Quase todo mundo conhece alguém que tem certeza de que o pouso da Apolo 11 na lua, assim como os pequenos grandes passos de Neil Armstrong foram uma farsa. São pessoas que garantem que tudo foi uma produção de Hollywood, dirigida por Stanley Kubrick, num evidente desrespeito com o diretor de 2001 Uma Odisseia no Espaço, diante da pobreza das imagens e da ausência de drama.
Entre os argumentos “científicos” irrefutáveis para provar o engodo, estaria o fato da bandeira norte-americana tremular, o que só seria possível se houvesse atmosfera e vento na superfície lunar. Esquecem que a bandeira tinha, além do mastro, uma haste horizontal para mantê-la aberta, e foi precisamente a falta de ar que fez com que o pano mexesse.
Exemplos como esses são muitos e dão margem a discussões que mostram que a ignorância só perde para a idiotice. Agora mesmo estamos diante de gente que garante que a Terra, diferentemente de todos os outros planetas e satélites do nosso sistema solar, é na verdade plana. São os terraplanistas.
Claro que é gente que não tem mais o que fazer, mas para além dessa óbvia constatação, são pessoas que não se importam em parecer ridículas. Para começar, negam a existência da órbita, das rotações e translações, dos ciclos solares e provavelmente acreditam que a noite chega quando alguém desliga o interruptor.
O mais legal é que esse pessoal está promovendo um cruzeiro rumo a borda do mundo para o ano que vem. Será que eles não têm medo de cair? Eles culpam as agências de espionagem pela divulgação do formato redondo do planeta durante a guerra fria, esquecendo-se que mais de dois séculos antes de Cristo, Eratóstenes provou matematicamente que a Terra é redonda.
Já tentaram nos fazer acredita que ouvir Mozart na tenra infância torna as pessoas mais inteligentes, que vacinas podem provocar doenças e até autismo, que você tem cinco segundos para pegar uma comida que caiu no chão sem perigo de contaminação e mais um monte de bobagem.
Mas tem gente pior que os terraplanistas. Por exemplo, a sociedade que acredita – e divulga – que a Terra é oca. E habitada. Lá estariam vikings, nazistas e até uma raça superior que viveria num lugar chamado Agharta, iluminado por um sol interior. E não são escritores de ficção ou de histórias em quadrinhos que exploraram esses temas de diversas formas, desde os morlocks de H. G. Welles ao Toupeira, vilão criado por Stan Lee.
Recentemente, além dos documentos revelados com vários segredos da CIA, o espião Edward Snowden revelou que o centro do planeta é habitado por uma raça superior que nos vigia da astenosfera desde o início dos tempos. E tem gente que acreditou. São os terraoquistas, que já em 2007 promoveram uma incursão pela Rússia, procurando um buraco que seria a entrada para o mundo subterrâneo. Não acharam, mas ainda estão procurando. Tenho uma sugestão: deviam tentar o caminho inverso do professor Lidenbrock, de Júlio Verne, que saiu pelo vulcão Stromboni, na Sicilia.
Publicado no Correio Braziliense, em 26 de janeiro de 2019