Fluminense Coudet e Diniz: inteligência à beira do campo nas semifinais. Foto: Marcelo Gonçalves/FFC Eduardo Coudet e Fernando Diniz: inteligência à beira do campo na semi. Foto: Marcelo Gonçalves/FFC

Muito além dos quatro gols: Diniz e Coudet dão aula no campo das ideias

Publicado em Esporte

Fluminense e Internacional entregaram bem mais do que quatro gols no primeiro duelo das semifinais da Libertadores. Houve um duelo no campo das ideias. Algumas delas adaptadas ao roteiro original da bela partida no Maracanã. O técnico colorado Eduardo Coudet mostrou-se antenado com truques europeus. Trabalhava na Espanha até pouco tempo. O mentor tricolor Fernando Diniz mostrou-se mais uma vez um profissional fora da caixinha no futebol nacional.

 

Discordo da escalação inicial do Fluminense, mas reconheço: quem sou eu na fila do pão? Admissão de insignificância à parte, posiciono-me de pé para aplaudir a coragem de Diniz. Ele manteve contra o Internacional o 4-1-3-2 alternado para 4-4-2 usado nas quartas de final contra o Olimpia. Eu teria entrado com Alexander a fim de dar estabilidade ao meio de campo e liberdade para Marcelo transitar mais pelo campo, inclusive da direita para o meio. Assim, fez gols contra o Flamengo e o Vasco em clássicos pelo Carioca e o Brasileirão nesta temporada.

 

No sistema inicial contra o Internacional, Ganso vira volante postiço na recomposição ao lado de André. O camisa 10 é fora de série na criação, porém insuficiente na marcação. Mesmo assim, Ganso se superou. Entregou muito. Deixou a pose de lado e agiu fielmente como operário. Fez trabalhos sujos em bolas perdidas pelos colegas. Felipe Melo, por exemplo, errou e ele consertou. A expulsão de Samuel Xavier comprometeu a sequência dele no time na etapa final.

 

Por sinal, o cartão vermelho para o lateral-direito tem muito a ver com um achismo meu. Tenho a impressão de que Eduardo Coudet se inspirou na vitória da Bélgica contra o Brasil nas quartas de final da Copa de 2018 na escolha do posicionamento de Enner Valencia. As movimentações iniciais do atacante colorado lembraram as de Lukaku contra Marcelo na Rússia.

 

Forte e veloz, Valencia se posicionava aberto na direita para explorar a dificuldade de Marcelo para marcar e a lentidão do zagueiro Felipe Melo. O plano era partir com a bola dominada para cima deles em diagonal e alguém ocuparia o espaço de Valencia dentro da área. O lateral Mallo surgiu como centroavante no gol de empate. Alan Patrick foi decisivo na virada. Guardadas as devidas proporções, Lukaku foi de flecha a arco contra o Brasil e De Bruyne virou falso nove.

 

Valencia importunou a defesa do Inter pela esquerda em cima de Marcelo e Felipe Melo, mas também partiu para cima de Samuel Xavier e Nino na direita. A intenção era usá-lo para gerar instabilidade nas extremidades da retaguarda tricolor. Conseguiu. Samuel Xavier foi expulso justamente por cometer falta em Valencia. O Fluminense ficou com 10.

 

Recuado para preencher o vazio na lateral direita, Arias deu campo para Renê virar personagem do jogo. No 11 contra 11, o colorado perdeu a bola para Arias no lance do primeiro gol do Fluminense. Compensou com o cruzamento na cabeça de Mallo no lance do empate. Na etapa final, iniciou a jogada da virada concluída com tranquilidade pelo meia Alan Patrick.

 

Mas Fernando Diniz é um técnico fora da caixinha. Os treinos do Fluminense incluem simulação para algumas situações críticas durante o jogo. Expulsão, por exemplo. O time tricolor não melhorou por acaso depois de sofrer o segundo gol. Sim, Eduardo Coudet colaborou ao errar nas substituições de Mauricio e Alan Patrick, porém a equipe carioca se reinventou no 4-4-1.

 

“A gente treina, e obviamente que ajuda em uma situação de inferioridade numérica. Mas o que mais ajudou foi a entrega dos jogadores e o ganho que tivemos que foi o acréscimo da torcida, que começou a cantar mais ainda. Empurrar o time e conseguiu jogar muito junto com a equipe mais uma vez”, admitiu Fernando Diniz na entrevista coletiva sobre os exercícios 11 contra 10.

 

Diniz costuma ter uma carta na manga em situações de desespero. Uma espécie de extintor de incêndio. As cobranças de escanteio. Ele ensaia a exaustão. A bola quase sempre vai na cabeça do excelente Nino. O zagueiro-artilheiro tem cinco gols na temporada. Quando ele não marca, dá assistência. Cano aproveitou, superou a marcação de Mallo e empatou. Friamente calculado.    Fernando Diniz e Eduardo Coudet estão de parabéns. Mais do que quatro gols, entregaram aos fãs de futebol um belíssimo duelo no campo das ideias.

 

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