4652CF07-AC17-4255-82AB-711EB0AF7123

A real de Portugal: “Estamos com uma ferida na alma”, diz médica agredida por policiais

Publicado em Economia

Quase três dias se passaram, mas a médica brasileira Danielle Brunialti Rocha não consegue aplacar a dor da violência policial da qual ela, o marido, Hendres, e um amigo, Nivaldo, foram vítimas. “Estamos com uma ferida crônica na alma”, diz.

 

Tudo aconteceu na madrugada do dia 19 de julho, quando Hendres e Nivaldo decidiram dar um passeio pelo Bairro Alto, um dos mais tradicionais de Lisboa, berço da boemia portuguesa. Discriminados por um grupo de nativos, os brasileiros foram abordados por policiais truculentos.

 

Em vez de proteger os cidadãos, independentemente de suas origens, os agentes da Polícia de Segurança Pública (PSP) agrediram Danielle, que saiu de uma gravidez há dois meses, Hendres e Nivaldo. A violência só parou quando o advogado deles chegou à delegacia para onde os dois homens foram levados e a médica tinha ido para socorrê-los.

 

A violência policial começou por volta das 2h da manhã. Danielle conta que, na delegacia, o marido foi levado para uma sala, onde foi agredido com socos no corpo e na cabeça. Ela só conseguiu vê-lo novamente às 8h da manhã. “Estávamos exaustos. O Nivaldo ficou sempre conosco”, relata.

 

Ao ver Hendres, que foi notificado por desacato, a médica não sabia se sorria ou se chorava. “Ele estava com hematomas e escoriações e com uma nova dor no olhar. Ele não conseguia sequer andar direito de dor”, ressalta.

 

Gente horrenda

 

Segundo Danielle, o advogado disse a eles que, devido à notificação de Hendres por desacato, eles teriam que ir ao Campos de Justiça, na Alameda dos Oceanos, às 10h. “Era impossível ir para casa sequer tomar um banho, mesmo com meu marido estando com a roupa ensanguentada”, diz.

 

Mas o importante, segundo a médica, era sair o quanto antes “daquele delegacia horrenda”, onde os policiais os encaravam rindo, um deboche. “Quantas vezes eles não passaram por mim, pelo Nivaldo e pelo nosso advogado com aquele olhar de desdém”, afirma.

 

A notificação de desacato foi entregue em mãos a Danielle por um superior dos policiais agressores. Ela conta que olhou nos olhos dele e falou como os três haviam sido tratados e agredidos e que, mesmo assim, eram eles os acusados de cometerem um ilícito.

 

“Ele me respondeu, com ar presunçoso, que não estava ali para saber o que houve, e que eu tomasse as providências com meu advogado, se quisesse”, relembra. A médica ainda sugeriu que ele checasse as imagens das câmeras para ver o que realmente havia se passado. “Mas ele se limitou a sorrir com deboche. Fico pensando se, algum dia, aquelas imagens serão vistas.”

 

Humilhação e muita dor

 

Exaustos e humilhados, Danielle, o marido e Nivaldo foram da delegacia diretamente para o Campos de Justiça. “Como era de se esperar, ficamos umas duas horas lá até Hendres ser ouvido, e as opções eram: assumir a culpa de desacato e pagar uma multa que rondaria os 300 euros (R$ 1.650) ou se declarar inocente e ir a julgamento”, assinala.

 

Hendres, por ter a certeza de que é inocente nesse caso de violência, preferiu ir a julgamento. “Meu marido é correto e jamais aceitaria se declarar culpado daquela mentira que plantaram para justificar as agressões. E eu concordo. Que venha o julgamento”, comenta Danielle.

 

Para ela, se há alguma justiça neste mundo, a verdade será esclarecida. “E quem vai entrar com processo contra eles, somos nós. Mas, mesmo guerreiros, às vezes caem, e vi meu marido andando com dificuldade, com hematomas na cabeça”, enfatiza.

 

A saga se estendeu à urgência da CUF, um dos principais hospitais de Lisboa, para verificar o estado de Hendres e ter a certeza de que nada ainda pior estava escondido. “Ele foi medicado para dor e ficou em observação. Fisicamente, não foi tão grave, mas, psicologicamente, acredito que ficamos com uma ferida crônica na alma, e apenas a justiça ajudará a curar”, reforça.

 

Danielle tem recebido uma série de cobranças por meio das redes sociais por ter revelado as agressões dos policiais. Ela rebate que, em nenhum momento, se arrepende de ter se mudado para Portugal, país que ela adora e respeita. Infelizmente, segundo ele, há pessoas ruins em qualquer país.