CNI: Brasil continua na lanterna do ranking de competitividade

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

A carga tributária elevada e o custo elevado para o financiamento de capital faz o Brasil continuar na lanterna no ranking geral do relatório Competitividade Brasil 2019-2020, que analisa o país em um ranking de 18 economias elaborado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), que foram selecionadas por terem características similares às brasileiras.

 

Na classificação geral da nova edição do estudo divulgada nesta quarta-feira (29/07), o Brasil aparece na 17ª colocação, à frente apenas da Argentina, como ocorreu no relatório do ano passado. Os países mais competitivos que lideram a lista são, pela ordem, Coreia do Sul, Canadá, Austrália, China, Espanha e Tailândia.

 

O relatório foi elaborado medindo nove fatores de competitividade: Financiamento, Tributação, Trabalho, Infraestrutura e Logística, Ambiente Macroeconômico, Ambiente de Negócios, Estrutura Produtiva, Educação e Tecnologia e Inovação. O Brasil não está entre os seis mais bem colocados em nenhum desses indicadores avaliados. Em seis deles, está no um terço dos piores colocados no ranking. 

 

A pior classificação do Brasil é no fator Financiamento, que reflete sobretudo os custos elevados para a tomada de crédito. O país está na última colocação do ranking, com a mais alta taxa de juros real de curto prazo (8,8% ao ano) e o maior spread bancário — diferença entre as taxas de juros tomada pelas instituições financeiras e a cobrada pelos clientes, que inclui custos operacionais e o lucro da entidade — (32,2% anuais). A segunda maior taxa de juros no ranking, da Rússia, é 68% inferior à taxa brasileira e o segundo maior spread, do Peru, é quase três vezes menor.  Canadá e China lideraram esse ranking.

 

No indicador Tributação, o Brasil ficou em penúltimo lugar, com o segundo maior peso dos tributos e o sistema tributário de mais baixa qualidade. O país é o último colocado no ranking do subfator Qualidade do sistema tributário. A carga tributária no Brasil, de 32,3% do Produto Interno Bruto (PIB) representa 65,1% no lucro das empresas, e é quase a mesma de países cuja renda per capita é cerca de duas vezes superior à brasileira, como Espanha e Polônia. 

 

Em Ambiente macroeconômico e Ambiente de negócios, o Brasil está na antepenúltima posição, o que prejudica o aumento dos investimentos. O ambiente hostil ao investimento é resultado, principalmente, da falta de equilíbrio fiscal, da falta de segurança jurídica e do excesso de burocracia. 

 

O Brasil também está entre os últimos colocados no ranking dos fatores Infraestrutura e logística e Educação. De acordo com o estudo, o Brasil está entre os seis piores do ranking em todos os modais de transporte avaliados (rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo), tanto em variáveis quantitativas quanto qualitativas. O relatório ainda destaca que o Brasil apresenta o maior custo de energia elétrica para clientes industriais (US$ 0,17 por Kwh) e a segunda pior qualidade no fornecimento de energia elétrica (as perdas são cerca de 16,1% da energia gerada. 

 

Apesar de o Brasil apresentar o segundo maior gasto público em educação como proporção do PIB, de 5,6%, os resultados em disseminação e qualidade da educação são insatisfatórios e o país só ficou à frente de Colômbia, México, Índia e Indonésia.

 

Entre os brasileiros com idade para cursar o nível superior, apenas metade (51%) está matriculada nesse nível. Esse resultado coloca o Brasil em posição intermediária (11ª). No Chile, esse percentual alcança 88,5% – o quinto maior de 17 países. Em relação à qualidade, avaliada com base no Pisa de 2018, a situação é ainda pior: as notas do Brasil nos testes de matemática, leitura e ciências o colocam na 13ª posição de 15 países, à frente apenas da Argentina e da Indonésia. 

 

O Brasil ficou na 9ª colocação no fator Trabalho, situando-se entre os seis países na posição intermediária do ranking e possui a segunda menor produtividade do trabalho na indústria, à frente apenas da Índia.

 

O novo relatório reforça a urgência de medidas em favor da competitividade, de acordo com os organizadores. Na comparação com a edição passada, o Brasil registrou melhora em algumas áreas, como na redução da burocracia, aperfeiçoando o ambiente de negócios, contudo, o país continua penúltima colocação. 

 

“Ao longo dos últimos dez anos, que é o período do estudo, percebemos que a média geral do Brasil no ranking de competitividade cresceu. O Brasil registra, por exemplo, redução de burocracias pelo segundo ano seguido, mas os outros países também avançaram, com esforços contínuos para ampliar suas vantagens competitivas. Não estamos isolados no mundo e temos que enfrentar os nossos entraves de frente. O importante é que sabemos quais são eles, a tributação e o spread bancário”, afirma o presidente da CNI, Robson Braga de Andrade.

 

 

Veja o ranking geral:

 

 

Veja abaixo a íntegra do novo relatório da CNI:

 

CompetBrasil_2019_2020_v15