Com autonomia, presidente do BC perde status e não participa mais de reunião ministerial

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A independência do Banco Central, aprovada em 2021, deixou a autoridade monetária sem status de ministério e o presidente do BC, Roberto Campos Neto, já perdeu o prestígio no novo governo, além de sofrer críticas de vários integrantes do governo devido ao patamar elevado dos juros.

 

A taxa básica da economia (Selic), atualmente em 13,75%, é um freio de mão para a retomada da economia em 2023, mas o BC tem sinalizado em manter os juros elevados por um período mais prolongado justamente por conta das incertezas fiscais que rondam o novo governo que, até agora, não deu sinais de que tipo arcabouço fiscal pretende apresentar no lugar da falida regra do teto de gastos. 

 

Na primeira reunião ministerial do terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ocorrida nesta sexta-feira (6/1), no Palácio do Planalto, Campos Neto não foi convidado. “O presidente do Banco Central não é ministro do governo”, informou a assessoria do governo ao ser questionada sobre a ausência de um dos ministros mais importantes do governo Jair Bolsonaro (PL) e que tem mandato até 2024. Campos Neto tem sinalizado que não pretende ser reconduzido e continuar à frente do órgão por mais quatro anos. 

 

Ironicamente, o status de ministério do BC foi dado ao órgão durante o governo Lula e  mantido até o fim do governo anterior, mesmo após a independência ter sido aprovada. 

 

O presidente do BC precisa apresentar nomes a Lula e ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para substituir o diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra Fernandes, cujo mandato acaba em fevereiro. O Sindicato Nacional dos Funcionários do Banco Central (Sinal) divulgou uma nota hoje demonstrando preocupação com o aparelhamento de integrantes do mercado financeiro na diretoria do BC e defende que a escolha seja do corpo técnico ou do meio acadêmico, para “oxigenar” a instituição.

 

A primeira reunião ministerial do novo governo teve a presença dos 37 ministros e dos três líderes de governo, de acordo com o ministro-chefe da Casa  Civil, Rui Costa, e todos “fizeram o uso da palavra”.  A partir da próxima terça-feira, o ministro disse que visitará todas as pastas para identificar as sugestões de ações concretas que precisam ser tratadas nos primeiros 100 dias de governo,  além de retomar obras paradas em escolas e creches e do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV) para serem inauguradas ainda no primeiro semestre.