Coluna no Correio: Um país em ruínas

Publicado em Economia

O Brasil entrou numa zona de turbulência tão pesada, que é impossível dizer aonde o país chegará após a delação dos empresários Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS. Ao afirmarem que o presidente Michel Temer pediu que eles comprassem o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha, tornaram insustentável a continuidade do atual governo. Será quase impossível para Temer rebater as gravações que estão em poder da Justiça. Veremos a palavra de um presidente altamente impopular tentando rebater provas tão substanciais, o que até então não se tinha visto na Operação Lava-Jato.

 

Os analistas financeiros, que entraram em pânico depois que as delações dos irmãos Batista foram reveladas pelo jornalista Lauro Jardim, de O Globo, acreditam que a base política de Temer vai se esfacelar. Com isso, as reformas trabalhista e, sobretudo, a da Previdência Social podem ser enterradas. Não por acaso, o índice futuro da bolsa de valores desabou quase 10% e o dólar disparou para R$ 3,32, indicando o que será o mercado hoje. Os especialistas falam em derrocada da economia. Não descartam a possibilidade de o Banco Central suspender o processo de corte da taxa básica de juros (Selic) e de as expectativas de inflação, que estão abaixo de 4%, voltarem a subir. Os mais pessimistas falam em caos social, com aumento do desemprego. Será uma volta a 2015.

 

A possível renúncia de Temer entrou com tudo no radar dos investidores. Muitos analistas se debruçaram sobre a legislação eleitoral para saber qual o caminho a ser seguido para a eleição de um novo presidente. Se Temer cair, a lei indica eleição indireta. Também há possibilidade de o presidente ser submetido a um processo de impeachment. Os donos do dinheiro preveem, no entanto, um processo traumático, independentemente da direção a ser seguida. Mesmo que continue no poder, Temer perderá a legitimidade para levar adiante projetos tão polêmicos como a reforma da Previdência.

 

Prova da Justiça

 

As delações dos donos do JBS são devastadoras para o mundo político. De antemão, já enterraram todas as chances de o senador Aécio Neves ser o candidato à Presidência da República. Confirmaram todo o esquema do PT, por meio de Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma Rousseff, para liberar recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) às empresas do grupo em troca de propina. Ao longo de 10 anos, o JBS bancou políticos de todos os partidos. Pelo que se pode deduzir, tinha um departamento de propina tão estruturado quanto o da Odebrecht. Quando a lista dos beneficiários da corrupção for liberada, será terra arrasada.

 

O grupo JBS foi um dos eleitos pelo governo Lula como campeão nacional. Desde que o petista chegou ao poder, em 2003, as empresas dos irmãos Batista ganharam uma dimensão tão impressionante que se tornaram as maiores produtoras de proteína animal do planeta. Tudo com o apoio do BNDES e à base de muita corrupção. Somente nos Estados Unidos, o JBS tem 56 fábricas. Um gigante que pode ruir. O grupo é alvo de investigações na Lava-Jato e nas operações Greenfield, Cui Bono, Sépsis, Carne Fraca e Bullish. Razões de sobra para as delações dos irmãos Batista, que tentam se safar.

 

Os sinais das relações nada republicanas do grupo JBS com o poder eram evidentes. Mas o mundo político sempre tentou blindar os irmãos Batista. Agora se vê que, assim como ocorreu com a Odebrecht, as bases de sustentação ruíram. Não é possível que Joesley, que, estrategicamente viajou para os Estados Unidos antes de a bomba estourar, e Wesley saiam impunes diante de tantas irregularidades, apenas porque pagaram R$ 225 milhões para fecharem as delações com a Procuradoria-Geral da República. É muito pouco perto da rede de corrupção que montaram e de como usaram o Estado para engordar o patrimônio pessoal. A Justiça tem que dar mais uma prova de que a lei vale para todos.

 

Brasília, 06h07min