CBPILU040820132683dragão Crédito: Cristiano Gomes/CB/D.A Press

Credit Suisse prevê inflação de 7%, mas não descarta alta de quase 8%

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O choque nos preços das commodities — por conta da guerra no Leste Europeu após a invasão da Ucrânia pela Rússia há 14 dias — só agrava as perspectivas do mercado para a inflação, que, em algumas previsões, já pode chegar perto de 8% se houver reajuste nos preços dos combustíveis. 

 

Um dia depois de o Bradesco elevar de 5,4% para 6% a perspectiva do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2022, o Credit Suisse elevou de 6,2% para 7% a estimativa para o IPCA deste ano. Contudo, analistas do banco suíço estimam que “um reajuste total nos preços dos combustíveis elevaria a projeção de inflação deste ano para 7,8%”.

 

Conforme o relatório assinado pelos economistas Solange Srour, Lucas Vilela e Rafael Castilhoeles, “a alta dos preços dos alimentos e da gasolina devem mais do que compensar uma possível queda de preços industriais, devido à redução esperada pela redução no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) implementada pelo governo neste ano”. “O choque negativo foi definido para afetar a inflação mundial e o Brasil não ficou imune. Seria necessário mais tempo para avaliar adequadamente a intensidade do impacto, e agora, com mais informações, estamos aumentando nossa projeção de inflação de 6,2% para 7% em 2022 e de 3,8% para 4% em 2023”, destacou o documento.

 

A inflação mais elevada em 2023 será impulsionada pela inércia, que tende a ser cada vez maior, segundo o texto. A meta de inflação determinada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) deste ano é de 3,5%, com teto de 5% anuais. Para o próximo ano, essa meta cai para 3,25% e o limite superior passa para 4,75%.

 

De acordo com o relatório, os fortes aumentos nos preços das commodities agrícolas e combustíveis em moeda local devem afetar fortemente a inflação do IPCA nos próximos meses. Os preços da gasolina nos mercados internacionais estão atualmente 42% acima dos praticados no Brasil. Em relação a dezembro de 2021, os preços do trigo aumentaram 57%, da soja, 23% e do milho, em 20%.

 

Selic deve superar 13%

 

E, como os preços das commodities podem continuar subindo no mercado internacional, o banco elevou a previsão para a taxa básica de juros (Selic), de 12,75% para 13,25% ao ano. Atualmente, a Selic está em 10,75%, mas, na semana que vem, a expectativa do mercado é de que o Banco Central eleve a Selic para 11,75%, pelo menos, como foi sinalizado no último Comitê de Política Monetária (Copom).

 

A instituição financeira manteve essa projeção de alta de 100 pontos base (bps), mas está elevando as previsões para as reuniões de maio e de junho, elevando de 0,50 bps para 0,75 bps em cada Copom, o que elevará a Selic para 13,25%, patamar que deverá ser mantido até dezembro.

 

“Reconhecemos que no atual cenário de alta incerteza e taxa de política monetária já elevada, seria mais apropriado seguir uma estratégia de aumentos graduais por um período consistente de tempo, até que a inflação e as expectativas de inflação caiam na meta de inflação. No entanto, não é hora de testar a credibilidade do Banco Central e uma redução mais forte do que o esperado no ritmo de aperto poderia ser visto pelo mercado como um fator que impediria tanto a valorização da moeda quanto a redução da inflação expectativas para 2023 e 2024”, destacou o documento.

 

PIB negativo

 

O Credit Suisse manteve a projeção de queda de 0,5% no Produto Interno Bruto (PIB) deste ano. E, apesar da piora das estimativas para inflação, o banco suíço melhorou as projeções de deficit em conta corrente do país com o resto do mundo, por conta da alta dos preços das commodities que devem ajudar a aumentar as exportações e, consequentemente. As commodities representam quase 70% dos embarques nacionais no ano passado. Com isso, a previsão para o saldo negativo do balanço de pagamentos de 2022 passou de 2% do PIB para 0,9%. 

 

Como a alta dos preços das commodities também deve ajudar na arrecadação do governo com impostos, o Credit reduziu as estimativas de rombo das contas públicas do governo federal. A previsão de deficit primário passou de 1,7% do PIB para 1,3%. “Apesar disso, o cenário para as contas fiscais permanece amplamente frágil, uma vez que a inflação mais alta deve aumentar os pagamentos de juros e pressionar políticos para aumentar benefícios ou subsídios”, complementou.