52538870474_f8a1e9b99d_c A hora do espanto de Tite com a derrota para Camarões. Foto: Lucas Figueiredo/CBF A hora do espanto de Tite com a derrota para Camarões. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

Seis erros de Tite na fase de grupos no começo cambaleante da campanha pelo hexacampeonato

Publicado em Esporte

A fase de grupos terminou para o Brasil com recados duríssimos para uma Seleção que almeja conquistar a sexta estrela, em 18 de dezembro, no Lusail Stadium. Assim como em 2018, na Rússia, as exibições do time de Tite não agradaram e sequer passaram confiança aos torcedores para a fase de mata-mata. A derrota para Camarões desafia o técnico a fazer o que o Brasil jamais conseguiu: conquistar o título depois de uma derrota na fase de grupos.

Mário Jorge Lobo Zagallo bateu na trave. A Seleção perdeu para a Noruega em 1998, levantou, sacodiu a poeira, deu a volta por cima, mas amargou o vice diante da anfitriã França na derrota por 3 x 0 em Saint-Denis. A melhor inspiração é a Espanha de 2010. La Roja estreou perdendo para a Suíça na fase de grupos e tornou-se imbatível depois disso fazendo uma fase mata-mata impecável. De 1 x 0 em 1 x 0, conquistou o título inédito na África do Sul.

A seguir, o blog aponta equívocos do técnico da Seleção na primeira fase. Pondero que alguns deles são resultado das contusões em série desde o início da competição. Tite perdeu Neymar, seu único fora de série. Dos três laterais, conta no momento com apenas um, o veterano Daniel Alves, de 39 anos. Danilo, Alex Sandro e Alex Telles estão no departamento médico.

 

1. Nove fora
Richarlison iniciou a Copa do Mundo quebrando tabu. A camisa 9 não balançava a rede na Copa havia 9 jogos. Pois ele foi lá e resolveu o jogo contra a Sérvia com duas belíssimas finalizações. Em vez de dar confiança ao atacante e deixa-lo em campo a maior quantidade de tempo possível na primeira fase levando em conta que o atacante é um estreante, Tite impediu o Pombo de terminar uma partida. Foi substituído nas duas em que participou e ficou fora do duelo contra Camarões. Quem começa de forma arrasadora como o Richarlison precisa estar em campo ganhar confiança. Artilheiro do Brasil, Richarlison não disputou nenhum jogo do início ao fim.

 

2. Dependência do pontas
A reinvenção do Brasil depois da derrota em casa para a Argentina na final da Copa América de 2021 e a medalha de ouro em Tóquio-2020 com a inclusão dos pontas foi uma grande sacada, mas Tite não pode ficar refém dela. A primeira fase mostrou o vício do Brasil de entregar a bola aos extremos na expectativa de que eles desequilibrem o tempo todo. Não é razoável insistir com o que não está dando certo. Uma alternativa é abrir mão de um dos pontas, deixar um par de atacantes na frente — Vinicius Junior e Richarlison, por exemplo — e reforçar o meio de campo. Não ficarei surpreso se Tite enfrenta a Coreia do Sul com três volantes, por exemplo.

 

3. Insegurança no meio de campo
Tite chegou ao Qatar com o meia Lucas Paquetá praticamente entre os intocáveis no meio de campo da Seleção para os papéis de volante ao lado de Casemiro ou de meia e até mesmo ponta na construção das jogadas. Em vez de passar confiança ao jogador contra a Suíça na função em que ele havia começado a Copa, ou seja, ao lado de Casemiro, o deslocou para o papel de Neymar e queimou o meia no intervalo ao substituí-lo por Rodrygo. Ele poderia ter evitado isso fazendo o simples. Se queria Rodrygo no time, o correto era manter Paquetá ao lado de Casemiro e simplesmente inserir o jogador do Real Madrid no time para emular Neymar.

 

4. Apego aos critérios
Tite quis ser justo com Fred ao devolvê-lo ao time titular na primeira oportunidade, ou seja, na ausência de Neymar contra a Suíça na segunda rodada. O primeiro da fila nem sempre é quem acumula mais milhas em uma função específica, mas a peça capaz de dar mais dinamismo ao meio de campo, o setor mais carente da Seleção. Havia duas opções: manter Lucas Paquetá como volante ou dar a vez a Bruno Guimarães. Não. Tite começou a partida com Fred contra a Suíça e Camarões. O jogador não correspondeu em nenhuma das duas exibições. Tanto que obrigou Tite a rever a escolha e substituí-lo no segundo tempo nas duas partidas.

 

5. Falta de variação
Questionei Tite pelo menos duas vezes no ciclo sobre a possibilidade de o Brasil jogar com três zagueiros, uma alternativa à viciada linha de quatro adotada em seis anos e meio de trabalho. Dois times autorais dele jogavam bem assim: o Grêmio campeão da Copa do Brasil em 2001 contra o Corinthians e o São Caetano quarto colocado no Brasileirão 2004. Tite não adicionou essa possibilidade no repertório. As três partidas da primeira fase exigiram a variação que o Brasil não tem, principalmente quando perdeu laterais em série. A linha de três permite adaptar pontas ao papel de alas no 3-5-2 e/ou no 3-4-3. A escola holandesa usa muito esse artifício. É uma alternativa também a uma Copa em que as seleções adeptas da posse de bola encontram dificuldade para impor esse estilo de jogo e precisam ser mais verticais.

 

6. Erro de avaliação
Tite está longe de ser prepotente, mas foi contra Camarões. Influenciado ou não por assistentes e observadores dos adversários, cometeu erro de avaliação grave ao escalar os reservas na última rodada da fase de grupos. Era minimamente aceitável um time misto, por exemplo. Agiu em uma Copa do Mundo como técnico de time do Brasileirão preocupado com duelo seguinte pela Libertadores ou a Copa do Brasil. Faltou sensibilidade para perceber que a zebra está solta e exige o mínimo de respeito possível por qualquer adversário. O elenco é talentoso, mas não conta com uma formação reserva minimamente entrosada.

 

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