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Banco Central Foto: Breno Fortes/CB/D.A Press Banco Central

BC: Reservas internacionais encolhem US$ 12,1 bi em setembro

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

No mês de setembro, o saldo em conta corrente do país ficou negativo e as reservas internacionais encolheram US$ 12,1 bilhões, às vésperas do primeiro turno das eleições presidenciais do Brasil. Essa queda nas reservas, em um momento em que a taxa básica de juros (Selic) está em 13,75% ao ano — e deve ser mantida na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana –, não está sendo suficiente para segurar a desvalorização do real frente ao dólar, que tende a se valorizar ainda mais com a perspectiva de escalada dos juros nos Estados Unidos. 

 

Conforme dados do Banco Central na nota de estatísticas do setor externo, divulgada nesta segunda-feira (24/10), as reservas internacionais somaram US$ 327,6 bilhões. “O BC está buscando suavizar o movimento do câmbio, que tem oscilado bastante. Acredito que, após as eleições, as coisas acalmem, facilitando o trabalho da autoridade monetária”, avaliou Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos.

 

No acumulado em nove meses, as reservas internacionais já encolheram US$ 34,6 bilhões em relação aos US$ 362,2 bilhões contabilizados em dezembro de 2021.  Mas, em 20 de outubro, o saldo de reservas havia encolhido mais US$ 3,3 bilhões, para US$ 324,3 bilhões, conforme dos dados diários o BC. É o menor patamar desde 18 de abril de 2011, quando o saldo era de US$ 324,2 bilhões.

 

Em meio às incertezas internas e externas, o dólar abriu a semana novamente em alta e, por volta das 10h50, subia 2,42% e era negociado a R$ 5,285 para a venda.

 

De acordo com o chefe do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, a maior parte dessa redução das reservas foi contábil uma vez que pouco mais de US$ 10 bilhões da redução do volume de reservas de US$ 12,1 bilhões foram referentes às perdas com a marcação de mercados dos títulos públicos do Tesouro dos Estados Unidos, que perderam valor diante da sinalização do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) em fazer um aperto monetário mais forte.  Com isso, o dólar também se valorizou e houve impacto também nas reservas do BC em outras moedas que estão aplicadas no exterior.

 

“Em suma, o BC operou reservas internacionais comprando dólares em fevereiro, abril e setembro, mas fez poucas intervenções no mercado de câmbio, em torno de US$ 2 bilhões. De resto, a perda de valor das reservas decorre do impacto da redução de valor de mercado dos títulos públicos dos Estados Unidos e da valorização do dólar em relação às demais moedas”, resumiu Rocha.

 

 

Saldo em conta-corrente

 

A nota do BC informou ainda que o deficit no balanço de pagamentos foi de US$ 5,7 bilhões, dado 256,2% superior ao saldo negativo de US$ 1,9 bilhão registrado em setembro de 2021, puxado pelas remessas de lucros e dividendos, que dobraram em relação ao ano anterior, para US$ 5,3 bilhões. 

 

O resultado foi pior do que o esperado pelo mercado, cujas projeções de deficit em transações correntes variavam entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões. No acumulado em 12 meses até setembro, o saldo da conta-corrente do país somou US$ 46,2 bilhões, o equivalente a 2,56% do Produto Interno Bruto (PIB). 

 

No geral, a dinâmica da conta corrente de curto prazo ainda é benigna, dada a expectativa de moderação da demanda doméstica e uma taxa de câmbio efetiva real competitiva, que devem mitigar a desaceleração da demanda externa. No entanto, além de dinâmicas cíclicas favoráveis, um profundo ajuste fiscal para reduzir a poupança altamente negativa do setor público continua sendo fundamental para permitir um ajuste estrutural permanente da conta corrente, de acordo com avaliação do Goldman Sachs.

 

Os ingressos líquidos de Investimento Direto no País (IDP) somaram US$ 9,2 bilhões em setembro, o dobro do registrado no mesmo período do ano anterior — US$ 4,6 bilhões — e acima das estimativas do mercado, em torno de US$ 5 bilhões. No acumulado em 12 meses, o saldo do IDP foi de US$ 73,8 bilhões, o equivalente a 4,10% do PIB.

 

 

Viagens longe do patamar pré-pandemia

 

De acordo com os dados com Rocha, apesar do crescimento neste ano, as despesas de brasileiros com viagens ao exterior ainda estão longe do patamar pré-pandemia.

 

Em setembro, as despesas de brasileiros no exterior dobraram na comparação com o mesmo mês do ano anterior, passando de US$ 237 milhões para US$ 491 milhões. No acumulado do ano, esses gastos quadruplicaram na base de comparação anual, passando de US$ 1,3 bilhão para US$ 5,4 bilhões.

 

O técnico do BC lembrou que, nos últimos 12 meses encerrados em setembro antes da pandemia o deficit da conta de viagens era de US$ 11,8 bilhões, agora, passou para US$ 6,3 bilhões. “Olhando esses dados pré-pandemia, embora as viagens estejam crescendo, ainda estão na metade do patamar pré-pandemia.  Ainda temos uma conta recuperando o período pré-pandemia”, frisou.