Por Vinícius Bednarczuk de Oliveira e Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira
Como lidar com tantas emoções e atividades? Casal de pais reflete sobre as dificuldades que a pandemia trouxe às famílias com crianças pequenas
“Temos ouvido muito sobre os desafios enfrentados pelos pais durante o isolamento social, na árdua tentativa de conciliar trabalho, atividades domésticas, responsabilidades escolares e cuidados pessoais, entre tantas outras obrigações e incontáveis preocupações durante esta pandemia sem precedentes e com poucas certezas futuras. Seria impossível discorrer sobre tantas questões em uma única matéria, afinal de contas, só quem vive para saber ‘a dor e a delícia de ser quem é’, parafraseando Caetano Veloso.
Ao mesmo tempo que muitos pais têm tido a deliciosa oportunidade de passar mais tempo do que comumente passariam com seus filhos durante a semana, o período de quarentena tem sido um desafio para a maioria que se encontra em isolamento social e precisa manter seus compromissos diários de trabalho, concomitantemente a criação, atendimento e educação das crianças, sem mencionar a necessidade de também manter seu cuidado pessoal com alimentação, possíveis tratamentos, hidratação, entre outros cuidados pessoais, que, infelizmente, acabam sendo esquecidos por muitos.
Anteriormente, famílias cujos pais trabalham fora podiam contar com sua rede de apoio, formada por escola, familiares, auxiliares domésticas, babás, etc., para que então pudessem cumprir com suas responsabilidades profissionais e seus filhos fossem cuidados com segurança e amor. Para evitar a transmissão do vírus, essa rede de apoio precisou parar de ser acessada, e, para alguns, a responsabilidade do trabalho seguiu em sua plenitude, com inúmeras videoconferências e reuniões virtuais adicionadas à rotina, entre fraldas, mamadeiras, brincadeiras, preocupações com segurança, educação, entre outras.
Não é possível generalizar as necessidades das crianças, pois cada fase apresenta uma demanda diferente. Um bebê de seis meses tem necessidades muito diferentes de uma criança de 1 ano e meio, assim como as crianças de 5 anos, por exemplo. São fases distintas e que precisam de olhares especiais para cada momento. Neste artigo, abordaremos aspectos vividos especialmente por pais de crianças de até 2 anos.
A rotina destes pais, via de regra, começa muito cedo. Bebês acordam cedo, alguns dormem muito mal, e a atividade profissional também começa logo nos primeiros horários da manhã. Entre as primeiras fraldas, mamá, alimentação, brincadeiras, troca de roupa, limpeza da casa, cuidado com as roupa, e com todas as outras atividades, há também que manter a certeza de que seu filho não está colocando o dedo na tomada, engolindo algo pequeno ou até mesmo subindo no sofá onde ele pode cair, enquanto telefones tocam, reuniões começam, e-mails chegam e notificações não param. Impossível não dizer que tudo isso, associado à preocupação do que está acontecendo com o mundo, riscos de contaminação a cada saída de casa para atividades essenciais e muitas vezes, inclusive com o próprio trabalho e geração de renda, coloca, naturalmente, estes pais em uma zona de stress intensa diariamente.
Há inúmeras variáveis que irão influenciar e, inclusive, agravar este processo, por exemplo, o número de adultos responsáveis e disponíveis na casa, a quantidade de crianças, entre outros pontos. Há mães e pais solo com seus filhos em home office e que precisam dar conta de tudo sozinhos; há casas onde o casal tem apenas um filho; em outras, há mais crianças correndo e brincando.
Fisicamente, pode-se dizer que conciliar tudo isto, muitas vezes sem a empatia e entendimento dos demais colegas de trabalho, não é uma das tarefas mais fáceis e leves, porém, pode ser possível e inclusive prazerosa, se a família conseguir criar minimamente um ritmo de tarefas e horários. Falamos aqui de ‘ritmo’ em vez de rotina para dar justamente este sentimento de leveza e fluidez que todos nós precisamos tentar desenvolver em meio ao caos, diminuindo as autocobranças. Este ritmo, no mínimo, pode auxiliar a prever os acontecimentos do dia, permitindo esta fluidez frente à inúmeras flexibilizações imprevisíveis e necessárias.
Quando possível, o estabelecimento de uma parceria entre os responsáveis no cuidado diário é o primeiro ponto que precisa ser levado em consideração. A divisão das responsabilidades e o estabelecimento de alguns horários podem contribuir, e muito, para que este ritmo diário seja menos estressante, mentalmente e fisicamente. Estabelecer um ritmo com horários para os afazeres diários também pode contribuir no dia a dia, como hora para o bebê dormir, hora para o banho e até mesmo para ver televisão, lembrando que a recomendação do Ministério da Saúde para crianças até 2 anos é de no máximo uma hora diária.
Sabe-se que é impossível ter uma ‘receita de bolo’ para estas situações, considerando a peculiaridade vivida por cada família, mas, listamos abaixo algumas sugestões visando lhe auxiliar a viver esta fase, gerando, principalmente, boas lembranças às crianças e menos stress à família:
– Quando possível, tentem aproveitar a oportunidade de estarem o dia todo juntos e façam as refeições em família. Mesmo que seja apenas você e seu filho, tentem reunir-se à mesa ou onde costumam fazer as refeições, brinquem com a criança, conversem, estimulem e curtam este momento em família.
– Não deixe seu autocuidado de lado. Sabemos que ‘banho relaxante’ não é mais uma realidade de muitos, mas se dê ao menos algum momento pessoal de prazer no dia, como uma xícara de café, algumas páginas de livro, uns minutos no sofá ou algo que goste. Faz bem para sua saúde mental!
– Brinquem, façam pausas para interagir, cantem, dancem, escutem músicas! Tragam uma leveza para o ambiente por meio destes momentos e gerem lindas lembranças.
– Quando possível, na hipótese de ter mais um adulto responsável pela criança em casa, onde ambos estão em home office, tentem estabelecer uma divisão de horários. Exemplo: entre as 9h e as 10h, a mãe trabalha e o pai cuida da criança, depois revezam. Assim, pouco a pouco, cada um consegue se concentrar nas atividades profissionais e se dedicar na totalidade para cuidar e dar atenção à criança.
– Lembrem-se que, neste cenário, a conta não fecha. Tudo bem se hoje a louça não for lavada, se a casa estiver bagunçada. Tentem, na medida do possível, manter como prioridade a leveza e alegria na casa. São momentos difíceis, tensos e exaustivos, e crianças desta idade ainda não conseguem entender. Porém, diversão, brincadeiras, colo e muito amor são entendidos por completo, universalmente, a qualquer tempo.
– Não se cobrem tanto e evitem comparações desnecessárias. Cada casa é uma casa, cada família é uma família. Olhem para dentro das suas, para as suas possibilidades e necessidades. Faça as flexibilizações e adaptações necessárias para que o que precisa seja feito.
– Por fim, lembrem-se de que não é uma competição de produtividade e de quem é a família mais perfeita, é um momento diferente, único pelo qual cada família precisará passar, adaptando suas possibilidades, frente a tantas responsabilidades e pouco auxílio, não deixando, porém, de manter o amor, a alegria e a união sempre presentes.”
Sobre os autores:
Vinícius Bednarczuk de Oliveira: pai da Lelê, doutor em ciências farmacêuticas e coordenador dos cursos de farmácia e práticas integrativas e complementares do Centro Universitário Internacional Uninter.
Verônica Stasiak Bednarczuk de Oliveira: mãe da Lelê, psicóloga, especialista em análise do comportamento e diretora do Unidos pela Vida — Instituto Brasileiro de Atenção a Fibrose Cística.