Guerra Guerra entre Rússia e Ucrânia completou dois anos e parece longe do fim.

Artigo: Adeus às armas

Publicado em Economia

Por LUIZ RECENA GRASSI

 

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, anunciou que é candidato a novo mandato no ano que vem. Mandará até 2030. O presidente da Ucrânia, Volodimyr Zelensky, não anunciou nada, vai ficando à espera de sinais dos Estados Unidos. O ano termina sem maiores novidades além desta. A guerra chega a seu segundo ao com os mesmos atores principais.

 

Estados Unidos e Rússia já estiveram próximos e tiveram convívio de admiração mútua. O começo do século XX concentrou essa relação. Eram outros tempos, nestes dois lados mundo. Do lado de cá, só para facilitar o entendimento, deu para Henry Ford, o magnata industrial, manifestar sua admiração e fazer gestos: 20 mil tratores em doação para a ajudar a incipiente agro soviética. Ford simpatizava com idéias que levassem mais gente ao viver digno.

 

Lenin tinha respeito pelo norte americano, pelas ideias dele sobre economia e desenvolvimento. A Nova Economia Política, NEP, era uma cartada imensa dos jovens revolucionários. Só mesmo um atentado à vida do líder poderia bagunçar tudo. Foi o que ocorreu. Lenin duraria mais dois anos, até 1926. A partir daí, a bagunça revolucionária tomou conta. Vieram tempos de ditadura pesada e desvios na economia. E, na política, houve a guerra e logo o rompimento entre o ocidente e os bolcheviques. Guerra Fria, corrida armamentista, outro mundo.

 

Muita coisa aconteceu, inclusive essa guerra Rússia-Ucrânia, dois anos de muita morte, armas novas, velhas, tudo o que se podia aproveitar. Porque nem sempre foi assim. Na década de 1960, quando o regime soviético apresentou alguns sinais de fraqueza, os americanos e alemães farejaram as mudanças no ar. Sob a direção de Nikita Khrushov, alguns gestos foram feitos, para dentro e fora país. Só que a burocracia ainda era forte e Nikita foi derrubado. Morto, não foi para o Panteão dos Heróis, ficou em cemitério menos, bem menos sofisticado.

 

A burocracia bolchevique queria mais Guerra Fria. E assim foi, com a sucessão de nomes pesados, destaque para Leonid Brezhnev. Quase duas décadas para os primeiros novos sinais de abertura e um novo nome no cenário: Mikhail Sergeivitch Gorbachov. Ele e sua Perestroika. Sacudiu o país na frente interna e deixou atônitos os adversários europeus e nas Américas. Americanos e alemães, mais uma vez, perceberam os sinais. E investiram. Os yanques com a dupla Bush pai e filho. Os germânicos com Helmuth Kohl e os que lhe sucederam.

 

Alguma ingenuidade levou soviéticos a ceder muito mais do que esperavam. Mundo afora houve dirigentes a passar a mão no traseiro de Gorby. Mundo adentro, as antigas repúblicas foram atrás do sonho da liberdade. O que estava calmo voltou a ser um rebuliço. Farinha pouca, meu pirão primeiro. A máxima serviu para que as repúblicas mais fortes saíssem com alguma coisa. E estouraram os velhos contenciosos com a Rússia, ainda poderosa, milenar e dona das principais riquezas. O principal era o com a Ucrânia. Até vir a guerra, que agora chega há dois anos. Chegou-se a mais de 600 dias quando escrevo. E vai continuar, dizem operadores dos dois lados.

 

Os russos de Vladimir Putin dominam a situação, mas não tentam golpes de misericórdia. Os ucranianos de Volodimyr Zelensky tratam de resistir, agora com a concorrência de Israel. É uma nova guerra, cara, que drena altos recursos dos cofres aliados na Europa e Estado Unidos para os aliados mais antigos. Armas não dão adeus. Kiev não contava com isso. E mais um inverno está a chegar. Difícil para a Ucrânia, despreparada, sem armas, sem dinheiro sobrando, com soldados em treinamento. A falta de capital deve, também, afugentar os “voluntários”. Uma pausa para a edição e publicação de novo trabalho. Rússia Condenada, o Segundo Livro, tudo a ser preparado agora para chegar ao mercado até o final do ano.

 

O CORREIO SABE PORQUE VIU

 

Estava lá. Pouco antes de viajar visitei redações para vender meu trabalho. Em São Paulo, fui recebido pelo herdeiro de uma grande empresa. Disse-me que contasse com eles e que publicariam o que achassem interessante. Ao final, não se conteve e disse que a Perestroika não daria em nada: “É coisa para inglês ver”, decretou. Os ingleses viram, outros pelo mundo, o Correio Braziliense, este correspondente. O quatrocentão paulista, vim a saber depois, teve que fazer reformas nas empresas. Para garantir o próprio emprego.