- O jornal The New York Times publicou uma série de matérias com informações falsas ou inventadas pelo repórter Jason Blair, que driblou um dos mais competentes departamentos de checagem da imprensa mundial.
- A Globonews interrompeu a programação para informar que um avião havia caído num prédio da zona sul de São Paulo. Mentira.
- O jornal El País, um dos mais tradicionais da Espanha, publicou foto como se fosse o presidente venezuelano, Hugo Chavez, entubado e numa maca de hospital. Teve que se retratar.
- A revista Veja publicou reportagem sobre a fecundação de uma célula chamada boimate, que resultaria numa fruta com metade de proteína animal (boi), metade vegetal (tomate). Era uma brincadeira de primeiro de abril da revista New Cientist.
- O jornalista Mario Sérgio Conti publicou uma entrevista com um sósia do técnico Luiz Felipe Scolari, como se fosse o próprio. Era gaiatice.
Esses são alguns dos mais célebres casos de erros da imprensa. São destaques de um fato corriqueiro nas redações, muitas vezes causados pela pressa, pelo cansaço ou por alguma bobeada a que todos estamos sujeitos.
Para todos esses casos existe o desmentido, o pedido de desculpas, ainda que miúdo e envergonhado, como reclamou recentemente o presidente da República, depois da publicação – errada – de um jornal, afirmando que ele havia sido repudiado por uma garotinha, moradora da Estrutural.
Mais grave são as mentiras propositais, criadas para ferir adversários ou instituições, quando há ataques baseados em informações inverídicas. São matérias dirigidas, algumas vezes motivadas por vingança, outras por simples interesse empresarial ou político
Há também o perigo da manipulação, como ocorreu no atentado da rua Toneleiro, em 1954, envolvendo Carlos Lacerda, e que ficou célebre pelos mistérios adjacentes – até o prontuário que atestaria o tiro no pé do jornalista desapareceu – e por render uma rede de mentiras para atacar Getúlio Vargas.
Anos depois, a Última Hora foi criada para defender o presidente, abrindo uma disputa pessoal onde o que menos importava era a verdade. Ninguém escondia interesses pessoais ou econômicos.
Eram jornais que obedeciam às vontades de seus proprietários, fenômeno que só muito recentemente tinha acabado no Brasil, mas que tem voltado graças ao barateamento da produção; para fazer um noticioso eletrônico é preciso muito pouco; o que acaba se refletindo no caráter.
Às vezes vira obra de arte, caso do filme Cidadão Kane, um retrato de William Randolph Hearst que, de um jornal falido, se transformou no maior magnata da mídia de seu tempo. Foi um dos inventores da imprensa marrom – que em inglês é imprensa amarela –, inventando e publicando histórias.
O diretor Orson Welles mostra um personagem megalomaníaco, sem caráter e que não conhece limites. Hearst passou vida manipulando informação para fazer negócios, beneficiar patrocinadores de seus jornais e se promover (nisto não foi bem-sucedido; perdeu todas as eleições em que buscou cargos públicos).
A imprensa se profissionalizou e se afastou de personagens assim; mas há quem insista. Resta ao leitor saber em quem confiar. A história do dono do jornal pode ajudar.
Publicado no Correio Braziliense, em 5 de maio de 2019