Conheci muita gente artificialmente inteligente na vida. Gente com cultura adquirida nas estampas Eucalol, nos almanaques Capivarol e até nas figurinhas do chiclete Ping-Pong. Fingiam inteligência quer era uma beleza, mas não assustavam. Só que coisa inteligente assusta.
Leitor de Isaac Asimov, Philip K. Dick e Arthur Clarke, entre muitos outros, não desconfiava que a ciência que eles mostravam passaria de ficção para a realidade. Pelo menos não enquanto eu estivesse vivo.
Vivemos dias em que até os satélites extraterrestres são fabricados na China. E em que pessoas ficam conversando com uma tal Siri que mora dentro do telefone e com a Alexia que vive numa caixinha de som – essa fascinação pelo feminino me encanta tanto quanto o nome dos furacões. Dito isso, nada mais deveria nos surpreender.
Eis que somos apresentados ao chat.OpenAI, que está em fase experimental. AI vem de Inteligência Artificial, em inglês, língua que põe os adjetivos à frente dos substantivos. E num espaço que aparece na tela aparece um quadro branco onde a gente é desafiado para que ela (deve ser ela, vai saber) produza alguma coisa.
Pergunta é moleza. Pedi algo pouco mais trabalhoso, usando um tema maluco: “escreva uma crônica de 300 palavras sobre um robô que conversa com um ser humano no botequim enquanto degusta um litro de óleo lubrificante. O ser humano bebe um Vermute com soda e começa a falar sobre temas existencialistas, enquanto o robô fala das dificuldades que tem em conviver com máquinas mais burras que ele”.
A máquina mandou brasa: “O botequim estava cheio como sempre, com conversas animadas e risadas ecoando pelo ambiente. Mas, em uma das mesas, havia um encontro inusitado. Um ser humano estava sentado com um robô, que parecia uma máquina complexa, com luzes piscando e engrenagens girando silenciosamente. Eles estavam conversando, aparentemente, como velhos amigos”. E foi em frente, mas sem atingir as 300 palavras.
Dei uma bronca. E ainda escrevi que não havia gostado, renovando o pedido para mais uma crônica com o mesmo tema. E não é que o OpenAI mudou? “Era um botequim típico, frequentado por pessoas em busca de uma boa bebida e uma conversa animada. Mas naquela noite, algo diferente aconteceu: um robô solitário tomou eu lugar no balcão e pediu um litro de óleo lubrificante. Enquanto degustava sua bebida, o robô começou a conversar com o homem a seu lado. O homem, um filósofo amador, estava bebendo um Vermute com soda e logo iniciou uma discussão existencialista”
E seguiu: “O robô escutava atentamente, mas logo começou a falar sobre suas próprias dificuldades. Ele se queixou das máquinas mais antigas, que não conseguiam acompanhá-lo em sua inteligência avançada. Disse que muitas vezes se sentia solitário, sem alguém para conversar no mesmo nível que ele”. E a crônica seguiu em frente até completar as 300 palavras, me fazendo sentir obsoleto.
Em seguida pedi para ele me contar uma piada de português. Ele pediu desculpas (sim, educado!) e disse que não poderia contar piadas consideradas ofensivas ou que reforcem estereótipos negativos. Só me faltava essa: uma máquina politicamente correta.
– essa fascinação pelo feminino me encanta tanto quanto o nome dos furacões. Dito isso, nada mais deveria nos surpreender.
Eis que somos apresentados ao chat.OpenAI, que está em fase experimental. AI vem de Inteligência Artificial, em inglês, língua que põe os adjetivos à frente dos substantivos. E num espaço que aparece na tela aparece um quadro branco onde a gente é desafiado para que ela (deve ser ela, vai saber) produza alguma coisa.
Pergunta é moleza. Pedi algo pouco mais trabalhoso, usando um tema maluco: “escreva uma crônica de 300 palavras sobre um robô que conversa com um ser humano no botequim enquanto degusta um litro de óleo lubrificante. O ser humano bebe um Vermute com soda e começa a falar sobre temas existencialistas, enquanto o robô fala das dificuldades que tem em conviver com máquinas mais burras que ele”.
A máquina mandou brasa: “O botequim estava cheio como sempre, com conversas animadas e risadas ecoando pelo ambiente. Mas, em uma das mesas, havia um encontro inusitado. Um ser humano estava sentado com um robô, que parecia uma máquina complexa, com luzes piscando e engrenagens girando silenciosamente. Eles estavam conversando, aparentemente, como velhos amigos”. E foi em frente, mas sem atingir as 300 palavras.
Dei uma bronca. E ainda escrevi que não havia gostado, renovando o pedido para mais uma crônica com o mesmo tema. E não é que o OpenAI mudou? “Era um botequim típico, frequentado por pessoas em busca de uma boa bebida e uma conversa animada. Mas naquela noite, algo diferente aconteceu: um robô solitário tomou eu lugar no balcão e pediu um litro de óleo lubrificante. Enquanto degustava sua bebida, o robô começou a conversar com o homem a seu lado. O homem, um filósofo amador, estava bebendo um Vermute com soda e logo iniciou uma discussão existencialista”
E seguiu: “O robô escutava atentamente, mas logo começou a falar sobre suas próprias dificuldades. Ele se queixou das máquinas mais antigas, que não conseguiam acompanhá-lo em sua inteligência avançada. Disse que muitas vezes se sentia solitário, sem alguém para conversar no mesmo nível que ele”. E a crônica seguiu em frente até completar as 300 palavras, me fazendo sentir obsoleto.
Em seguida pedi para ele me contar uma piada de português. Ele pediu desculpas (sim, educado!) e disse que não poderia contar piadas consideradas ofensivas ou que reforcem estereótipos negativos. Só me faltava essa: uma máquina politicamente correta.
Publicado no Correio Braziliense em 26 de fevereiro de 2023