Contenção de danos, porém , sem Bolsonaro

Publicado em Guerra das vacinas

As imagens e entrevistas de três ministros de estado para receber dois milhões de doses da vacina AstraZeneca/Oxford em São Paulo foi a forma que o governo encontrou para tentar empatar o jogo com o governador de São Paulo, João Doria. As pesquisas internas do governo e a cobrança dos brasileiros por vacinas foram cruciais para que o Planalto fechasse esse formato para receber o imunizante procedente da Índia. No Rio de Janeiro, houve até Zé gotinha, avisado uma hora antes da chegada do vôo da Azul no Galeão.

A intenção era ainda mandar vários recados:

1) O governo está trabalhando pelas vacinas.

2) João Dória não é melhor que os outros governadores. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, citou que nenhum estado brasileiro era melhor que o outro, em entrevista há pouco no aeroporto de São Paulo, na hora do embarque das vacinas para o Rio de Janeiro.

3) O país não enfrenta problemas na área internacional, tanto é que a Índia enviou as vacinas.

4) Nem tampouco o ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, é atuante, tanto é que conseguiu o envio das vacinas, junto com o presidente Jair Bolsonaro.

Tudo foi pensado para ver se o governo consegue empatar o jogo com Dória e, ao mesmo tempo, conter os danos provocados na popularidade presidencial, pelo fato do Brasil ficar atrás de outros grandes países na imunização, tendo um cenário tão triste, com a volta do registro de mil mortes diárias.

O volume de vacinas, portanto, ainda é pequeno para todo o aparato montado. Foram dois milhões de doses, que, somadas às vacinas da Sinovac, CoronaVac __ tanto as que já estão em fase de aplicação e aquelas aprovadas hoje pela Anvisa __ têm-se um total de 12,8 milhões para aplicação. só os grupos prioritários representam 30 milhões de pessoas, sem contar os caminhoneiros, incluídos pelo governo para tentar amortecer o movimento pela greve no setor. E as 10,8 milhões de doses da CoronaVac permitem vacinar apenas 5,4 milhões de pessoas (considerando que cada uma tomará duas doses). Ou seja, alta muito ainda para que a cobertura do grupo prioritário esteja concluída.

Todas essas atitudes, porém, correm o risco de não surtir o efeito desejado pelo governo, caso o presidente continue desacreditando as vacinas. Até aqui, as vacinas, segundo as autoridades de saúde, são eficazes. Mesmo no caso da CoronaVac, cuja eficácia ficou em 50,8%, as pessoas imunizadas até aqui não desenvolveram a forma grave da doença. Para quem não tinha segurança alguma, já é alguma coisa.

Projeto de Bolsonaro para 2022 inclui o Patriotas

Bolsonaro
Publicado em coluna Brasília-DF

Com diversos convites para se filiar a partidos políticos, o presidente Jair Bolsonaro deixou transparecer a aliados que pretende seguir para o Patriotas. Esse é, inclusive, o nome do partido que, conforme publicou o Wall Street Journal, o ex-presidente Donald Trump pretende criar para tentar se manter em evidência na política. Hoje, o Patriotas tem cinco deputados federais. Subiria, conforme cálculos de aliados do presidente, para 25.

Embora o presidente só vá tomar essa decisão em março, depois da eleição à Presidência da Câmara, há quem diga que uma filiação ao seu antigo partido, o PP de Ciro Nogueira e Arthur Lira; ao PL, de Valdemar Costa Neto; ou ao PTB, de Roberto Jefferson, deixaria o presidente na mesma situação que viveu no PSL, ou seja, filiado a legendas que têm donos. De quebra, ainda teria de explicar que as siglas tiveram problemas no mensalão e coisa e tal. Para completar, o fato de Trump criar um Patriot Party nos Estados Unidos, avaliam os bolsonaristas, daria um braço internacional ao projeto.

Mico federal
Os casos de “fura-fila” registrados país afora serão mais um problema a exigir explicações por parte de todas as autoridades, municipais, estaduais e federais. Afinal, se o Ministério da Saúde requisitou as vacinas,deveria ter adotado um procedimento padrão de aplicação para todos os estados.

Ainda sem resposta
Não se sabe, por exemplo, se as pessoas que receberam a vacina de forma irregular, ou seja, fora da fila, vão ter direito à segunda dose, ou essas segundas doses serão destinadas a outras pessoas. No caso das irmãs em Manaus, por exemplo, onde a vacinação foi suspensa, a segunda dose delas pode servir para imunizar uma pessoa do grupo de risco.

Aposta alta
A insatisfação de parlamentares com a onda de demissões de apadrinhados de deputados eleitores de Baleia Rossi (MDB-SP) é vista no governo como temporária. Assim que passar a eleição para a Mesa Diretora, a aposta do Planalto é de que os deputados voltarão para o Planalto, pedindo cargos e verbas.

Bolsonaro incensa Ernesto
A notícia de que a vacina de Oxford/AstraZeneca chega hoje ao Brasil serviu para o presidente mandar um recado a todos os apoiadores que pediam a troca do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Bolsonaro atribuiu a boa notícia ao trabalho do ministro, que faz tudo o que o Planalto determina sem pestanejar.

Eduardo, o retorno/ A rádio corredor da Câmara dos Deputados registra encontros na residência do ex-deputado Eduardo Cunha, onde ele cumpre prisão domiciliar, para tratar da eleição para o comando da Casa. Tudo para ajudar Arthur Lira (PP-AL).

Manda outro/ Se depender do líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas, a Casa não aprovará o nome do tenente-coronel da reserva Jorge Kormann para a Anvisa. “Dificílimo aprovar”, disse Izalci, em entrevista à Rede Vida de televisão. “O Senado precisa cumprir seu papel de aprovar indicações técnicas”, emendou ele. O militar, que estava internado na UTI, com covid-19, deve ter o nome retirado pelo governo.

Por falar em PSDB…/ O líder ainda não desistiu de levar os senadores fechados com Simone Tebet (MDB-MS) a votar em Rodrigo Pacheco (DEM-MG).

Ficamos assim/ Nesta sexta-feira, com a chegada da vacina da Oxford, Bolsonaro acredita que o governo terá um imunizante para chamar de seu. A torcida no Planalto é para que a CoronaVac, que terá novo lote aprovado, hoje, pela Anvisa, fique em segundo plano. Só tem dois probleminhas: 1) vacina não tem ideologia; 2) até aqui, a capacidade de produção do Butantan é maior. Que venham todas!

Sem Trump, resta a Bolsonaro o diálogo com Biden

Publicado em coluna Brasília-DF

O cumprimento de Jair Bolsonaro ao novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, demorou porque o capitão queria esperar a saída de Donald Trump. Agora, até Biden ler a carta no estilo “bandeira branca” enviada pelo presidente, levará algum tempo.

Antes de ler as linhas traçadas pela ala mais “muita calma nessa hora” do governo brasileiro, Biden, conforme avisam diplomatas, reajustará a relação com os países europeus e se juntará às pressões para que o Brasil proteja suas florestas.

Diante dessa nova realidade, Bolsonaro, se deixar as bravatas de lado, terá a chance de apostar na preservação ambiental e tentar se colocar na cobrança pelos créditos de carbono e economia verde. Se quiser permanecer no discurso do valentão sobre “saliva e pólvora” para agradar seus apoiadores mais aguerridos nas redes sociais, ficará falando sozinho.

Para quem não se lembra, em novembro, quando Biden foi eleito, Bolsonaro fez um discurso sobre as cobranças pela preservação ambiental, dizendo que, “quando acaba a saliva, tem que ter pólvora”. Pelo visto, a munição acabou.

Estado de defesa e os EUA

Quanto mais autoridades brasileiras usarem expressões do tipo “militares decidem se um povo terá democracia ou ditadura”, como fez Jair Bolsonaro, ou “calamidade é antessala do estado de defesa”, como fez o procurador-geral Augusto Aras, mais o Brasil estará longe do novo governo dos EUA. Vai ficar mesmo é bem perto do sistema venezuelano, regime que o presidente tanto critica.

Quem avisa…

Estudioso do Orçamento da União há décadas, o deputado Júlio César (PSD-PI) avisou a Bolsonaro que o governo precisa escancarar o quadro de dificuldades fiscais para tentar reduzir a pressão sobre a continuidade do auxílio emergencial. “A situação das contas públicas é crítica, porque a dívida está na casa dos 91% do Produto Interno Bruto (PIB)”, diz o parlamentar.

… amigo é

Júlio César não entrou na discussão sobre estender o auxílio por mais alguns meses, porque considera ser um tema do Ministério da Economia. Porém, deixou claro que a renovação do benefício representará R$ 20 bilhões/mês, num cenário em que houve queda de arrecadação. Bolsonaro concordou que as dificuldades existem, porém, não entrou em detalhes.

Se vira, Brandão!

No Banco do Brasil, segue a tensão. Bolsonaro garantiu que não haverá fechamento de agências, mas uma turma da área técnica espera que essa garantia seja igual àquela de que não compraria a CoronaVac.

Vexame atrás de vexame/ As autoridades manauaras podem se preparar para um futuro a la Wilson Witzel ou Marcelo Crivella. Além da questão de falta de oxigênio, que levou à morte de várias pessoas, agora, a revolta é com as filhas de um megaempresário, médicas nomeadas para cargos comissionados na prefeitura, que foram vacinadas e não estão na linha de frente do combate à covid.

Só tem uma saída/ A prefeitura será chamada a colocar as duas na linha de frente dos hospitais, que, aliás, clamam por pessoal.

E o Ernesto, hein?/ Os parlamentares não engoliram as afirmações do chanceler Ernesto Araújo de que está tudo bem com o governo da China e com o da Índia no quesito vacinas. Se faltar imunizante, depois de aplicada essa primeira leva, vai respingar no Itamaraty parte das ações judiciais em estudo.

Por falar em vacinas…/ Furar a fila da vacinação deveria ser crime inafiançável. Pelo menos, já tem deputados interessados em preparar projetos nesse sentido.

Com carta a Biden, Bolsonaro tenta sair do isolamento no cenário internacional

Publicado em Bolsonaro & Biden

Nunca antes na história do Brasil, o país esteve tão isolado no cenário internacional e precisando justamente daqueles que tanto atacou nos últimos tempos. E, do Itamaraty, vêm informações de que ou o Brasil muda sua forma de atuação ou terá problemas. Jair Bolsonaro jogou todas as fichas em Donald Trump e colocou um pé no palanque do ex-presidente dos Estados Unidos a receber, em setembro do ano passado, em plena campanha para a Presidência dos Estados Unidos, o secretário de Estado, Mike Pompeo, na fronteira com a Venezuela. O encontro foi lido à época como uma forma de Bolsonaro dar uma forcinha a Trump junto ao eleitorado latino. Agora, com Trump descansando na Flórida, Bolsonaro terá que trabalhar muito a fim de tentar conquistar o respeito do novo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Daí, o envio de uma carta e os parabéns a Biden pelas redes sociais.

A carta enviada por Bolsonaro ao novo presidente é uma espécie de bandeira branca. O presidente brasileiro não consegue sequer acertar com a Índia o envio imediato das vacinas, e ainda verá o novo presidente dos Estados Unidos se juntar aos países europeus que há tempos cobram um cuidado maior do governo brasileiro em relação à Amazônia. Para quem disse que, quando acabasse a “saliva” teria que ter “pólvora”, o presidente brasileiro dá sinais de que deixou de lado essas bravatas e está disposto a manter uma relação cordial e respeitosa com os Estados Unidos. Melhor assim.

Com a posse de Biden, cresce a pressão pela demissão de Araújo

Ernesto Araújo
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Coluna Brasília-DF

Com a posse do democrata Joe Biden, hoje, nos Estados Unidos, crescem as pressões em parte da base do governo para que Bolsonaro troque o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. A avaliação de alguns é a de que o chanceler apostou tanto no governo de Donald Trump que, agora, é preciso dar uma guinada na política externa. Até no Itamaraty não são poucos os diplomatas a dizer que o governo errou feio na relação com a China, país do qual o Brasil depende para a vacinação contra a covid-19.

… mas o presidente, não

Ernesto Araújo seguiu exatamente a cartilha recomendada por Bolsonaro, e o capitão não dá o menor sinal de que pretende substituir o ministro. Aliás, o presidente acredita que tanto no caso do chanceler quanto em relação ao ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles é uma “perseguição” ao seu governo.

Governo retalia apoiadores de Baleia Rossi

Baleia Rossi
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Coluna Brasília-DF

Sem recursos para atender às emendas, uma vez que não há orçamento aprovado, o governo turbinou a movimentação de cargos de terceiro e segundo escalões para ajudar a alavancar a candidatura de Arthur Lira (PP-AL). As mudanças atingem até mesmo deputados do MDB, que sempre apoiaram o governo e apoiam o presidente do partido e líder da bancada, Baleia Rossi (SP). Até agora, já foram alvos dessas mudanças, por exemplo, os indicados dos deputados Hildo Rocha (MDB-MA) e Flaviano Melo (MDB-AC).

Ao demitir apadrinhados de deputados que sempre deram aquela ajuda ao governo, no plenário e fora dele, Jair Bolsonaro joga ao mar um pedaço da base. Na conta de chegada para tentar eleger Lira no primeiro turno, o presidente corre o risco de perder números para votações de emendas constitucionais e outros processos legislativos que exigem um quórum qualificado, como impeachment.

Afinal, entre os apoiadores de Lira, hoje, nem todos são bolsonaristas, e Bolsonaro não terá todos eles ao seu dispor para o dia seguinte. Ao entrar de cabeça na campanha de Lira, deixa de lado a velha máxima “quem poupa, tem”. E gasta um ativo crucial para o futuro incerto que vem pela frente.

O alerta de Aras

A nota do procurador-geral, Augusto Aras, para dizer que cabe ao Poder Legislativo avaliar crimes de responsabilidade, foi vista como um alerta no sentido de que se evite transformar a grave crise de saúde numa crise política e institucional. Ainda que Bolsonaro esteja cometendo erros, é preciso garantir a estabilidade política para não agravar ainda mais a situação. Diz Aras: “O estado de calamidade pública é a antessala do estado de defesa”, recado que muitos congressistas entenderam como “muita calma nessa hora”.

Placar

As contas de alguns partidos sobre a Presidência da Câmara estão assim: 228 votos pró-Baleia Rossi; 212 para Arthur Lira; 53 indecisos e 20 votos para os demais candidatos — Fábio Ramalho, Luiza Erundina, Marcel Van Hatten e Alexandre Frota. No balanço das horas, tudo pode mudar.

Na defesa e no ataque I/ O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) postou um vídeo, em suas redes sociais, para defender os atos do governo em relação às vacinas e ao caso da falta de oxigênio em Manaus, que ele diz ser “página virada”. E cita que o governo federal fez “repasses bilionários” para a cidade e o “governo local teve problemas lá” — ao mencionar a prisão da secretária de Saúde.

Na defesa e no ataque II/ No caso das vacinas, Eduardo diz que há “narrativas construídas” para “porrada no presidente”, ataca João Doria e dá uma alfinetada na CoronaVac, a única vacina disponível para os brasileiros nesse momento: “João Doria não queria que a CoronaVac — vacina que vem da China, mas não é aplicada pelos chineses — passasse pelo crivo da Anvisa. João Doria não é das pessoas mais confiáveis e não goza de prestígio na população”, diz Eduardo, que, recentemente, criou problemas diplomáticos com os chineses.

Na defesa e no ataque III/ Eduardo ressalta os 50% de eficácia da vacina e afirma que “ainda assim, é válido, muita gente vai querer tomar, mas deve-se dar opção para as pessoas. Não sou eu que vou dizer o que você vai injetar no seu corpo”. Vale lembrar que Doria não disse não querer que a vacina passasse pelo crivo da Anvisa. Disse apenas que, se a vacina estivesse aprovada lá fora e o governo não aprovasse por motivos políticos, haveria a opção de se buscar os certificados internacionais para aplicação do imunizante.

Enquanto isso, no salão verde…/ Ainda que a Câmara tenha optado pela instalação de cabines de votação no Salão Verde, deputados que têm problemas cardíacos já avisaram que não virão para a abertura e eleição do futuro presidente da Câmara. Se brincar, até o dia da eleição, ações judiciais podem reverter essa determinação da Mesa Diretora, de votação presencial.

“Eu teria feito a mesma coisa”, diz governador do Espírito Santo sobre Doria em foto de vacinação

. Brasil. São Paulo - SP. Pandemia coronavírus. O Governador do Estado de São Paulo, João Doria dá início a Vacinação no Estado de São Paulo com a vacina na enfermaria Monica Calazans do Instituto Emílio Ribas. Enfermeira Monica Calazans ? primeira brasileira vacinada contra o Covid-19.
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Coluna Brasília-DF

Houve, entre os governadores, quem dissesse que o de São Paulo, João Doria, foi afoito ao entrar na foto de aplicação da vacina da covid logo no domingo. Em política, vale a máxima: quem pode mais, chora menos. E, com a situação de emergência, nenhum teria feito diferente. Ocorre que poucos admitem em público: “Eu teria feito a mesma coisa”, disse à coluna o governador do Espírito Santo, Renato Casagrande.

Votação presencial na Câmara mostra que Maia não tem mais tanto poder

Rodrigo Maia café frio
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Coluna Brasília-DF

A decisão da Mesa Diretora da Câmara, de fazer a eleição para a Presidência da Casa de forma presencial, é vista nos bastidores como um sinal forte de que o atual comandante, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não tem mais tanto poder de mando de campo. Porém, não significa que a situação não está ganha para o líder do PP, Arthur Lira (AL), na disputa para suceder Maia.

A pressão do Centrão pela votação presencial, avaliam aliados de Lira, é uma demonstração de que o PP teme as traições e quer a segurança da disputa olho no olho, pois alguns ficam constrangidos em trair o partido. A menos de duas semanas do pleito, qualquer deslize pode atrapalhar a estratégia de definição no primeiro turno.

CPI, o primeiro teste

A afirmação de Rodrigo Maia de que será preciso uma grande investigação para apurar responsabilidades pela trágica situação da pandemia no Brasil indica que este será o primeiro desafio do futuro presidente da Câmara. O governo, dizem alguns aliados do presidente Jair Bolsonaro, espera contar com Arthur Lira para barrar qualquer investigação.

Por falar em responsabilidades…

A Mesa Diretora da Câmara que, agora, encerra o mandato correrá o risco de começar o ano legislativo sob a acusação de irresponsabilidade sanitária por causa da votação presencial para escolha do novo presidente da Casa. Já tem gente pedindo estudos para rever se é possível entrar na Justiça em favor da votação remota, de forma a impedir aglomeração no plenário.

Blefar para desviar…

Com a vacina na ordem do dia, Bolsonaro voltou a dizer que os militares é que “decidem se um povo viverá na democracia ou na ditadura”. A afirmação, que não encontra eco na cúpula das Forças Armadas, foi vista como mais uma forma de sair do foco da crítica em relação às vacinas que ele não queria comprar e tentar retomar a polarização com o PT.

… e mudar o adversário

Bolsonaro ainda perguntou a apoiadores como estariam as Forças Armadas se Fernando Haddad, do PT, fosse eleito em 2018. Tudo para retornar ao ringue onde venceu, na última eleição, e tirar o governador de São Paulo, João Doria, da cena da vacina, onde o tucano está nadando de braçada.

Muita calma nessa hora/ Os bolsonaristas avaliaram a pesquisa da XP, que mostrou uma subida de 35% para 40% no índice de ruim e péssimo do governo, como algo que não deve preocupar neste momento. Isso porque, ao contrário de Donald Trump, que terminou atropelado pelo negacionismo em meio à pandemia, Bolsonaro ainda tem um ano e meio para se recuperar.

Tudo anotado/ Os tucanos vão reforçar que foi o acordo costurado por Doria com o laboratório Sinovac que permitiu a compra das doses da CoronaVac — aquela que Bolsonaro disse, em outubro, quando o ministro Eduardo Pazuello anunciou que compraria 46 milhões de doses: “a vacina chinesa de João Doria não será comprada”. Agora, Bolsonaro diz que a vacina não é de nenhum governador, é do Brasil.

O que teme Pazuello/ A modulação do discurso do ministro da Saúde ao dizer que jamais falou em “tratamento precoce” e, sim, em “atendimento precoce” é para evitar um chamamento à responsabilidade, que já está em análise na Procuradoria-Geral da República. Vale o mesmo para o governador do Amazonas, Wilson Lima.

Vem aí a CPI da Covid-19, prevê Maia

Publicado em Política

O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acaba de mencionar que será inevitável uma grande investigação sobre responsabilidades do governo na condução da pandemia. O comentário seresere especialmente à condução do Ministério da Saúde. “Se fosse bom de logística, teria planejado, acompanhado o número de casos, de forma não faltar insumos”, disse ele, referindo-se ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Ele citou inclusive que fatalmente virá uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar responsabilidades. Esse é visto como o caminho mais provável nesse momento. CPIs, vale lembrar, já desaguaram no passado em pedidos de impeachment.

A CPI, entretanto, dependerá de quem será o presidente da Câmara. Arthur Lira tem recebido todo o apoio do governo, que tem esperanças de que o atual líder do PP funcione como uma espécie de blindagem para processos de impeachment e pedidos de CPI. Essa é a primeiro grande briga política de 2021 e será decidida de forma presencial, conforme deliberação da Mesa Diretora. Maia foi voto vencido e fez questão de dizer que não era o momento para colocar os deputados no plenário escolhendo seu presidente. Afinal, são 513 e o ambiente do plenário é fechado.

Pandemia e toma-lá-dá-cá, os desafios de Arthur Lira

dep. Arthur Lira (PP-AL).
Publicado em coluna Brasília-DF
Coluna Brasília-DF

A campanha do deputado Arthur Lira (PP-AL) à Presidência da Câmara começa a enfrentar problemas. Na seara do toma-lá-dá-cá, cresce a revolta do baixo clero. Na ideológica, entrou a pandemia. No quesito “o que Maria leva”, deputados começam a reclamar de um dos coordenadores da campanha, Domingos Neto (PSD-CE), ex-relator-geral do Orçamento.

Um grupo esperava receber emendas extras, mas acredita que o relator-geral foi na linha do “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Para o Ceará, algo em torno de R$ 400 milhões, sendo R$ 157 milhões para a cidade administrada pela mãe do deputado.

E, nesse momento de necessidades vitais para a área de saúde, não há muito o que fazer para atender aos deputados insatisfeitos, no quesito restos a pagar. Para completar, os tropeços mais recentes do presidente Jair Bolsonaro na condução da pandemia não ajudam Arthur Lira.

Nas últimas reuniões, como a que houve com a bancada paulista, o governador João Dória (PSDB), por exemplo, aproveitou para dizer que a candidatura de Baleia Rossi (MDB-SP) à Presidência da Câmara é um seguro contra o negacionismo, que toma conta do governo e de seus aliados.

Aliás, vale lembrar, os aliados de Bolsonaro chegaram ao disparate de gravar um vídeo defendendo o tratamento precoce e tirando máscaras, nesse momento em que os pacientes lotam os hospitais, ao ponto de o país viver a tragédia da falta de oxigênio em Manaus.

Maia, o traído

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, nunca imaginou que fosse viver uma situação dessas. Depois de brigar por Elmar Nascimento (DEM-BA) para presidir a Comissão Mista de Orçamento (CMO), Maia vê Elmar se tornar um líder da campanha pró-Arthur Lira dentro do Democratas. O baiano não se conforma por não ter sido escolhido candidato do bloco “Câmara Independente”.

Compadres rompidos I

Arthur Lira tem ainda o apoio de Alexandre Baldy (PP-GO), compadre de Rodrigo Maia. Lira só não utiliza o avião da família de Baldy na campanha, porque a aeronave está em manutenção.

Compadres rompidos II

Baldy apoiou Maia nas três eleições, mas não apoia Baleia Rossi, porque o MDB é adversário do PP em Goiás. Baldy não tinha como deixar de apoiar o próprio partido nacionalmente. Maia não está, sequer, falando com o amigo Baldy, padrinho de Felipe, filho caçula do presidente da Câmara.

Curtidas

Sem vida fácil/ Se o governo passou esses dois anos meio cabreiro por causa de Rodrigo Maia, é porque ainda não conhece a fundo o senador Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Aliás, ali, no Senado, quem vencer não será um passeio para o presidente Jair Bolsonaro. Simone Tebet (MDB-MS) é conhecida por uma postura independente.

Vem por aí/ Deputados com experiência e partidários do diálogo político vão montar o bloco do velho clero. É que a turma mais nova, em especial nos partidos mais ligados ao governo, tem se mostrado muito radical e avessa às conversas e às reuniões políticas. Até fazem, desde que o interlocutor concorde com eles. Em política, quem não sabe ceder em algum ponto, perde.

Frota na lida/ Em pleno almoço da bancada federal paulista com João Doria e o candidato a presidente da Câmara pelo bloco “Câmara Independente”, Baleia Rossi, o deputado Alexandre Frota (PSDB-SP) foi de mesa em mesa, anunciando aos desavisados que será candidato ao comando da Casa e pedindo votos.

Que sirva de alerta/ No fim do ano passado, a população de Manaus foi às ruas contra as medidas de distanciamento social. O governo atendeu. Agora, o povo voltou, clamando por oxigênio. Por mais que muitos estejam cansados das regras de distanciamento social, do #fiqueemcasa, do #usemascara, o momento não é de fingir que a pandemia acabou. Mesmo quem já teve a doença, deve se cuidar, uma vez que há casos de reinfecção.