reg. 005-17 Fuvest 2017. Segundo dia de prova da segunda fase do Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Especialistas colocam gabarito definitivo do concurso do MPU em xeque

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O gabarito definitivo do concurso do Ministério Público da União (MPU) está sendo questionado por especialistas nas áreas de noções de administração, administração financeira e orçamentária e direito administrativo, para os cargos de analista e técnico.

 

Segundo Renato Lacerda, bacharel em administração, pós-graduado em gestão pública e analista de gestão pública do MPU desde 2014, só com relação à matéria de noções de administração, são quatro questões problemáticas que foram dadas como corretas pela banca do concurso, o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe).

 

“Eles abriram prazo para recurso e identificamos vários problemas com o gabarito preliminar. Passado o prazo de análise, a banca manteve as respostas no gabarito definitivo e sem justificativa. Não me falaram nem que meus recursos haviam sido negados, simplesmente só divulgaram o resultado final,” afirmou o professor que ainda escreveu uma carta pública mostrando indignação com o caso.

 

Na carta, Lacerda expõe que as questões abordadas na prova apresentam inconsistências com a literatura correlata e com diversos conhecimentos consolidados, seja pela teoria ou pela prática administrativa. “Elas vão de encontro com tudo o que se tem em termos de referenciais teóricos e com a prática administrativa. Além de gabaritos equivocados, a banca abre margem para interpretações diversas em uma única questão, que deveria primar pela objetividade. A não revisão da banca põe em cheque meu trabalho, da posição do candidato, gera incertezas, insegurança e descrença no processo de julgamento objetivo dos itens cobrados, uma vez que uma das bases para o aprendizado é a reanálise de questões passadas abordadas pela banca, em que há flagrantes casos de contradição de posições, as quais poderia apontar em um sem número de ocorrências”.

 

Segundo o especialista, alunos disseram que entrariam em contato com o Ministério Público Federal (MPF) e com causas individuais na Justiça.

 

Cada questão do concurso é muito preciosa, porque quando uma pessoa erra um ponto nas provas do Cebraspe acaba perdendo dois pontos, já que uma resposta errada anula uma certa. “Dois pontos no concurso com tão ampla concorrência pode tirar no mínimo 150 posições das pessoas, altera tosa a dinâmica de nomeação.”

Comissão do concurso acionada

Além da carta, o especialista procurou a chefia da comissão do concurso no MPU, que, por sua vez, passou os questionamentos ao Cebraspe.

 

Ao Papo de Concurseiro, o Cebraspe informou que que a etapa de interposição de recursos nos concursos públicos ocorre  justamente para a apresentação, de forma não identificada, de argumentos — contra e a favor — relativos aos gabaritos oficiais preliminares dos itens que compõem as provas. E que no caso do certame do Ministério Público da União (MPU), essa etapa já foi finalizada, os recursos apresentados foram analisados por bancas de especialistas e o gabarito oficial definitivo foi publicado, tendo este Centro seguido rigorosamente todos os procedimentos estabelecidos para garantir a precisão na análise desses recursos.

 

  • Além das respostas que estão sendo questionadas, o professor Lacerda afirmou que ocorre agora um concurso de remoção e, após o resultado ser divulgado, até dezembro deverão ser nomeados até 150 técnicos e analistas aprovados. Tratam-se de vagas sem impacto financeiro da instituição, em todo o Brasil e em todos os ramos MPU.

 

Questão problemática

Para Lacerda, na disciplina que leciona, a questão que estaria mais errada é a expressa abaixo, que está correta no gabarito definitivo da banca, mas que o professor acredita estar errada. Confira ainda a explicação do especialista:

 

QUESTÃO: A existência de roteiros-padrão a serem seguidos na execução de tarefas em um órgão público guarda similaridade com procedimentos típicos da teoria clássica da administração.

 

A teoria clássica de administração tem Fayol com seu principal representante. Sua teoria se desenvolve a partir de uma visão de cima para baixo sobre a organização, uma vez que seu objeto de estudo foi a estrutura. Por assim dizer, definiu as funções básicas da administração: previsão, organização, comando, coordenação e controle. Além disso, firmou sua teoria em 14 princípios, sendo que em nenhum deles, fala da existência de roteiros-padrão para a execução das tarefas, mesmo porque seu foco era a estrutura. Ainda que, junto com a administração científica de Taylor, integre a abordagem clássica de administração, com esta não pode ser confundida. Assim define CHIAVENATO (pag.48):

 

Em função dessas duas correntes, a Abordagem Clássica da Administração é desdobrada em duas orientações diferentes e, até certo ponto, opostas entre si, mas que se complementam com relativa coerência

 

O autor ainda complementa: “De um lado, a Escola da Administração Científica. A preocupação básica era aumentar a produtividade da empresa por meio do aumento de eficiência no nível operacional, isto é, no nível dos operários. Daí a ênfase na análise e na divisão do trabalho do operário, uma vez que as tarefas do cargo e o ocupante constituem a unidade fundamental da organização”.

 

Complementa ainda definindo a administração científica: “Nesse sentido, a abordagem da Administração Científica é uma abordagem de baixo para cima (do operário para o supervisor e gerente) e das partes (operário e seus cargos) para o todo (organização empresarial). Predominava a atenção para o método de trabalho, para os movimentos necessários à execução de uma tarefa, para o tempo padrão determinado para sua execução. Esse cuidado analítico e detalhista permitia a especialização do operário e o reagrupamento de movimentos, operações, tarefas, cargos etc., que constituem a chamada Organização Racional do Trabalho (ORT). Foi, acima de tudo, uma corrente de ideias desenvolvida por engenheiros que procuravam elaborar uma engenharia industrial dentro de uma concepção pragmática. A ÊNFASE NAS TAREFAS É A PRINCIPAL CARACTERÍSTICA DA ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA”

 

Ao se referir à teoria clássica, o autor assim define: “Predominava a atenção para a estrutura organizacional, para os elementos da Administração, os princípios gerais da Administração e a departamentalização. Esse cuidado com a síntese e com a visão global permitia a melhor maneira de subdividir a empresa sob a centralização de um chefe principal. FOI UMA CORRENTE TEÓRICA E ORIENTADA ADMINISTRATIVAMENTE. A ÊNFASE NA ESTRUTURA É A SUA PRINCIPAL CARACTERÍSTICA”.

 

Logo, resta evidente que a preocupação com tarefas e estabelecimentos de métodos padronizados não se trata de característica da teoria clássica, mas da administração científica. Como ressalta o autor, ainda que componham a mesma abordagem, uma não se confunde com a outra.

 

Pelos motivos apontados, respeitosamente sugere-se a alteração do gabarito, de certo para errado.

 

CHIAVENATO, Idalberto. Introdução à Teoria Geral de Administração. 7ª ed. – Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.

 

Confira a justificativa para mais repostas do MPU no site do professor Renato Lacerda.