O melhor jeito de não cair do telhado é não subir; assim como a melhor maneira de ficar sóbrio é não beber. Desde que a ministra disse que, para combater a gravidez na adolescência, recomendava a abstinência sexual que não se fala outra coisa no bar; até quem já aposentou a, digamos, chuteira dá seus palpites.
A declaração ministerial causou tanto impacto que o pessoal da mesa pulou até os 20 minutos em que é permitido falar de doença – o tempo é rigorosamente marcado porque senão ninguém fala de outra coisa. E também não se falou da eliminação do Vasco, mesmo com a presença de um rubro-negro dos mais enjoados.
Que o governo prega costumes mais conservadores já se sabia, mas recuar a 1910 pareceu um pouco demais para os comensais, todos de uma geração que aproveitou bem a farra – dois, inclusive, confessaram que foram obrigados a se casar quando engravidaram as respectivas namoradas. Um está firme até hoje.
Foi no início do século passado que Freud começou a colocar minhocas na cabeça das pessoas, embora considerasse pervertido todo ato sexual que não tivesse fins reprodutivos. Bem antes, o Marques de Sade já tinha narrado estrepolias e libertinagens e Swinburne provocou escândalo na corte vitoriana com seus poemas; mas era tudo ficção ou, pelo menos, se apresentava assim.
A ciência foi quem mais contribuiu para a liberação sexual criando métodos contraceptivos, desde a produção da borracha para preservativos até a pílula, DIU e outros. E desde então, o mundo ficou mais feliz.
Uma canção de Cole Porter, Do It, que ganhou uma ótima versão de Carlos Rennó e foi gravada por Elza Sares e Chico Buarque como Façamos, narra a folia. Começa pelos cidadãos do Japão, passa por espanhóis, alemães, gays, rouxinóis, peixes, para chegar a conclusão que todos fazem. E lança o convite: “Façamos, vamos amar”.
Mas agora vem o convite para não fazer. Limitado aos jovens, é certo, mas com os hormônios em ebulição, como controlar, já que ninguém mais acha que fornicar é pecado? O medo do inferno já controlou a humanidade de um modo mais eficaz do que o Código Penal, mas não é mais assim.
Nosso amigo Faixa decretou: não vai dar certo. “É como tentar segurar fogo morro acima”, disse. O fato é que a pornografia está por todo canto, jovens acham divertido se filmar nuas ou em pleno ato sexual e espalhar por redes sociais, fazendo cara de “e daí?”.
Mas os velhinhos da mesa ficaram mais chateados foi com outro ministro, que quer criar o importo do pecado, para taxar prazeres mundanos como o cigarro e a bebida. Nessas horas é que a gente vê que está ficando velho. A mesa inteira reclamou mais do aumento da cachaça do que da falta de sexo. E o Faixa explicou: “Desse jeito é melhor fazer a mesma pergunta que o leão fez para a sorridente hiena: “Você só come carne podre e cocô; faz sexo uma vez por ano. Está rindo de quê?”.
Publicado no Correio Braziliense em 7 de fevereiro de 2020