Luziania Luziânia, de Sebastião Rocha, arrancou 0 x 0 com o Brasiliense na ida. Divulgação/Luziânnia Luziânia, de Sebastião Rocha, arrancou 0 x 0 com o Brasiliense na ida. Divulgação/Luziânnia

Entrevista: Sebastião Rocha | Campeão duas vezes pelo Flamengo no Mané Garrincha, técnico do Luziânia tem a missão de eliminar o Brasiliense no estádio da sorte

Publicado em Esporte

Aos 65 anos, o carioca Sebastião Carlos da Silva Rocha tem seu canto da sorte no quadrado do Distrito Federal: o Mané Garrincha. O técnico do Luziânia foi campeão duas vezes no principal estádio do futebol candango. Ambos à frente do Flamengo. Era 1997. Primeiro, ele ganhou o Quadrangular de Brasília. Além do time rubro-negro, participaram Fluminense, Atlético-MG e Botafogo. Sebastião Rocha levou o time carioca ao título contra o Galo graças ao gol de Iranildo, que, mais tarde se tornaria o maior ídolo da história do Brasiliense – adversário do Luziânia na matinê deste domingo, às 11h, justamente no Mané, pelas quartas de final do Candangão.

No mesmo ano, Sebastião Rocha conquistou a Copa dos Campeões Mundiais contra o São Paulo, por 1 x 0, novamente no Mané Garrincha. Nem o herói do título mudou. Iranildo balançou a rede no triunfo contra o tricolor comandado pelo uruguaio Darío Pereyra. O Mané Garrincha não era esse, tão moderno, mas, com certeza, quando eu pisar, as recordações de 1997 vão aflorar”, reconhece o treinador em entrevista ao blog.

A missão deste domingo no Mané Garrincha não é fácil: derrotar o Brasiliense, time mais rico do Distrito Federal, para avançar às semifinais do Candangão. No jogo de ida, houve empate por 0 x 0. Nova igualdade só interessa ao Jacaré. Para conseguir o resultado, ele se inspira em dois times classificados para as semifinais da Liga dos Campeões da Europa. Ele conta, a seguir, saiu para caminhar pensando nos milagres do Red Bull Leipzig e do Lyon contra Atlético de Madrid e Manchester City, respectivamente, pedindo aos deuses da bola que também ajudem o Luziânia da mesma forma que colaborou com o Leicester City na conquista da Premier League, em 2016. 

 

Você foi campeão duas vezes no velho Mané Garrincha pelo Flamengo. Qual é a sensação de retornar a esse endereço com o Luziânia para enfrentar o Brasiliense nas quartas de final?

Estou para viver duas emoções muito importantes no futebol. Retornar ao palco onde fui muito feliz com o Clube de Regatas do Flamengo em duas ocasiões. O Mané Garrincha não era esse, tão moderno, mas, com certeza, quando eu pisar, as recordações de 1997 vão aflorar. Com certeza, vou me emocionar muito por estar ali num dia especial, em que jogaremos a nossa cartada rumo à próxima fase da competição.

 

Os dois títulos como técnico do Flamenco estão vivos na memória?

O primeiro foi no Torneio de Brasília. Na final, nós saímos campeões no jogo de 1 x 0, gol do Iranildo, contra o Atlético-MG. Na época, o técnico (do Galo) era o Emerson Leão. A outra grande alegria lá (no Mané Garrincha) foi sagrar campeão da Copa dos Campeões Mundiais numa final emocionante contra o São Paulo. O gol novamente foi de um ídolo daqui (do Brasiliense), que é o Iranildo. Ganhamos por 1 x 0 e nos apresentamos muito bem.

 

 

E agora volta ao estádio em clima de decisão…

Vai ser uma grande alegria retornar ao Mané Garrincha para fazer novamente um jogo decisivo. Empatamos no Serra do Lago e, agora, volto a esse palco que me deu tanta alegria por um jogo local do Candangão. O Luziânia é um lugar que estou adorando trabalhar. Conheci pessoas maravilhosas. Vai ser uma grande emoção retornar.

 

O Mané Garrincha não era esse, tão moderno, mas, com certeza, quando eu pisar, as recordações de 1997 vão aflorar. Com certeza, vou me emocionar muito por estar ali num dia especial, em que jogaremos a nossa cartada rumo à próxima fase da competição

 

Alguma lembrança marcante do título da Copa dos Campeões Mundiais no Mané Garrincha?

Foi especial porque o grupo do Flamengo estava muito mexido (emocionalmente) naquela época. Tínhamos acabado de perder a Copa do Brasil, no Maracanã, com 90 mil pessoas. O primeiro jogo da final nós fizemos em Porto Alegre contra o Grêmio. Foi uma grande exibição. Todo mundo jogava muito atrás contra o Grêmio no Olímpico para fazer o resultado e decidir em casa. Eu optei com os jogadores, o Romário, o Sávio, o Lúcio, o Júnior Baiano, o Clemer, que faríamos um jogo de pressão. Dominamos bastante o jogo. Ficou a sensação de que, no Maracanã, nós conseguiríamos, mas o futebol tem muitos acidentes e não tivemos êxito.

 

Então, alguém, aqui em Brasília, tinha que pagar pela perda daquele título…

Nós viemos a Brasília para disputar a Copa dos Campeões e pegamos justamente o Grêmio. Ganhamos por 4 x 2. Aquilo ali deu ânimo muito grande ao grupo. Ficamos emocionados porque era o que deveria ter acontecido no Maracanã. A gente se sentiu muito em casa aqui em Brasília, no Mané Garrincha. O torcedor do Flamengo recebe muito bem o clube aqui.

 

 

O futebol está meio maluco em tempos de pandemia. Red Bull Leipzig eliminou Atlético de Madrid da Liga dos Campeões; Lyon tirou o Manchester City… Leipzig e o Lyon inspiram o Luziânia a surpreender o favorito Brasiliense?

Eu estava fazendo uma caminhada logo depois do jogo (Lyon 3 x 1 Manchester City) e fiquei pensando justamente como os deuses do futebol estão fazendo nessa Champions. Ela está completamente diferente. Os exemplos estão aí. Luziânia, Lyon, Leipzig, Leicester City, que ganhou a Premier League (2015/2016) não ganharam por sorte. Venceram porque alguma coisa aconteceu internamente. O Luziânia tem um grupo de jogadores que seu uniu por uma causa muito forte, com várias dificuldades contra times como Brasiliense, Real, Capital, o tradicional Gama. Meus jogadores sempre fizeram jogos muito interessantes, fortes, e acreditam na proposta. Você vê a vibração dos jogadores em campo, na arquibancada. O que une Luziânia, Lyon e Leipzig, ou Brasília, França e Alemanha são grupos que buscam a vitória. Não se importam com a diferença estrutural ou monetária. Às vezes, quem é superior comete o grande engano de achar que o inferior não pode. Aí está o engano. Os torcedores do Luziânia podem ter certeza de que amanhã (hoje) o espírito é esse. Foi na quarta-feira e continuará no domingo. Esse grupo merece estar em um outro patamar como diz um flamenguista (Bruno Henrique).

 

Eu estava fazendo uma caminhada logo depois do jogo (Lyon 3 x 1 Manchester City) e fiquei pensando justamente como os deuses do futebol estão fazendo nessa Champions. Ela está completamente diferente. O que une Luziânia, Lyon e Leipzig, ou Brasília, França e Alemanha são grupos que buscam a vitória. Não se importam com a diferença estrutural ou monetária. Às vezes, quem é superior comete o grande engano de achar que o inferior não pode

 

Qual é a sua visão sobre o futebol candango?

Não sou, ainda, um grande especialista em futebol candango. A pandemia atrapalhou um pouquinho a sequência, mas sinto que precisamos urgentemente que equipes como Brasiliense, Gama, Capital, Real, Luziânia, mais times galgando outras séries, não somente a D. Precisamos de times na C, B, até na A num projeto a médio prazo. Mais equipes nas séries nacionais. Isso faz com que a gente tenha crescimento. Abre caminho para que outras venham. Nessa curta passagem interrompida pela pandemia, vi grandes jogadores.

Você sempre trabalhou muito bem as divisões de base. Não falta mais investimento na base da parte de alguns times da cidade?

Os clubes precisam dar um incentivo maior às divisões de base. Não sub-20 só. Alguns possuem sub-20. Mais embaixo ainda, no sub-13, sub-15, formatar alguns jogadores para as outras categorias, criar jogadores locais para que eles continuem aqui. Como isso vai acontecer? Aí, a gente volta ao início. Quando nós tivermos times em séries que tenham competição o ano todo. Todo lugar em que a competição se encerra basicamente nos estaduais você tem pouco prosseguimento no desenvolvimento do futebol naquele local. Há estados em que o futebol não está nas séries principais (como o DF). Isso prejudica muito. Se você começar a olhar para baixo, o garoto não quer ficar aqui. Ele quer ir para um outro centro que dê sequência na carreira dele. São os pontos principais para você ter o desenvolvimento do futebol aqui.

 

Os clubes (candangos) precisam dar um incentivo maior às divisões de base. Não sub-20 só. Alguns possuem sub-20. Mais embaixo ainda, no sub-13, sub-15, formatar alguns jogadores para as outras categorias, criar jogadores locais para que eles continuem aqui

 

Pretende seguir no futebol do DF independentemente do resultado do Luziânia?

A vontade é de ficar aqui. Eu gostaria de ver esse crescimento. É um lugar em que fui muito acolhido, gosto de estar aqui, e gostaria de contribuir justamente nesse tocante. Incentivar muito as divisões de base. É uma coisa que fiz muito na minha vida tanto no Fluminense quanto no Flamengo. É um assunto que eu gosto e o caminho é por aí para termos um grande lugar com futebol de verdade para todos os segmentos. Precisamos criar clubes, ídolos e público local.

Você rodou o mundo. Quais são as recordações da vida cigana?

A lembrança sempre fica. O carinho, as dificuldades que você encontra. Isso tudo forma uma memória muito interessante. Tenho lembranças dos lugares por onde passei. Marrocos, Catar, Emirados Árabes Unidos. O futebol traz muitos amigos, trocas de experiência, vivência. Estou experimentando uma história nova aqui. Faz parte do meu arsenal de momentos. Há momentos de tristeza quando você não ganha, mas ficam os aprendizados. Pode ser um chavão, mas é realidade. O Bernardinho falou uma coisa que é verdade: você nunca perde, você aprende. Temos mais uma história a escrever no Luziânia e espero que a gente consiga o resultado. É um grupo que se fortaleceu muito e tem no DNA a vontade de vencer. Isso é um legado.

 

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