Última homenagem

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da Revista do Correio

Com o avanço da idade dos pets, os tutores precisam se preparar para o momento da despedida

Márcia sabe que, em breve, terá que se despedir dos seus três cães: “Não quero descartá-los como se fossem uma embalagem”

foto Marcelo Ferreira/CB/DA Press

“Eu preciso chegar em casa e ter alguém que abane o rabo para mim.” É assim que a servidora pública Márcia Alves, 52 anos, resume o seu amor pelos animais. Com três cães em idade avançada, os bichos recebem tratamento especial. Théo, Minie e Chicão têm 14, 12 e 10 anos respectivamente. Os cuidados são tantos, que o trio tem até plano funerário, com direito a transporte, cerimônia, caixão e lápide.

O primeiro contato com a empresa que fará a despedida deles se deu pela internet, quando Márcia decidiu que os animais deveriam ter um destino digno para descansarem em paz. Em geral, os bichos têm boa saúde, somente a mais velha necessita de uma atenção especial. “Minie sofre de problemas cardíacos e pulmonares. Toma remédios todos os dias e tem uma alimentação especial”, conta. No auge da crise, a cadela não conseguia respirar direito. “Eu passei três noites sem dormir preocupada”, explica.

Márcia é devota de São Francisco de Assis, protetor dos animais, e acredita que deve ajudar bichinhos abandonados e associações protetoras. Segundo ela, o principal motivo para fazer um plano funerário para os pets é dar um enterro digno. “Não quero descartá-los como se fossem uma embalagem. Eles merecem essa última homenagem”, explica.

Ela se emociona ao falar dos anos que já conviveu com as mascotes. “É uma relação de cumplicidade, amor e amizade. Eu sou muito espiritualista. Acredito que todos nascemos, crescemos e morremos. Eles estão velhinhos e sei que a hora deles vai chegar, infelizmente”, conta. Apesar da dor, ela garante que é muito grata por todos esses anos de convívio.

Pessoas passam pela nossa vida e deixam lembranças, com os animais não é diferente. “Tenho uma gratidão. Quero dar dignidade mesmo na hora da morte dos meus animais, já que eles tiveram uma vida toda comigo. Uma vida de cumplicidade e amor incondicional. Esses anos foram muito especiais com eles”, finaliza.

Não existe como se preparar para a morte. Segundo a psicóloga Keyla Montenegro, há apenas tentativas. “Até quando se espera a morte é uma surpresa”, conclui a psicóloga, especialista em luto. Segundo a profissional, algumas atitudes podem ajudar nesse momento de dor. “O primeiro passo é a expressão das emoções. Quando o animal segue internado é importante dar um momento para a família estar com ele”, afirma.

Outra atitude importante é a comunicação. Veterinários, geralmente, são bombardeados por perguntas sobre o estado de saúde dos animais e é fundamental conversar com os tutores para informar tudo que está acontecendo. “Esse período gera uma grande ansiedade. Quando estamos ameaçados de perder algo que gostamos muito perdemos a atenção, mudamos o foco e a memória fica comprometida”, explica a especialista.

Existe a morte repentina, como atropelamentos, e mortes anunciadas, quando o animal já está velho ou com a saúde debilitada. Mas não é possível mensurar a dor não se mensura. “As duas situações são muito difíceis. Temos o choque da morte repentina e o a frustração lenta da morte arrastada. A gente não espera mesmo quando está esperando”, afirma Keyla.

O luto é moroso e varia de pessoa para pessoa. É comum que, em um primeiro momento, a pessoa se sinta em choque. Também podem acontecer alterações fisiológicas. O sono é prejudicado, produtividade pode cair, falta de atenção e perda da memória.

Nenhum animal substitui outro. Os bichos possuem personalidades diferentes e uma história única. “São como membros da família. Vai existir uma lacuna emocional muito grande, pois o vazio se instala e é bastante doloroso”, afirma a psicóloga.

Camilla Passos, 26 anos, assistente de eventos, passou por maus bocados quando a cadelinha Lili morreu aos 12 anos, em julho de 2013. A morte do animal já era esperada. Lili sofria de piometra e câncer de mama. “Os veterinários avisaram que ela não ficaria ao meu lado por muito tempo”, conta.

Ela se emociona ao se lembrar dos momentos com Lili. “Era meu xodó e minha sombra. Quando estava em casa, me seguia por todos os lados. Isso é o que eu mais sinto falta. A saudade da minha companheira me seguindo pela casa”, relembra.

Lili foi enterrada no quintal de uma casa. Atualmente, Camilla tem mais dois animais: uma cadela de 5 anos sem raça definida e um daschund de 1 ano e meio. Para ela, uma casa sem animais é uma casa sem alegria.

Há duas opções para quem pretende despedir-se das mascotes: o enterro convencional ou a cremação. Os dois serviços seguem normas para evitar a contaminação do solo. Luiz Felippe Lopes trabalha como administrador em um crematório de animais e afirma que os tutores chegam até eles muito abalados. “Cada animal tem sua individualidade, sua história. A gente escuta muita coisa dos donos dos animais e tentamos confortá-los nesse momento tão difícil”, explica.

Lopes faz um alerta para pessoas que jogam os animais em lixões ou os enterram em casa. “Não podemos descartar nenhum bicho. Além disso, enterrar animais em casa ou em outro local pode contaminar o lençol freático.” Um plano funerário pode garantir o bem-estar do bicho mesmo depois da morte. “Nós cuidamos do transporte, sala de velório, embalagem do corpo em caixão biodegradável e uma lápide”, afirma Sheila Ribeiro, proprietária de um cemitério especializado.

“Ninguém está preparado para a morte. Mesmo gastando com internações e um plano funerário, esse é um momento muito difícil. Nós conversamos, deixamos a pessoa se despedir e respeitamos essa dor. Tudo é feito sem pressa”, afirma Sheila. Em 4 anos, foram enterrados mais de mil animais no local. Além de cães e gatos, há espaço para outros bichos também. “Coelhos, hamster, papagaio e outros pássaros também já passaram por aqui”, conta.

Velhice tranquila

A expectativa média de cães miniaturas/pequenos é de 14 a 18 anos, os médios entre 12 a 15 e os grandes/gigantes aproximadamente 8 a 10. Os gatos podem chegar a duas décadas. Naturalmente, ao londo da vida, podem aparecer problemas degenerativos, como falências orgânicas. Insuficiências cardíaca, hepática, renal, hormonais e processos oncológicos e ortopédicos. “Os mais problemáticos são a insuficiência renal e as neoformações malignas com alto grau de metástase”, afirma o veterinário Rafael Souza.

Existem várias ferramentas que podem ser utilizadas para proporcionar uma velhice tranquila aos pets. Os bichos diagnosticados com problemas ortopédicos podem passar por sessões de acupuntura, fisioterapia, quiropraxia, rações suplementadas com ingredientes para amenizar o desgaste ósseo. A maioria dos pacientes geriátricos necessita receber medicação até o fim da vida.

Alguns animais em idade muito avançada podem desenvolver a síndrome da disfunção cognitiva, semelhante ao Alzheimer humano. “Ele troca o dia pela noite, anda sem uma direção certa, não interage com as pessoas ou outros animais, não consegue achar a saída de alguns locais e, naturalmente, se moverá menos por causa das dores articulares”, explica Rafael Souza, veterinário.

Grande família

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Enquanto algumas pessoas pensam muito antes de comprar ou adotar um pet, outras preferem ter a casa cheia. Organização, vacinas e limpeza são os requisitos para ter muitas mascotes

Foto Zuleika de Souza/CB/DA Press

São cerca de 100 quilos de ração por mês — além de muita atenção, carinho e cuidados para distribuir entre os 14 cachorros. Assim é a rotina da advogada Roselani Matos, 32 anos, e do analista de sistemas Carlos Gomes, 40. A quantidade de animais não é um problema para o casal, que organiza o espaço e o tempo para tomar conta de todos os pets.

O dia começa cedo na casa deles, por volta das 6h30. É hora de Carlos acordar, colocar comida para os cachorros e soltá-los do canil no jardim. Não tem fim de semana ou feriado. “A gente acorda nessa hora mesmo sem despertador. Se nós demoramos, eles começam a ficar agitados”, conta. E, todo sábado ou domingo, tem o banho coletivo. “Não é um bichinho de pelúcia, tem que ter toda uma administração doméstica”, acrescenta Roselani. Até o carro deles é adaptado para carregar a turma.

O casal pediu para confeccionarem um equipamento de segurança especial, que pudesse prender pelo menos os oito pugs, os queridinhos da família. E que fique claro: “Quem não botar o cinto não vai!”, avisa Carlos. A saída preferida é ir para encontros da raça em parques. No último encontro, em 26 de julho, os donos aproveitaram para arrecadaram 52kg de ração e doaram para uma ONG de proteção animal, a Projeto Adoção São Francisco.

Os pugs têm certos privilégios — são os únicos que tem acesso ao interior da casa. E, confessam os donos, tem aceso livre à cama deles. “Quando o meu marido chega do trabalho, às vezes, não tem espaço para ele”, brinca Roselani. E não é por causa da quantidade que os cachorros ganham menos atenção. Cada um ganha a devida atenção. “Eu observo muito, se tem algum lugar coçando, se o olhinho está lacrimejando, se tem alguma mudança de personalidade”, afirma a dona.

Os nomes da turma são puro glamour, a maioria inspirados em divas pop. Os pugs são Adele, Beyoncé, Rihanna, Talia, Ozzy, Teodoro, Beto e Faruk. Há também a dogo argentina Shakira, quatro vira-latas de médio porte, Britney, Lady Gaga, Tina e Budy, e a fila Madonna, que foi o primeiro pet do casal, em 2010. Antes, Madonna também podia entrar em casa, mas, quando cresceu o suficiente para ocupar o sofá inteiro, perdeu espaço para os cães menores.

A parte negativa? “Limpar cocô é horrível”, admite Carlos, rindo. Eventualmente, eles também precisam lidar com algum móvel roído ou xixi no lugar errado. “A gente troca o sofá bastante. É bom porque muda a casa”, brinca Roselani. Também é importante cuidar da administração financeira. O maior gasto deles é com ração, cerca de R$ 700 por mês e com a renovação das vacinas no início do ano, aproximadamente R$ 1.800. Para controlar a natalidade, os machos foram castrados, com exceção de um dos pugs. Na época do cio, ele é separado das fêmeas. A cirurgia também serviu para evitar disputas por domínio e reduzir brigas.

O casal garante que vale a pena manter vários animais. “Cachorro só traz boas pessoas para a nossa vida. Dizem que Brasília é um lugar meio frio, mas basta arrumar um cachorro que isso muda. É uma forma de criar afinidade, trocar experiências com quem gosta de bicho”, opina Roselani. Ela também considera que os pets são bons para as crianças. O casal tem dois filhos gêmeos, João Vítor e Vinícius, de 7 anos, que geralmente têm a companhia do afilhado, Adriano Matos, de 8. “Faz bem essa interação. A criançada é muito imaginativa, faz os cachorros de personagens das brincadeiras”, conta Roselani.

Roselani conta que partiu dela iniciativa ter vários cachorros. Desde pequena, sempre estive rodeada de animais. “O meu pai vai fazer churrasco e acaba deixando metade da carne para os cachorros. E a minha mãe costuma adotar animais abandonados ou com dificuldades, atropelados. Ela tem até um salsichinha cadeirante”, descreve. “Quando você é criado assim, não vê muita dificuldade”, opina. A família está completa, mas há espaço para mais um. Será que eles vão resistir à fofura da próxima ninhada dos pugs?   Cuidados:   Para ter vários animais, são necessárias algumas precauções. A principal delas é a correta imunização. “Você pode ter quantos cachorros quiser, desde que sejam bem cuidados e estejam com as vacinas atualizadas. Os cuidados básicos são de vermifugação, vacinação e alimentação”, enumera a veterinária Maria de Fátima Coelho. Outro conselho é a castração, o que reduz disputas por território e, consequentemente, brigas.

A veterinária Lorena Figueiredo recomenda que o macho passe pelo processo antes da maturidade sexual. Se o procedimento for feito mais cedo, aumentam as chances de diminuir a valentia do cão. No entanto, Lorena destaca que a agressividade pode estar ligada, principalmente, a questões ambientais, como o nível de estresse do animal.

A veterinária Maria de Fátima também destaca outro aspecto: “Animal não é nada barato, tem que ter todos cuidados.” E o ambiente onde os pets ficam deve estar sempre limpo. “Eu acredito que a higienização precisa ser redobrada [quando se tem muitos animais]”, afirma a veterinária Lorena Figueiredo. E a assepsia não é apenas do local, mas também dos próprios pets. A especialista indica um banho a cada 15 dias para os cachorros e um por mês para gatos.

No caso de pets resgatados, a veterinária indica levá-los imediatamente até uma clínica para tomar vacinas e fazer exames. “Não sabemos dizer o estado de saúde de um animal de rua, ele poderia levar algumas doenças para a casa. O adequado é pegá-lo com luvas e pedir avaliação de um veterinário”, acrescenta Lorena.

Para ela, a desvantagem de ter vários animais é que fica mais difícil identificar se eles têm alguma doença. “É preciso tempo para se dedicar e ter um espaço limpo, com animais atendidos por veterinários”, afirma Lorena. A especialista também diz que é importante ter um ambiente adequado para as características de cada cachorro.

“Têm cães mais ativos, outros mais tranquilos, depende do porte da raça, do temperamento. Alguns precisam de mais espaço e ficam bem em um quintal. Já os pequenos exigem mais atenção e podem ter problemas se ficarem sozinhos no fundo da casa”, aponta Lorena. “Não é apenas água e comida, tem que ter carinho, atenção.”

De modo geral, a convivência com outros animais traz vantagens. “Hoje em dia, as pessoas não têm muito tempo para dedicar ao cachorro. Com um companheiro, ele consegue extravasar isso melhor, ficar menos ansioso e ter menos desvios comportamentais, como latidos e destruição de objetos”, afirma Lorena.  

Vencidos pelo amor

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A experiência de dois homens que adotaram pets um pouco a contragosto, mas que, depois, se apegaram totalmente aos amigos felpudos.

José Euclides, Letícia e Toby viraram um trio inseparável: insistência da jovem valeu a pena. Foto Zuleika de Souza/CB/DAPress

A experiência de dois homens que adotaram pets um pouco a contragosto, mas que, depois, se apegaram totalmente aos amigos felpudos

“Não”. Essa foi a primeira resposta dos pais entrevistados nesta reportagem quando os filhos pediram um animal de estimação. No entanto, algo mudou. Eles cederam. Os peludos chegaram, conquistaram espaço, encantaram os donos da casa e ficaram. Após o impacto com a adaptação, os pets ganharam status de membro da família.

Foi assim no lar da estudante Letícia Viana, 17 anos. Ela tentou, por 5 anos, convencer o pai, José Euclides Andrade, 51, a ter um cachorro. O advogado sempre vetava, não queria mais um compromisso. A esposa faleceu quando a filha tinha apenas 5 anos e, desde então, ele acumulou os papéis paterno e materno.

“Achava que não daria conta de criar duas vidas. O meu ritmo de trabalho sempre foi puxado, não teria com quem dividir as responsabilidades do cachorro”, explica Euclides. Com a filha pequena, não tinha condições, mas, em 2013, ano em que Letícia debutou, precisou rever seus conceitos. A jovem estava muito triste e Euclides decidiu buscar ajuda profissional. “Fui a uma psicóloga que já tinha cuidado da Letícia na época da perda da mãe, e ela sugeriu que eu aceitasse o animal”, relembra.

O shih tzu foi “liberado” depois de uma conversa séria sobre divisão de tarefas. A adolescente pesquisou tudo: a melhor raça para viver em apartamento, o tipo de ração, os melhores preços de produtos para pet etc. “Quando fomos ver os filhotes, o Toby se destacou porque pulou no colo dela. A Letícia ficou encantada e levamos”, resume. O pai logo entendeu o conselho da terapeuta: a convivência com o animal fez bem para ele também.

O psicólogo Helio Ricardo Machado esclarece que a chegada de um animal de estimação pode despertar novos afetos. “As emoções impactam diretamente nosso comportamento. Nesse sentido, um contato próximo com os pets, combinado com o afeto emanados por eles, representa o amor incondicional. A sociedade, acostumada com relações cada vez mais pautadas pela falta de afeto espontâneo, encontra um contraponto no animal. Ele será aquele que vai gostar de você, independentemente do que você faça ou deixe de fazer.”

Passados dois anos de aprendizado entre pai, filha e o pequeno peludo, Euclides confessa que passou a ser menos duro e a externar mais seus sentimentos. Já Letícia desenvolveu tanto o senso de responsabilidade que chama o cão de filho. “Com certeza, é um filho. Na verdade, mais meu do que dela”, observa o pai, rindo.

De acordo com Helio Machado, é comum a resistência a animais estar relacionada a memórias, bem como a representações compartilhadas socialmente. “Ambas as formas de preconceber, imaginar ou temer a relação com os bichos de estimação podem ser ressignificadas a partir de uma relação real”, pontua. O servidor público Luiz Cláudio Fernandes, 53 anos, experimentou essa reviravolta. Quando o filho Matheus, hoje com 21, nasceu, os pais compraram um cão de porte médio para grande. Em certo momento, ficou inviável criar o animal no apartamento em que viviam e tiveram que se desfazer dele. “Foi uma situação difícil. Meti na minha cabeça que, para ter um cachorro, deveria ter um espaço maior. Só assim ele poderia correr e extravasar as energias”, argumenta Luiz.

A família se mudou para uma casa, mas a resistência continuou. Porém, a mulher de Luiz não desistiu e consegui convencê-lo. A experiência com a primeira boxer, Bindy, deu tão certo que, hoje em dia, eles têm mais duas cadelas: a também boxer Leleca e a vira-lata Megan. “Sem dúvida, os cachorros trouxeram muita alegria para nós três. A convivência mostrou que o espaço não precisava ser tão grande quanto eu pensava. O quintal acabou sendo suficiente”, conclui.

Para a veterinária Ana Catarina Valle, o comportamento do animal com os donos será definido no momento da chegada. Se houver qualquer resistência, o animal sente e não vai querer aproximação com aquela pessoa. Pode ocorrer, também, de o cão desenvolver um instinto de proteção em relação aos outros membros da casa ou não tolerar certas atitudes. “É importante ressaltar que tudo pode mudar no meio do caminho. Mesmo o cão mais bravo pode ser conquistado, basta cuidar e dar carinho”, aconselha.

Paladar exigente

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Mais seletivos do que os cachorros, os gatos costumam dar preferência para alimentos e água frescos.

Os  gatos de Ana Carolina se alimentam apenas de ração: atum é prêmio eventual.

foto Zuleika de Souza/CB/DA Press

Eles são manhosos até mesmo na hora de comer. A relação entre gatos e comida costuma ser complexa. “Os felinos são mais seletivos do que os cães, buscando sempre comer alimentos mais frescos, de paladar e odor agradáveis”, explica o veterinário Emanuel Quintela. Mas o comportamento varia de acordo com a personalidade de cada animal. “Gatos geralmente são mais organizados. Não gostam de comida velha e não comem qualquer coisa. Mas ainda existem alguns felinos que não se importam com isso”, explica a médica veterinária Ana Catarina Valle.

A estudante Ana Carolina Santos, 24 anos, tem cinco gatos em casa. Cada um com hábitos alimentares diferente. Nora, Mike, Guinezer, Lisa e Mona dividem a dona, mas cada um lida de forma diferente com a comida. De todos, a gatinha Nora é a mais comilona. “Ela é bem gulosa. Se deixar, come a ração dela e a dos outros. Até se a gente colocar a comida na mão ou no chão ela pega”, conta.

Nora tem 7kg e se alimenta apenas de ração e atum ao natural em ocasiões especiais. “O peixe é oferecido como prêmio às vezes”, explica Ana Carolina. A jovem afirma que nunca teve problemas para alimentar os animais. O único procedimento é trocar a ração e água pelo menos duas vezes por dia. “Eu deixo a comida a vontade o dia inteiro”, explica.

Na hora de escolher a ração, ela optou por um alimento sem conservantes e com elementos de origem animal. Ana Carolina afirma que nem quando os gatos ficam doentes param de comer. “Assim que eles escutam o barulho, vêm correndo. Preferem a comida com o cheirinho do plástico”, detalha.

Além dos cinco gatos, na casa também moram três cães da raça shih-tzu, dois rottweilers e um cachorro da raça fila brasileiro.

Gatos são animais carnívoros. “Eles gostam de comidas mais gordurosas, com mais sabor. O teor proteico é maior para os felinos do que para cães”, explica a veterinária. Por isso, não é possível oferecer apenas vegetais. “Eles não são onívoros. Tudo que os gatos precisam, eles tiram da proteína. Não tem como mudar os hábitos alimentares de um animal assim”, explica Ana Catarina Valle.

A relação dos felinos com a água também é muito meticulosa. A preferência é sempre pelo líquido fresco. Em geral, eles só bebem a água que julgam de boa qualidade. Por isso, muitas vezes, optam por ingerir a substância diretamente das torneiras ou até mesmo do chão. Em dias quentes, é ainda mais importante renovar a água oferecida. “Uma boa ideia é acrescentar cubos de gelos. Eles adoram e fica bem refrescante”, recomenda a especialista.

Segundo o veterinário Emanuel Quintela, existem no mercado saídas para o gato não perder o interesse pela água. “Há fontes que mantêm o líquido circulando, estimulando assim a ingestão de água”, afirma o veterinário Emanuel Quintela.

Para quem faz a comida do pet em casa, a alimentação deve ter tudo que ele precisa para manter energias. “Vitamina, proteína, carboidrato e minerais. Também é muito importante colocar pouco ou quase nada de sal”, explica Valle. Temperos como açafrão, alecrim e manjericão podem ser adicionados na comida do animal para dar mais sabor.

Mas é preciso atenção: alguns alimentos são tóxicos para os gatos. “Cebola e chocolate, por exemplo, estão terminantemente proibidos”, explica. Laticínios também. “A maioria dos gatos tem intolerância a lactose. Provoca vômitos e diarreias. Frutas cítricas ou com alto valor calórico devem ser evitadas da mesma forma”, explica.

Gatos geralmente comem em pequenas porções várias vezes ao dia. O importante é trocar a ração do animal para mantê-la sempre fresca. “O bicho não pode ficar longos períodos sem se alimentar. Eles também preferem comer à noite, pois, como a maioria dos felinos, são animais com hábitos noturnos”, explica.

A petsitter Alessandra Toledo, 42 anos, tem 42 gatos. Desses animais, 33 moram com ela e outros nove com a mãe. Todos os bichos comem somente ração e Alessandra garante que o melhor é investir na alimentação dos animais. “Eu prefiro gastar com a comida deles e economizar no veterinário”, explica.

Como são muitos gatos em casa, eles costuma dividir algumas vasilhas “São dois para cada potinho de comida. Como não comem na mesma hora, eles dividem numa boa”, explica. Assim como as mascotes de Ana Carolina, os animais só comem se a ração estiver fresca. A tutora dos bichanos também tem muito cuidado com a conservação da água. “Coloco sempre em potes de barro ou cerâmica. Assim, a água fica sempre geladinha, do jeito que eles gostam. Quando está muito calor, ponho pedras de gelo”, detalha Alessandra Toledo.

Cheio de manias

Para o gato persa Madox, 8 anos, a comida te que estar exatamente como ele quer. O felino só come carne vermelha e crua. “Tem que ser sempre bem fresquinha. Se passar alguns minutos do ponto, ele não aceita”, conta Neide Cavalcante, 38 anos, chef de cozinha e dona do animal.

Neide garante ter tentado dar todo tipo de ração para Madox. “Ele sempre rejeitou, desde que era bebê. Um dia, eu estava cortando carne e dei um pedaço para ele. A partir daí, não quis mais saber de outra coisa.” Mas as manias dele vão além. “Além da carne, ele também come pão com requeijão, panetone e peito de frango, mas só se tiver cortado em cubinhos”, afirma a chef de cozinha.

Apesar dos hábitos peculiares, a proprietária do pet garante que ele nunca teve nenhum problema de saúde. “Está bem gordinho, mas nunca passou mal e o pelo continua bonito”. Além de Madox, mais quatro gatos moram na casa. “Dos cinco, ele é o único com alimentação diferente. Todos comem ração. Ele também é o único macho”, conta.

Sobre o temperamento do felino, Neide garante que o animal é muito dócil com a família. “Ele é carinhoso, só fica arisco quando tem visitas em casa”, explica. O gato também dorme com a dona. “Os outros bichinhos até sobem na cama, mas ele é o único que, de fato, passa a noite comigo”, diverte-se. Com água, Madox também é muito meticuloso. “Ele gosta bem fresca e tem que ser em um balde. Nada de vasilhas”, relata.

Os especialistas destacam a importância de manter alimentos e água longe da caixa de areia. “É bom afastar os comedouros e, se possível, colocá-los em outro ambiente, pois os gatos são animais bem higiênicos e seletivos. Eles podem associar a hora de comer à hora de ir ao banheiro e, com isso, diminuir a quantidade de ingestão de ração ou até parar de comer”, alerta o veterinário Emanuel Quintela.

Deixar vasilhas limpas também é importante para o bem-estar do animal. Os utensílios devem ser limpos pelo menos duas vezes por dia. “Existem formigas, baratas, insetos. Além disso, as sobras podem fermentar com o tempo, podendo causar transtornos alimentares”, explica Quintela.