da Venezuela, onde os observadores dizem ser impossível distinguir as fronteiras que separariam as legendas políticas do crime organizado.
O poderio econômico e de fogo dessas organizações tornam fáceis os acessos ao poder. Quando não compram os políticos e até legendas inteiras, simplesmente os eliminam. O número de crimes contra a vida, principalmente daqueles que ousam enfrentar esses cartéis ou questionar o próprio , ocorrem aos milhares a cada ano.
A maioria, por questões óbvias, não são sequer investigados. Os problemas em países como a Venezuela, Equador, Nicarágua, Colômbia, Peru e muitos outros é que a imprensa livre é uma instituição em processo acelerado de extinção. Há um número incerto e alto de jornalistas que perdem a vida a cada ano ao investigar a infiltração do crime organizado dentro do Estado.
Nesses países, como no Brasil, tornou-se comum o financiamento de campanhas políticas pelo crime organizado. A eleição dos candidatos ligados aos cartéis do crime é um processo também comprovadamente em andamento. O reforço e consolidação do chamado Narco-Estado é uma realidade. Em alguns desses países do nosso continente, a presença dentro dos s de elementos ligados às quadrilhas criminosas vem acontecendo há algum tempo e tornam a realidade em um num misto entre o que é oficial e legal e entre o que é oficioso e ilegal.
Mesmo as forças armadas, como no caso da Venezuela, estão, segundo os serviços de inteligência de vários países, mortalmente infiltradas por criminosos, que não se intimidam em usar o aparato militar para dar proteção às atividades dos cartéis. A situação é de alarme. Correndo por fora desse caos institucional, os guerrilheiros que atuam no combate aos s também engrossam as fileiras para destruir os poderes constituídos.
A questão toda é que a Europa, os Estados Unidos e outros países do planeta injetam bilhões de dólares na compra e no financiamento desses narco-cartéis . Enquanto o consumo de drogas pelo mundo continuar numa trajetória ascendente, os cartéis do crime continuarão agindo para destruir países e sociedades inteiras.
Também, a facilidade de comunicação, trazida pela internet ajuda não só na organização e na logística do tráfico, como colabora para abrir caminhos seguros para o escoamento da produção de centenas de toneladas de cocaína produzidas pelos países sul americanos. O Brasil não está fora de rota da morte.
A Região Amazônica é hoje um corredor natural para narcotraficantes, que contam com apoio local do crime organizado que age naquela área. Outro fator que aumenta a produção e, consequentemente, o poderio desses cartéis do crime é dado pela integração internacional de muitas facções de traficantes, que parecem ter criado uma espécie de multinacional das drogas.
» A frase que foi pronunciada
“Toda forma de vício é ruim, não importa que seja droga, álcool ou idealismo.”
Carl Jung
Atitude
» Enfim os pedidos dos moradores da Asa Norte foram atendidos pelo Detran. A Operação Sossego apreendeu 15 motos, que trafegavam pelas calçadas e com escapamento alterado para fazer mais barulho.
Consciência
» Proposta interessante do ex-r José Serra vai à sanção presidencial. O projeto torna lei a negociação prévia antes de multas em estabelecimentos pela Vigilância Sanitária. Em caráter de alerta, a solução é cobrada em um espaço de tempo. Caso não seja cumprida, daí sim, vem a multa.
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VISTO, LIDO E OUVIDO
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Alguns programas e projetos, pela importância que têm para o futuro da sociedade, pelo volume de recursos que disponibiliza, pelo tempo necessário que requer para apresentar resultado e pelo apoio que recebe da população, a que sempre melhor pode avaliá-los, não deveriam sofrer processos abruptos de descontinuidade. É o caso do Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) que, por decisão do atual presidente da República, será encerrado até o fim deste ano letivo. Se o mandatário tivesse mandado fazer uma consulta, mesmo informal, junto aos pais de alunos, que acompanham de perto esse modelo, ou mesmo ouvido os governadores, prefeitos, por certo, seria forçado, pelas evidências, a repensar sua decisão ou mesmo adiá-la sine die.
Talvez, mais simples ainda, teria sido observar o que foi analisado pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) do Ministério da Educação. De acordo com os técnicos, que conhecem e pesquisam os assuntos relativos à educação em nosso país, a realidade trazida pelo modelo das escolas cívico-militares recomenda, por seus indicadores na melhoria do sistema ensino-aprendizado, não só a sua manutenção, como uma possível expansão do programa.
Somando-se os dois modelos que existem hoje do Pecim, o programa atinge um total de aproximadamente 202 mil alunos em diversas cidades e municípios espalhados pelo país, inclusive no Distrito Federal. Portanto, está presente em todas as unidades da Federação.
Criado em 2019 pelo ex-presidente Bolsonaro, o programa começou a funcionar no ano seguinte e causou muita polêmica, principalmente entre o pessoal da esquerda, sofrendo ataques de todos os lados, inclusive por parte da imprensa. Alguns especialistas em educação chegaram a fazer uma forte campanha contra esse modelo, taxando-o de retrógrado e sem conteúdo didático válido. O que essa gente não contava é que o programa, depois de efetivamente testado na prática, mostrou-se de grande eficácia e valia tanto no problema endêmico da violência física nas escolas, envolvendo alunos com alunos e alunos contra professores, com uma redução desses casos em mais de 82%. A mesma redução se verificou com relação a violência física, que foi também de 82%.
O problema de décadas que era a evasão escolar, com alunos abandonando as escolas foi reduzido também em mais de 80%, segundo as pesquisas. Com dados positivos dessa natureza, não surpreende que 85% das comunidades diretamente beneficiadas consideraram que o programa era satisfatório, pois havia melhorado muito o ambiente escolar, com mudanças visíveis no comportamento de crianças e adolescentes. Também no rendimento escolar, a aceitação foi total, com o aumento significativo nas notas.
A decisão de encerrar o programa, segundo alguns parlamentares, governadores e prefeitos, obedeceu a ditames puramente ideológicos e defendidos pelo atual ocupante do Palácio do Planalto, o que repercutiu muito mal entre a classe política. Após o anúncio, diversos políticos em todo o país subiram à tribuna para protestar contra a medida. Curiosamente, não se ouviu uma voz sequer da situação defendendo a medida. Tão logo foi anunciada a decisão de encerrar o programa, diversos governadores e prefeitos deixaram claro que darão continuidade, por conta própria ao Pecim em suas regiões. Não por ideologia, mas pelos resultados.
A frase que foi pronunciada
“A disciplina é o fogo refinador pelo qual o talento se torna habilidade.”
Roy L. Smith
Agência Câmara
O deputado federal José Medeiros comemora a aprovação de seu projeto que define como produtivo imóvel rural que mantenha a área ambiental preservada. “Não pode ser estimulada a desapropriação de terras que possuem reserva legal mantida e que respeite a legislação quanto às áreas de proteção obrigatórias”, diz o autor do projeto.
Sucesso
São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal são alguns dos estados que confirmaram a intenção de dar prosseguimento ao Programa Nacional de Educação Cívico-Militar (Pecim). Outros governadores prometem engrossar essa fila e até falam em dar novos incentivos ao Programa, que tem se confirmado como um modelo de sucesso.
Paz
Uma das razões que mais pesam sobre essa atitude de dar prosseguimento ao programa é que ele tem tido reflexos diretos na questão da violência nas escolas, sobretudo aquela que afeta diretamente os professores. Nas últimas décadas, têm aumentado exponencialmente os casos envolvendo agressões físicas e verbais contra os docentes.
História de Brasília
Nós havíamos prometido dissecar o assunto energia elétrica de Brasília. Aqui estamos para isso, com as piores notícias que poderíamos dar para o povo. Brasília não terá energia abundante, pelo menos durante dois anos. (Publicada em 22/3/1962)
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Quando da idealização da nova capital, o urbanista Lucio Costa parece ter experienciado uma espécie de epifania, ou ideias iluminadas. Numa inspiração divina, passou a compor seu projeto, tal como um músico que elabora uma sinfonia. Buscou, como preocupação central de seu trabalho, implantar entre as áreas cheias, ou que receberiam construções e rodovias, o mesmo porcentual de áreas vazias, ou ocupadas apenas por vegetação.
Mais do que seguir as diretrizes pregadas pelo Modernismo na arquitetura, que propunham a construção de cidades jardins, com setorização de serviços, o urbanista anteviu em seu projeto, todo ele feito à mão em seus pormenores, que essa composição arquitetural deveria, para obedecer os conceitos que regem uma composição harmônica e bem resolvida, intercalar entre os sons, ou seja, entre as construções, áreas proporcionais destinadas ao silêncio e ao vazio, representado pelos jardins e gramados.
Não fosse o silêncio entre as notas, não haveria composição que pudesse ser apreciada por quem quer que seja. A importância do cheio corresponde à imponência do vazio. Sem um conceito simples como esse, mas de difícil entendimento por muitos, não haveria como erguer uma cidade como Brasília, patrimônio cultural da humanidade.
Falar em solidão ou em desperdícios de áreas é fácil, quando não se entende ou se despreza a proposta do autor. Preencher esses espaços de paz e de transição, com moradias, comércios e outras construções, como pretendem os empreendedores de imóveis e outros especuladores, que não enxergam senão lucros imediatos e outras vantagens, é o meio mais rápido de destruir esse patrimônio que é de todos e que é único no mundo.
A ocupação desses espaços vazios, sejam eles parques ou simples áreas verdes espalhadas pela área central da capital e pelo seu entorno, interessa apenas a uma minoria, que não sabe o que é e qual o significado de uma obra sinfônica. Quase todos os dias, se ouvem notícias de áreas que são invadidas ou perdidas para grileiros e outros profissionais do crime.
O crescimento desordenado da cidade, açulado por uma casta de políticos locais sem compromisso com a capital, aumenta a pressão pela ocupação das áreas verdes e todo e qualquer espaço que eles considerem vazios e desocupados.
As ações do governo, juntamente com os movimentos originados na própria Câmara Distrital, oscilam ora entre negligência, ora em incentivos abertos a essas ocupações. As discussões sobre novos ordenamentos urbanos da capital, com presença, em sua maioria de pessoas alheias ao conceito de Brasília, só resultam na modificação da carta original que deu sentido à cidade, criando-se novos assentamentos, a maioria sem projetos de impacto ambiental e de infraestrutura, tudo feito para atrair e agradar eleitores.
A bola da vez é o Parque das Garças, situado na extremidade da Península Norte, entre as QI e QL 16, uma área com mais de 16 hectares, com flora e fauna próprias e uma vista de tirar o fôlego. Graças à união dos moradores dessa região e depois de uma luta de anos, a área foi transformada em parque e todos os dias recebe centenas de visitantes.
Agora, alguém, talvez dentro do GDF, teve a insana ideia de transformar aquele paraíso, em mais uma área de construção, dividindo a terra em vários parcelamentos para a obras de unidades imobiliárias, com lotes para comércio, estacionamentos, bicicletário, vias de circulação, e outros espaços.
A ideia maluca é criar área semelhante a que existe hoje no chamado piscinão na estrada do Paranoá, onde a instalação de bares, com venda de bebidas alcoólicas faz a alegria dos frequentadores locais e o terror de quem paga o mais alto IPTU da cidade, que é obrigado a triplicar os cuidados nas estradas diante de tantos motoristas alcoolizados.
Naquele espaço a exploração das áreas é feita por particulares que lá estão desde a sua criação, servindo para o comércio de bebidas e para lucro de dois ou três comerciantes. O piscinão é conhecido hoje por ter se transformado em uma área onde as brigas, afogamentos e bebedeiras ocorrem com frequência, o que acaba afastando muitas famílias do local, temerosas com as confusões provocadas pelos beberrões. Os benefícios da região ainda não chegaram para quem paga altos impostos.
A frase que foi pronunciada
Acredito em espaços vazios; eles são a coisa mais maravilhosa.
Anselm Kiefer
História de Brasília
A energia que tem vindo até agora, regularmente, é resultado de muito esforço e muita luta da CELG e do DFL. A cachoeira Dourada, que fornece, possui duas máquinas em trabalho permanente. Se uma só funcionar, a luz não dá para chegar até Brasília. Por isto, trabalham incessantemente, com manutenção feita em funcionamento. (Publicada em 22/3/1962)
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É em um momento conturbado como esse que experimentamos agora, que a busca por luminares de nossa cultura se torna mais do que nunca necessário e urgente. Pois quando parecemos estar perdidos em nossos caminhos, mais e mais se faz preciso conferir novamente a bússola e os mapas.
O problema é que ao buscarmos em que ponto da encruzilhada nos desviamos do caminho na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática e participativa, temos que recuar muito no tempo, voltando, talvez, as primeiras décadas do século passado, época em que o Brasil, por diversos fatores e até mesmo pelo despertar provocado pelo modernismo, com a valorização das riquezas nacionais, saiu do berço esplêndido, onde dormia, e passou a caminhar desperto.
A redescoberta e valorização de nossas riquezas culturais, na música, nas artes, na literatura e outas manifestações do gênio humano, trazendo de volta a noção do nacionalismo e dos elementos inerentes aos conceitos de pátria e nação, infelizmente não se estenderam ao mundo político e parece não ter sensibilizado as elites políticas.
A modernidade, mesmo aquela pregada pelo movimento de 1922, não foi capaz de trazer uma renovação e um novo ânimo para nosso mundo político. Poucas décadas depois da instalação da República, ainda andávamos aos palpos sobre nossa organização política. Ainda em 1936, o historiador e sociólogo Sérgio Buarque, denunciava, em Raízes do Brasil, que a nossa democracia tinha sido sempre “um lamentável mal-entendido”. As razão, segundo o pesquisador, não seria tanto a ausência de verdadeiros partidos políticos entre nós, mas sobretudo causada por nossa inadaptação a um regime legitimamente democrático.
Mais uma vez o motivo estaria no embate e na dificuldade em conjuminar a estrutura de personalidade com a estrutura social. O fato é que para alinhar o poder do governo aos anseios manifestos pelo caráter da sociedade, é preciso que o mandatário assuma um papel isento de elementos do personalismo. É o caso dos dois políticos de maior expressão atualmente. Tanto Lula como Bolsonaro possuem boa parte do poder eleitoral que exibem, lastreado apenas na imagem que cada reflete para a sociedade. Não há partidos de destaque nesse jogo. Neste momento o personalismo dita as regras. O desaparecimento de qualquer um dos dois personagens do momento, levará inexoravelmente ao ocaso de suas legendas de suporte. O mais trágico é que a população adere a esse tipo de representação personalista, porque identifica-a como seu próprio caráter.
Os malefícios nesse tipo de representação surgem logo na forma de um patrimonialismo endêmico e de uma usurpação dos espaços públicos como prolongamento natural das propriedades particulares desses mandatários. Para outro luminar de nossa realidade presente, o ex-ministro Almir Pazzianotto, o povo em geral, pelo fato de não participar do processo de constitucionalização do Brasil, parece nutrir um certo desapreço pelo regime democrático, o que para ele é um fato trágico. Por isso, Pazzianotto vê hoje, mais uma vez, o avanço desmedido da censura, mesmo a despeito de duas cláusulas pétreas da Constituição, que vedam essas medidas. Vivemos hoje segundo ele, um sério risco e uma possibilidade real de um retrocesso.
Para outro esclarecido jurista, Ives Gandra, o momento é delicado. Com base em estudos feitos por universidades europeias, o jurista ressaltou que o Brasil vive hoje numa espécie de democracia relativa, ou exclusivamente do tipo eleitoral, com o eleitor indo as urnas votar e a partir desse processo mecânico, passa a não comandar mais nada. O Brasil segundo o analisa, possui hoje efetivamente uma censura sendo empregada em larga escala, coisa que nenhuma democracia autêntica deve ter e temos ainda presos políticos, por manifestação, também um fato que democracia alguma tolera.
Por outro lado, estamos imersos num tipo de democracia em que há, de fato, a predominância de um poder, que comanda agora o que é democrático e o que não é. Na realidade qualquer jurista que hoje venha analisar de modo isento o momento em que estamos vivendo, reconhece, logo de saída que toda a democracia latino americana é frágil. A história do nosso continente é a história de uma oscilação entre uma sucessão de golpes e outros restabelecimentos da democracia. A América Latina experiencia hoje uma onda vermelha, cujo o objetivo estratégico é o Brasil. O Brasil é o alvo dessa onda atual e por isso mesmo vai vivenciando, mais uma vez, os ventos de um fechamento institucional cujo o primeiro passo já foi dado que é a censura da imprensa. Aqui voltamos ao princípio de tudo: sem imprensa livre não há que se falar em regime democrático.
A frase que foi pronunciada
“O Estado sou eu!”
Rei-Sol
História de Brasília
Nós havíamos prometido dissecar o assunto energia elétrica de Brasília. Aqui estamos para isto, com as piores notícias que poderíamos dar para o povo. Brasília não terá energia abundante, pelo menos durante dois anos. (Publicada em 22.03.1962)
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Dizer que o mundo está muito estranho e mudado não chega a ser surpresa para ninguém. O que causa espanto é ver hoje boa parte da mídia noticiosa tecendo elogios e mesmo incentivando para que os Poderes do Estado tomem providências no sentido de regular as redes sociais. Quem poderia imaginar que um dia, a mídia impressa, outrora o maior bastião das liberdades de expressão e de defesa da democracia, se arvoaria agora em censora, tomando a frente de um movimento que desenhará, com as tintas do Poder, aquilo que pode ser visto, lido e ouvido nas redes sociais, clamando pelo estabelecimento de uma legislação dura que coíba o excesso de liberdade dessas empresas.
Quem te viu, quem te lê. A única explicação para essa estranha tomada de posição em favor da censura é que os antigos e tradicionais meios de comunicação estão ressentidos com a concorrência imposta por essas empresas de alta tecnologia. Ver a mídia nacional com esse tipo de campanha em favor da Lei das Fake News, faz lembrar aqueles prisioneiros condenados à morte, durante a Revolução Francesa, reclamando da baixa qualidade das lâminas empregadas nas guilhotinas.
Enquanto parte da mídia deixa explícito o que pensa do PL 2.630/2020, falando abertamente da necessidade de aprovação desse projeto, outros meios, pelo silêncio e até pelo modo pouco engajado com que lidam com o assunto, colaboram, ao seu jeito, para tornar a censura dessas empresas, uma oportunidade. O que esse tipo de comunicação não se dá ao trabalho de analisar é essa campanha ou esse silêncio em prol da censura das mídias. Passa longe do que deseja a sociedade. Uma coisa é certa: tão logo o PL 2.630 seja aprovado, com, ou sem, modificações e entre em vigor, estendendo os braços de polvo da censura sobre todos e sobre tudo, esse mesmo meio de divulgação de notícias, que hoje o apoia ou silencia sobre o tema, não reconhecerá a posição tomada, tão pouco fará mea-culpa sobre sua atuação, restringindo-se a lamentar o ocorrido e colocando-se como a principal vítima desse fato.
Para o cidadão que observa de Norte a Sul a paisagem momentânea do país, fica a certeza de que nesse e em outros acontecimentos desses tempos incertos, de que está só. Sem o observatório de uma rede de comunicação livre e isenta, que é o farol das liberdades civis, vagaremos na escuridão, sujeitos a sermos lançados e esmagados contra as rochas.
É preciso entender que a censura é a ponta de lança ou a força avançada que trará atrás de si a ditadura e todos os seus males. Para os brasileiros que estão atentos a esse estranho projeto, o que se propõe é um atentado à democracia e uma renúncia às liberdades individuais. Deixem que a legislação que aí está cuide do que é fake news, injúrias, difamações e outros crimes. O que não se pode é deixar ao alvitre da subjetividade dos Poderes do Estado o que pode, ou não ser, veiculado.
Caso essa famigerada proposta vá adiante, estará aberta a porteira para a entrada em cena da pós-verdade, conforme elaborada pelo governo, deixando os fatos de lado, mesmos os mais escabrosos, para apelar para as emoções e para as crenças pessoais, fazendo a população acreditar que os maiores erros do governo são realizados de boa-fé e tendo em vista de um bem comum que virá no futuro.
A frase que foi pronunciada
“Os socialistas não gostam que pessoas comuns escolham, pois elas podem não escolher o socialismo.”
Margaret Thatcher
Comparsas
Derrubadas pelo Varjão, Riacho Fundo I. Interessante notar nas imagens que as casas construídas em terrenos ilegais recebem, sem burocracia, os serviços de água e luz, o que é um disparate. As casas legalizadas, quando precisam dos serviços dessas companhias, levam horas ao telefone ou é um vai e vem incessante de documentos. Ao ver de quem paga impostos, essas empresas também são invasoras.
História de Brasília
Já houve, de parte do delegado do Iapfesp, afirmação caluniosa contra êste colunista, mas a retratação veio em menos de 24 horas. Agora, com novo presidente do Instituto, a nossa esperança é a de todos os moradores: de que o Iapfesp exista em Brasília como um nucleo residencial e não como o que é. (Publicada em 21/3/1962)
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Desde a criação, em março de 1991, o Mercosul anda à procura de uma identidade e de uma unificação comercial, que, de fato, não se realizou plenamente, pois, como se sabe, o mundo político que comanda esse bloco regional, por suas idiossincrasias, tem sido o grande empecilho ao deslanche desse mercado comum. O que surpreende é que ninguém, até aqui, tenha chamado a atenção para esse aspecto. Fosse entregue em mãos de empresários e de livres negociadores, o Mercosul seria outro e seus efeitos sobre a economia da América do Sul despertariam a inveja no restante do planeta.
Sob o comando de políticos, uma coisa é certa: seu futuro será igual ao seu presente e seu destino será a irrelevância. Nesse quesito, faz bem a União Europeia em não fechar acordos com o bloco, pois sabe que a insegurança política regional, seus desejos e interesses passam longe do que necessitam mercados realmente liberais e abertos.
A união plena requer renúncias e liberdades que o mundo político e, sobretudo, a ala de esquerda desconhece e abomina. O mercado, por características próprias, é um lugar não geográfico que pressupõe o livre comércio e a livre manifestação de ideias e de boa vontade. Tudo o que vemos rechaçado ultimamente. Com isso, o Tratado de Assunção, criando o bloco, permanece como letra inerte no papel e assim ficará até que haja um acordo político entre as partes, o que significa que jamais será acertado.
Faltam maturidade política das partes e real intenção de realização de acordos. O que se tem até o momento são países, a maioria em péssimas situações em suas economias internas, que estão no bloco em busca de socorro para a falência geral. É o que se pode chamar de bloco dos sujos. Chamem os economistas realmente liberais para refazerem os tratados de livre comércio, deixem a gestão desses acordos entregues nas mãos de técnicos balizados e veremos o Mercosul alçar voo com suas próprias asas.
O potencial econômico do continente sul-americano é conhecido. Não por outro motivo, os chineses vieram para essas bandas para explorar as riquezas e seu mercado. Sobram falações políticas e falta a publicidade de acordos de comércio e de mercado. Deem autonomia política ao bloco, e ele encontrará o lugar que lhe pertence na economia global.
Hoje, o Mercosul é apenas um fórum político sem relevância prática. A tão sonhada economia de escala não se efetuará por mãos de dirigentes políticos que buscam outros objetivos. Exemplo desse descompasso pode ser visto agora, com a possível aprovação da reforma tributária como quer o governo brasileiro. Como conciliar as cláusulas, nitidamente centralistas da economia, com o livre mercado? Mercados comuns, por suas características liberais, caminham para um lado. A reforma tributária, por seus aspectos que apontam para o controle da União sobre os entes federados, caminha em sentido oposto, de encontro aos desejos de fechamento político e econômico.
Esquerdas políticas e livre comércio não combinam e são diametralmente opostas. Uma fala em controle e centralismo, outra busca abertura e liberdade. O que temos até aqui, a despeito de alguns avanços tímidos, são pantomimas num teatro de faz de conta, onde os presidentes de cada país se encontram, fazem seus discursos enfadonhos, sem lastro ou credibilidade fática para no livre comércio, permanece a situação de inércia do bloco, atado a crendices e ideologias do século passado. As poucas vozes que se ouvem nessas reuniões, clamando pela racionalidade, são tomadas como excêntricas e dissonantes. A continuar nessa toada anacrônica, o Mercosul continuará a ser apenas um clube de políticos regionais, sem perspectiva e longe de uma economia de mercado ou de um modelo próximo ao que representa, hoje, a União Europeia.
» A frase que foi pronunciada
“Lula diz que Mercosul busca acordo comercial ‘ganha-ganha’ com a União Europeia “
Manchete da Market Screener
História de Brasília
O Departamento de Correios e Telégrafos está sempre reclamando contra o abuso dos deputados e dos senadores que utilizam seus serviços sem pagar nenhuma taxa com assuntos que, absolutamente, não deviam ser transmitidos. Efetivamente, o abuso chegou ao máximo na temporada do Natal, quando 45 mil mensagens foram transmitidas pelos parlamentares, sobrecarregando o serviço. (Publicada em 2/3/1962)
Todos e quaisquer problemas, que hoje são de difíceis soluções, quer pela dimensão que tomaram ou pelos profundos estragos que geraram, foram, lá no seu início, pequenos e de fáceis resoluções. A questão aqui é reconhecer esses problemas a tempo, quando ainda estão surgindo e prontos para serem debelados. Com isso fica claro que os problemas, quando não reconhecidos quando deviam, crescem, ganham vida própria e se tornam maiores do que os recursos usados para saná-los.
É o caso aqui do consumo de álcool por menores de idade em Brasília, um problema que desde sempre tem sido alertado nesse espaço e que já pode ser considerado hoje como uma questão de saúde pública, tamanho o contingente de crianças e adolescentes que está imerso nessa tragédia. Sabe-se, por pesquisas, que quanto menos idade um indivíduo é apresentado ao álcool, menos chances ele tem de se recuperar e mais chance de vir a se tornar um adulto com sérios problemas de saúde física e mental.
O alcoolismo, é uma doença grave e em seus graus mais elevados, ocorre, na grande maioria, em indivíduos que foram expostos ao álcool ainda jovens. Os estragos feitos pelo consumo de álcool no corpo de um indivíduo, onde a maioria dos órgãos ainda estão em formação, são imensos e de difícil recuperação. Em todos os países desenvolvidos e onde as autoridades temem pelo uso do álcool, as penalidades para os infratores, que vendem bebidas alcoólicas para menores ou oferecem o produto são pesadas e não raro terminam com o fechamento definitivo do estabelecimento comercial .
No Brasil, e em Brasília é um pouco diferente. A fiscalização corre frouxa e isso contribui para o aumento no consumo de álcool pelos mais jovens. Não se vê também campanhas educativas e de alerta sobre os malefícios das bebidas alcoólicas no organismo humano. Outro fator a contribuir para essa verdadeira calamidade pública é que aqui na capital, existe um número absurdo de estabelecimentos que vendem bebidas. Em todas as quadras e endereços na cidade botecos e agora as distribuidoras de bebidas estão presentes, vendendo livremente desde as inocentes cervejinhas em lata até bebidas com alto teor de álcool como as cachaças. As autoridades sanitárias fazem cara de paisagem para o problema que só cresce a cada dia. Os casos de dependência em álcool abarrotam as clínicas de psiquiatria. É sabido que o álcool leva os menores de idade a experimentar outras drogas e isso contribui para o aumento do problema. A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar, (PeNSE) vem desde 2009 se debruçando sobre o problema. Em parceria com o IBGE, fez, em 2019, uma coleta de dados em mais de 4360 escolas em todo o país, chegando à conclusão de que 34,6% do total de estudantes consultados havia experimentados bebidas alcoólicas pela primeira antes dos 14 anos. A pesquisa mostrou ainda que as meninas consumiam mais álcool que os meninos, 36,8% contra 32,3%.
Outras pesquisas mostram também que menores que convivem em seus lares com parentes que bebem, têm mais propensão ao uso do álcool. Mesmo sabendo que a Lei nº 13.106 de 2015, tem tornado crime servir bebidas para crianças e adolescentes, o consumo nessa faixa etária não tem diminuído. Não se conhece um caso sequer de estabelecimento fechado por venda de bebidas a menores. O pior é que os educadores tem constatado que as crianças estão procurando esse perigo e bebendo cada vez mais e cada mais precocemente. É nas escolas públicas que o problema é maior e mais recorrente.
A Secretaria de Educação não dá conta da tarefa. Não é raro verem-se bares próximos às escolas e não é raro também observarem-se maiores de idade comprando bebidas para menores de idade. Apreensões de bebidas alcoólicas dentro das escolas é comum. Bebidas, cigarros e drogas são ofertados em cada esquina. O número de policiais é insuficiente para conter o consumo e para reprimir a venda. Com isso, o problema tem crescido e adquirido um grau de grave ameaça para a sociedade. Se não for combatido com severidade agora, mesmo sabendo de suas dimensões, chegaremos a um ponto em que não será mais racional falar-se em futuro para esses jovens. O futuro determinado pelo consumo precoce de álcool é aquele que se vê hoje nos presídios e nos manicômios judiciais.
A frase que foi pronunciada:
“Como o álcool é incentivado pela nossa cultura, temos a ideia de que não é perigoso. No entanto, o álcool é a mais potente e tóxica das drogas psicoativas legais.”
Sebastian Orfali
História de Brasília
Mais uma do “Gavião”: falta água quase todos os dias. Os reservatórios construídos não foram inaugurados. Ou melhor, foram, e não aprovaram, por causa da infiltração. As especificações da construção estavam erradas. (Publicada em 11.03.1962)