Hoje é dia da tartaruga. Ontem foi dia do abraço. Amanhã, entre outras efemérides, é dia do detento. Como se vê, o calendário é cheio de surpresas por trás dos números que o Papa Gregório XIII instituiu há quase 500 anos, quando os brasileiros, então felizes, não sabiam o que era uma segunda-feira.
Vira e mexe a gente ouve falar que um deputado propõe a criação de um dia específico para homenagear determinada categoria profissional, um animal ou uma ação, exatamente para que pelo menos uma vez por ano as pessoas se lembrem de prestar algum tributo. Há também o comércio que inventa datas para que o incauto gaste seu dinheirinho suado.
Mas de uns tempos para cá começaram a surgir umas comemorações esquisitas. Por exemplo, no 5 de fevereiro, dia mundial do Nutella. Como se sabe, é produto comercial, mistura de oleaginosas e chocolate, que virou sinônimo de frescura, de menino criado por vó, antítese dos brutos – um dia para os frouxos. Foi criado por uma blogueira, seguida por uma legião de gordos cheios de espinha no rosto.
No dia 19 de março é comemorado o dia do consertador. Seria uma homenagem às pessoas que consertam coisas, incluindo, acho eu, o amolador de facas. Na verdade, parece ser um dia em franca decadência, porque as coisas não são mais construídas para serem consertadas, mas para serem substituídas.
Outro dia mesmo, aqui em Brasília, um deputado muito ocupado propôs criar o dia do Curupira e da Mãe D’Água. Não surpreende, uma vez que já comemoramos o dia do Saci em 31 de outubro; surpresa mesmo é que nenhum parlamentar tenha proposto do dia do Boitatá, da Cuca, Mapinguari, boiuna, todos personagens do folclore, como os deputados, aliás.
Tem dia até para coisa que já acabou. Como fusca, comemorado em 20 de janeiro, ou do disco, 20 de abril. É comum ter uma data para festejar uma profissão, muitas ligadas aos santos (caso dos médicos, abençoados por São Lucas). E dia 18 de outubro é comemorado o dia do pintor de parede. De quadros não tem vez.
E o que teria feito o tomate para ter uma data – primeiro de abril – dedicada a ele, exatamente no dia da mentira. De qualquer modo, está melhor que seus companheiros de salada; não há um dia do rabanete, nem do alface, muito menos do brócolis.
Algumas efemérides são inúteis, porque não cabe comemoração. Nunca se viu, por exemplo, uma passeada festejando o 14 de março, dia dos carecas; aliás, os calvos só vão comemorar alguma coisa quando alguém inventar um tônico capilar que realmente funcione. Seria mais útil comemorar o dia do chapéu, que aliás, existe: 15 de janeiro.
Também fica difícil fazer festa em 25 de setembro, dia da Tia Solteirona. A não ser que a tia em questão queira ficar só como Greta Garbo repetia em Grande Hotel, filme de 1932 – “I just want to be alone”.
Tudo isso para lembrar que o 4 de junho foi escolhido o dia da piada ruim.
Publicado no Correio Braziliense, em 23 de junho de 2019