Efeito Procópio: pisada na bola mudou a postura de Tite em negociações de contrato

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Tite desembarcou no Rio, onde mora há sete anos, na noite de terça-feira. Foto: Marcos Coelho/Rádio Tupi

 

Adenor Leonardo Bachi desembarcou na noite de terça-feira com a família, no Rio, onde mora desde que assumiu a Seleção Brasileira em 2016, com o seguinte discurso ao ser reiteradamente questionado pela imprensa sobre uma possível negociação para assumir o Flamengo: “Minha vida é pautada em respeito, educação, princípios”. O que Tite indica nas entrelinhas da declaração?

 

É preciso voltar 18 anos na máquina do tempo para entender. Em 2005, Procópio Cardoso comandava o Atlético-MG. Insatisfeita com o trabalho, a diretoria do Galo foi ao mercado atrás de um novo técnico. Aproximou-se de Tite. O gaúcho de Caxias do Sul (RS) abriu negociação paralelamente ao trabalho do colega de profissão no clube e ficou com peso na consciência.

 

“Eu me arrependi de ter acertado com o Atlético-MG quando tinha um técnico. Quando o Procópio Cardoso era técnico e negociei. Por ímpeto, não me informei da situação dele, que ele continuava técnico do Atlético, e negociei. Ao longo do tempo, liguei para ele e me coloquei dessa forma. Se tem uma coisa que não faço e me orgulho muito, e ali errei, é ter ética profissional. Independentemente que goste do outro profissional ou não. Tem muitos que não me dou, outros que são inimigos, outro que são muito amigos. Faço por mim, por me sentir bem. Se pudesse voltar atrás, não negociaria com o Atlético com o Procópio lá”, disse Tite em entrevista ao colega Dassler Marques no UOL em 2015, quando comandava o Corinthians.

 

Procópio Cardoso ouviu o pedido de desculpas de Tite, aceitou e nasceu uma amizade. “Ele é uma pessoa muito bacana, um cara diferente, muito simples, um amigo. Eu sei, como treinador que fui, como o tempo da gente é curto, mas ele encontra tempo para me ligar. Deixou dois ingressos para eu ir ao jogo”, contou Procóprio em 2016 ao Estado de Minas antes de um clássico contra a Argentina. O Brasil venceu por 3 x 0, no Mineirão, em Belo Horizonte.

 

Para bom entendedor, uma declaração dessa basta. Tite queria dizer à imprensa no retorno ao Rio que não negocia diretamente com o Flamengo ou qualquer outro clube enquanto houver um profissional vinculado ao time. No caso específico rubro-negro, Jorge Sampaoli comandou treino na terça-feira depois do amargo vice de domingo na Copa do Brasil contra o São Paulo. Portanto, se Tite é o sonho de consumo, o clube precisa primeiro dispensar o argentino.

 

Apurei com fonte próxima ao Tite que a viagem de ontem de Porto Alegre ao Rio estava marcada. Ele a esposa foram ao Rio Grande do Sul tratar de questões familiares. Tite e a esposa Rosmari amam o Rio. Fixaram residência na Cidade Maravilhosa. Portanto, não houve viagem às pressas devido a um possível acerto com o Flamengo. Os Bachi estavam apenas voltando para casa.

 

Tite não trabalha desde a eliminação nos pênaltis contra a Croácia nas quartas de final da Copa do Mundo de 2022, no Catar. Escolheu descansar. O período sabático já dura 291 dias. Começou em 10 de dezembro do ano passado, o dia seguinte ao adeus ao sonho do hexa.

 

O ex-técnico da Seleção foi tentado várias vezes a trocar o chinelão e a poltrona de casa pela prancheta, porém resiste bravamente até agora. Foi sondado pelo próprio Flamengo na saída de Vítor Pereira; pelo Corinthians mais de uma vez; pelo Botafogo, Internacional e Bahia no país. Seleções como a Coreia do Sul e o Equador procuraram saber sobre a situação de Tite. O Al Hilal estava inclinado a levá-lo para a Arábia Saudita, mas os xeques investiram em Jorge Jesus.

 

O fechamento da janela de transferências na Europa fez Tite recalcular o plano de carreira. Aos poucos, o staff dele foi mandando mensagens ao mercado de que está disposto a volta ao batente. As notícias sobre a opção pelo fim do período sabático começaram a pipocar há oito dias. A preferência era pelo exterior, mas ele admitia recomeçar no futebol brasileiro. Entre os grandes do país, ele comandou Atlético-MG, Corinthians, Grêmio, Internacional e Palmeiras.

 

Se fechar com Tite, o Flamengo terá de contratar um combo. A comissão técnica tem dois assistentes: o fiel escudeiro Cleber Xavier e o filho, Matheus Bachi. O preparador físico Fábio Mahseredjian está incluído no pacote, assim como um observador técnico e dois analistas de desempenho. Tite trabalha assim. Se há conversas em andamento, elas são com o empresário dele, o discreto agente Gilmar Veloz. Ele entra no circuito quando a situação esquenta. São amigos íntimos. Tite, inclusive, esteve no casamento da filha do empresário em 2016.

 

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