VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)
Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Dois problemas, causados em sua origem, têm colocado mais entraves à séria discussão sobre o consumo e/ou a liberação das drogas em nosso país. O primeiro deles reside no fato de que o Supremo, avançando o sinal, achou por bem liberalizar o consumo dessas substâncias, atropelando decisões que, por seu amparo constitucional, manda ser feito no âmbito do Poder Legislativo, onde estão os representantes da população.
É aí nesse Foro que essa importante decisão deveria ser levada adiante. O segundo problema é que, por falta de estudos mais aprofundados e mesmo de um debate amplo e aberto em âmbito nacional, essa discussão tem muito ainda que caminhar. Colocar o carro na frente dos bois, como ensinavam os antigos, é um contrassenso. Deixar que esse assunto seja, de forma definitiva, decidido por pessoas que, por sua vivência profissional, revelam total desconhecimento da questão, é tão perigoso como a tentativa de impor ordenamentos que vão contra o consenso geral, costumes e tradições de nossa sociedade. O mais sensato nessa discussão toda, feita por doutos juristas, seria começar a construção desse projeto de liberalização, pelo alicerce e não pelo telhado.
Uma das milhares de medidas legais que poderiam ser adotadas, antes do regramento de liberalidades, seria obrigar as escolas e os meios de comunicação a promoverem campanhas sistemáticas e contínuas, alertando para os perigos físicos e psicológicos do consumo dessas substâncias, com anúncios em milhões de pontos espalhados pelo país. Ou seja, primeiro educar.
Um outro ponto racional seria a adoção de medidas legais para cercar o problema, impedindo que ele adentrasse nas instituições públicas. Para isso bastaria a exigência de exames para detectar o consumo dessas substâncias, para todo o funcionalismo público, incluindo aí alunos e professores das escolas públicas, médicos, policiais, militares, políticos e toda uma infinidade de profissões pagas pelo contribuinte.
Com essa obrigação os profissionais que gozam de estabilidade funcional e de prerrogativa e que precisam desses empregos e funções pensariam duas vezes, para não serem exonerados a bem do serviço público. Não faz sentido o pagador de impostos financiar os vícios e maus costumes de uma parcela do funcionalismo. Essa simples medida, impediria ainda muitos acidentes e outros contratempos. Não é de hoje que se sabe que o consumo de substâncias proibidas por parte do funcionalismo é alta e acarreta grandes prejuízos aos cidadão.
A liberalização de substâncias psicotrópicas, que seguramente afetam a produção cognitiva dos indivíduos, por seus males, deveria, em contrapartida, deixar claro para aqueles que fazem uso desses produtos, que, por lei, ele passa a ser visto pelo Estado, e por tabela, pela própria sociedade, como um indivíduo incapaz de prestar quaisquer serviços públicos para a população. Não se enganem: em qualquer situação em que um dependente químico atue, haverá sempre uma possibilidade de risco à segurança da sociedade.
Como a dificuldade em combater a disseminação das drogas reside, basicamente, em posturas individuais e subjetivas, fazendo, de cada cidadão, um juiz de si próprio, é preciso começar as ações de restrição de consumo pelo próprio indivíduo, limitando seus passos e impedindo que ela haja como agente propagador desse mal do século. Não é estabelecendo quantidades de drogas que cada um pode portar que se adotam medidas efetivamente eficazes, mas fazendo com que cada um, individualmente, tenha a possibilidade de livre escolha do caminho que quer seguir.
A frase que foi pronunciada:
“As pessoas usam drogas, legais e ilegais, porque as suas vidas são intoleravelmente dolorosas ou monótonas. Eles odeiam o trabalho e não encontram descanso no lazer. Eles estão afastados de suas famílias e de seus vizinhos. Deveria dizer-nos algo que nas sociedades saudáveis o uso de drogas é comemorativo, alegre e ocasional, enquanto entre nós é solitário, vergonhoso e viciante. Precisamos de drogas, aparentemente, porque nos perdemos.”
Wendell Berry, A Arte do Lugar Comum: Os Ensaios Agrários
Amadores
Sistemas administrativos não se cruzam causando enorme prejuízo aos contribuintes. É inimaginável que as polícias deste país com dimensões continentais não tenham um banco de dados em comum. Nem tribunais conjugam informações com a Secretaria da Fazenda local ou federal.
Sem pudor
Para quem critica os cartórios, fica a fala de um funcionário que sabe o que diz. “Não fossem os cartórios em Brasília, os grileiros estariam vendendo frações da calçada da Praça dos Três Poderes.”
Só no Brasil
Uma senhora, que parecia querida de todos os funcionários do Detran, atendia o público descascando uma manga suculenta.
História de Brasília
A razão para o que ocorre, é que o deputado, sendo cearense, trouxe, de sua terra, uma cozinheira que prepara excelentes tapioquinhas de côco, e a afluência de amigos não é devido a outra coisa, senão a uma demonstração pantagruélica, com variações para a mandioca. (Publicada em 27.03.1962)