Saída tem acento. Sauipe não tem. Por quê?

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Sai não tem acento. Saí tem. Saudade não tem. Saúde tem. De tão repetida, a regra tornou-se mais conhecida que a tentação de Adão e Eva. O professor a ensina. Os alunos a memorizam. Os manuais a ilustram. Os concursos a cobram. Em suma: ignorá-la é como desconhecer que a noite vem depois do dia.

Grandes e pequenos trazem na ponta da língua os quatro requisitos para a quebra do ditongo. Um: o u ou o i têm de ser a sílaba tônica. Dois: têm de ser antecedidos de vogal. Três: têm de formar sílaba sozinho ou com s. Quatro: não podem ser seguido de nh.

Exemplos? Há pra dar e vender: saí (sa-í), saída (sa-í-da), egoísta (e-go-ís-ta), saúva (sa-ú-va), baús (ba-ús), contribuí (com-tri-bu-í), possuís (pos-su-ís). Mas: rainha (ra-i-nha), campainha (cam-pa-i-nha), ladainha (la-da-i-nha).

Mas eis que vem a acordo ortográfico. Ele manda pras cucuias um acentinho que atinge talvez meia dúzia de palavras. Trata-se do agudo usado no u e i das paroxítonas quando antecedidos de ditongo. É o caso de feiúra (fei-u-ra), baiuca (bai-u-ca), Sauipe (Sau-i-pe).

Percebeu a nuança? Para perder o grampinho, o i e o u têm de ser antecedidas de ditongo – uma vogal e uma semivogal que soam numa só emissão de voz. Se forem antecedidos de vogal, continua como está e como sempre esteve.

Fácil? Então responda rápido: Piauí perdeu o acento? Antes de bater o martelo, leia os dois parágrafos antecedentes. E daí? Se você apostou no não, acertou. A razão: as mudanças só atingiram as paroxítonas. Pi-au-í é oxítona. A reforma não tocou nem nas oxítonas, nem nas proparoxítonas, nem nos monossílabos átonos. Meteu a tesoura só nas paroxítonas. É por isso que Cauí conserva o grampinho.