O Zé Colmeia que se cuide e dê um jeito de proteger o Catatau. A Comissão de Caça e Pesca do estado de Wyoming, Estados Unidos, aprovou a caça aos ursos pardos na região do parque de Yellowstone – lar dos dois ursos animados – e, ironicamente, um marco na proteção à natureza desde a inauguração em 1872. A justificativa é que a população de ursos saltou de 136 para 700 em 43 anos e a espécie não corre risco de extinção.
O urso-pardo não é considerado perigoso quando há alimento e pode dormir, entocado, até sete meses por ano. Mas quem gosta de cinema desconfia: no filme O Regresso (The Revenant) Leonardo di Caprio escapou por pouco do ataque de um urso desses, que pode chegar a três metros de altura. La Fontaine também não fez um bom retrato do urso, ao mostrá-lo como amigo atrapalhado e, no caso, mortal.
Ainda que seja feroz, não parece justificável alguém lubrificar um rifle de grosso calibre e sair de casa para matar um bicho apenas para empalhar a cabeça e pôr na parede. É comportamento – assim como a persistência do racismo – que faz duvidar se realmente a teoria evolucionária de Darwin faz sentido.
Caçadores acreditam – ou dizem acreditar – que esta é uma forma de se integrar à natureza e aproveitar sua beleza, mas é claro que é conversa para boi dormir ou urso hibernar. Quando o sujeito caça para comer porque adora carne de paca ou até de capivara, pode-se entender a motivação. Mas não é o caso.
Come-se carne de urso, especialmente na Escandinávia, mas apenas como experiência gastronômica, já que é muito gordurosa e, segundo quem já comeu, enjoativa. Mas lá também se come carne de rena – que aliás causou revolta quando vendida em São Paulo, às vésperas de um Natal, talvez por medo do Papai Noel ficar sem condução.
Nos botequins de Curitiba há uma variação: carne de urso é o nome de um petisco feito com linguiça blumenau (de porco, defumada, consistência pastosa), maionese, azeite e cebola, tudo misturado como patê e servido com torradas. É uma alternativa à carne de onça, outro petisco curitibano, ideal para acompanhar um chopinho.
Mas o homem não precisa mais caçar para comer ou se agasalhar. Sem entrar em discussões politicamente corretas, o fato de matar por prazer – afinal é esse o busílis – mostra que o bicho homem é mesmo um animal diferente; o único que mata sem motivo.
Ainda está fresco na memória o caso do dentista norte-americano que emboscou o leão Cecil, no Zimbábue, tirando-o de uma reserva animal para poder fuzilar o bicho. Não é o único, há até um Safari Club International, que defende o que seriam direitos do caçador. E muitos britânicos ainda acreditam que – embora proibido atualmente – botar cachorro para correr atrás de raposa é esporte ou tradição.
O pessoal que tenta entender as motivações humanas acredita que é uma maneira do homem se impor à natureza. Eu, que não sei nada, acho que é estupidez mesmo.
Publicado no Correio Braziliense de 10 de junho de 2018