Autor: Denise Rothenburg
Coluna Brasília-DF
Essa tem sido a frase mais repetida por ministros do presidente Jair Bolsonaro, quando perguntados por governadores e parlamentares sobre as declarações presidenciais mais polêmicas a respeito da Covid-19, e críticas aos estados, em entrevistas e lives à porta do Alvorada. A recomendação da equipe tem sido prestar atenção naquilo que o presidente escreve. Por exemplo: embora tenha defendido a volta ao trabalho, dispensou por decreto a liberação do número de dias letivos das escolas. Apesar de ter dito que não iria socorrer os governadores, liberou R$ 16 bilhões aos estados por medida provisória e outros recursos virão.
O distanciamento entre o discurso do presidente e a prática do governo prosseguirá, enquanto durar a pandemia. Assim, se a realidade chegar ao ponto previsto pelos mais pessimistas, Bolsonaro colará o seu discurso nos atos do governo. Se ocorrer o cenário mais otimista lá na frente, reforçará o que tem dito. Como muitos nesta pandemia, ele também está de olho na política.
Cálculos políticos
Entre os parlamentares, muita gente não tem mais dúvida: o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, está de aviso prévio. Bolsonaro só não o substitui agora porque tem medo que o cenário da pandemia se agrave ainda mais e, lá na frente, seja acusado de ter subestimado a “gripezinha”.
Todo cuidado é pouco
Os serviços de defesa ao consumidor avisaram ao governo que têm recebido inúmeras denúncias a respeito de quadrilhas que captam informações de pessoas de baixa renda, por mensagens de celular e e-mails, a fim de pegar os R$ 600. O receio, agora, é que o dinheiro acabe nas mãos dos bandidos. Por isso, é preciso organizar muito bem os cadastros e a distribuição do dinheiro.
Deu água
A ida do deputado Osmar Terra (MDB-RS) ao Planalto esta semana e a reunião com os médicos deixaram a certeza de que o presidente tenta se cercar de visões técnicas parecidas com a sua, tanto em relação ao isolamento social apenas dos idosos, quanto ao uso de cloroquina. O deputado, que é médico, repetiu ao presidente o que já havia dito no CB.Poder que enfrentou a H1N1 sem precisar de distanciamento social geral. Dos médicos intensivistas, Bolsonaro ouviu que a recomendação, por enquanto, é de isolamento social.
“O presidente pode ser criticado, mas faz acenos à população. Tem gente fazendo aceno para composição política”
Do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), referindo-se aos gestos do governador de São Paulo, João Doria, em direção ao ex-presidente Lula
CURTIDAS
À beira de um ataque de nervos/ Silas Malafaia e outros pastores evangélicos estão ensandecidos por causa da escassez de recolhimento do dízimo. Chegou ao ponto de um pastor de Minas Gerais pedir a Bolsonaro, na porta do Alvorada, a abertura de uma linha de crédito para as igrejas.
À beira de um ataque de nervos II/ Malafaia tem colocado seus fiéis para filmar comunidades no Rio de Janeiro, a fim de mostrar que o considera “quarentena de araque”.
Jogos eleitorais/ A filiação de Marta Suplicy ao Solidariedade indica que o PT pode ter ainda mais problemas para a eleição de prefeito de São Paulo. É que Marta, se concorrer, ainda é considerada boa de voto na capital paulista.
Enquanto isso, na economia/ As promessas feitas pelo governo, de recuperação econômica no ano que vem, não são compartilhadas pelos economistas. O cenário, diante de um endividamento necessário agora por causa da pandemia, ainda é para lá de incerto. Quem em juízo não arrisca previsões para o amanhã. Diante do vírus, a ordem é viver a cada dia a sua aflição.
Bolsonaro busca de respaldo técnico para suas teses e aumenta tensão com a Saúde
O fato de o presidente Jair Bolsonaro ter recebido o ex-ministro da Cidadania Osmar Terra e médicos para ouvi-los sobre cloroquina fez crescer as apostas sobre uma possível troca de comando no Ministério da Saúde. Entre os políticos, não resta dúvidas de que o presidente, dia após dia, desautoriza o ministro Luiz Henrique Mandetta. A visão de aliados mais próximos do presidente Jair Bolsonaro, porém, é a de que o ministro é quem tem desautorizado o presidente, que pensa diferente do ministro. Bolsonaro, embora não pense como o ministro, não o substitui porque teme que isso termine por lhe corroer ainda mais a popularidade, em caso de agravamento da crise. Agora, entretanto, está na fase de usar argumentos técnicos para tentar respaldar suas posições e levar à tradicional lie das quintas-feiras no Alvorada.
Ainda que tenha receio de trocar o ministro, Bolsonaro tem dobrado sua aposta no fim do isolamento social e sempre que pode faz questão de deixar claro que não compartilha da visão de Mandetta. É o que lhe resta, uma vez que uma demissão do ministro arrisca dinamitar a ponte que o ministro tem feito entre o governo federal e os estados. Há uma avaliação dentro do governo que alguém com um perfil automaticamente alinhado com o que pensa o presidente teria dificuldades em manter esse trabalho que já está em curso com os governos estaduais, que optaram pelo isolamento horizontal.
Bolsonaro não vai parar de colocar a sua posição. Terra foi chamado ao Palácio porque o presidente queria ouvir a posição dele sobre epidemias, que é idêntica à do presidente, e já foi detalhada em entrevista ao CB.Poder na semana passada. Segundo relatos, o deputado repetiu ao presidente sua posição contrária ao isolamento horizontal, citou sua experiência com a epidemia de H1N1, no Rio Grande do Sul, quando era secretário de Saúde. A comparação entre as duas epidemias não é considerada válida por muitos estudiosos e não tem sido seguida por países da Europa, porque a velocidade de propagação dos vírus é diferente. Numa de suas coletivas, Mandetta inclusive mencionou que quem seguisse a receita de combate ao H1N1 para o coronavírus iria errar.
Mandetta é no momento o ministro mais popular do presidente Jair Bolsonaro. Sua capacidade de diálogo, de ação, de coordenação de equipe e seu semblante de cansaço por noites mal-dormidas são, segundo pesquisas, a percepção do trabalho do governo federal em prol da combate ao coronavírus. Perder esse ativo pode ser um erro e levar outros a rufar panelas em caso da agravamento da crise. Resta saber se Bolsonaro vai pagar para ver ou deixar passar essas rodada.
Produtores rurais cobram do governo equipamento de proteção e testes para detecção de coronavírus
Coluna Brasília-DF
Produtores rurais fizeram uma série de reuniões, nos últimos dias, para cobrar do governo equipamento de proteção e testes para detecção de coronavírus. O setor continua trabalhando a pleno vapor e não há o desabastecimento, porém quer das autoridades sanitárias a garantia de máscaras para os trabalhadores e, de quebra, também os testes capazes de mapear quem está infectado, para poder separá-los daqueles que não estão, de forma a garantir a continuidade dos serviços. A ideia é fazer no agro o que foi feito com toda a população da Coreia do Sul.
A preocupação já foi levada à ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e ao presidente da Comissão de Agricultura, o deputado Fausto Pinato (PP-SP), que fazem a ponte com o agro e a Saúde, a fim de tentar resolver esse gargalo. O problema é que os testes têm sido voltados para os profissionais de saúde e a uma parcela dos doentes que chegam aos hospitais. Quando o cobertor é curto, uma parte fica descoberta.
O provocador
Foi dessa forma que os parlamentares classificaram Jair Bolsonaro, depois de reunião com um grupo de médicos para discutir o uso da cloroquina, sem avisar a Luiz Henrique Mandetta. Além de expor mais uma vez o ministro da Saúde, o presidente tirou os médicos da sua função na linha de frente do combate ao coronavírus, demonstrou não confiar na sua equipe e reduziu o prazo de validade do pronunciamento à nação esta semana. Pior, impossível.
Onde pega
Bolsonaro está convencido de que, se conseguir liberar logo os recursos para atendimento da população sem emprego, e se a cloroquina der certo, recupera a popularidade perdida. O problema é que a substância é usada hoje em casos de UTI por causa dos efeitos colaterais. E, para completar, tem gente no entorno presidencial torcendo pela demora na liberação de recursos para que ele possa dizer, lá na frente, que tinha razão quanto à volta imediata ao trabalho.
Discurso versus prática
A classe política gostou da mudança de tom do pronunciamento de Bolsonaro, na última terça-feira. Porém, para o “vamos dar as mãos”, será preciso que ele converta o discurso em ações de união e, até aqui, essas atitudes de unidade não vieram.
Pronunciamento iogurte
Há um consenso até dentro do governo de que, se o presidente continuar a ouvir mais o gabinete do ódio e, em especial, Carlos Bolsonaro, sua fala entrará na classificação dos gêneros perecíveis. Hoje, o 02 tuíta muito mais sobre desemprego do que sobre como ajudar no controle da doença na cidade pela qual foi eleito vereador, o Rio de Janeiro. Ou seja, serviço que é bom, é só o zero. Sem o número dois.
Sinais
Aliados do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), têm notado uma mudança nas redes sociais. Antes, qualquer postagem dele recebia uma chuva de milhares de interações negativas por parte dos bolsonaristas. Agora, essas interações caíram para menos de 400.
Lula na área…
Em entrevistas a blogs e sites alternativos, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveita o momento de crise para tentar comparar a crise econômica, que chamou de “marolinha”, à atual, que Bolsonaro chamou na semana passada de “gripezinha”. “As duas crises levam à necessidade de ter governo, e agora não vejo. Não tem articulação”, disse, referindo-se a Bolsonaro.
… Quer o lugar de Dória
O objetivo do PT nesse momento é recuperar o espaço político de polarização com Bolsonaro, vaga que o governador de São Paulo, João Doria, está conquistando pelo país afora.
Curtidas
Família testada/ O presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, que compôs a comitiva de Bolsonaro aos Estados Unidos, em março, descobriu que terminou infectando a esposa, a filha e os netos, e todos foram testados. Estão todos bem.
Família no escuro/ Pelo país afora, há inúmeros exemplos de famílias que perderam entes queridos com quadro de Síndrome Respiratória Aguda Grave. Não sabem ainda se foi Covid-19, nem são levados a fazer o teste.
Quem pode pode/ O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, despachou 23 aviões para a China a fim de buscar equipamentos hospitalares e testes para detecção de coronavírus. No mundo, está assim: quem paga à vista, leva primeiro.
110 Sul, a quadra dividida/ Durante o pronunciamento de Bolsonaro, o som dos blocos de apartamentos funcionais em que residem os brigadeiros e altos oficiais da Aeronáutica era o do Hino Nacional. Uma estratégia inteligente para abafar o rufar das panelas nos blocos civis.
Bolsonaro não abrirá mão de posições sobre o combate ao coronavírus
Coluna Brasília-DF
Assessores de Jair Bolsonaro são praticamente unânimes em afirmar que o capitão está convencido de suas posições sobre o combate ao coronavírus e não abrirá mão delas até o final da crise, ainda que danos eleitorais ocorram no futuro. A aposta do presidente continua sendo a de que, quando a crise passar, os eleitores voltarão a apoiá-lo. Nesse sentido, o máximo que a equipe pode fazer por ele, até aqui, é colocar todos os dados técnicos como obra e graça do Planalto.
O problema é que muitos ministros começam a ficar constrangidos com a postura do chefe. Porém, ninguém vai sair enquanto perdurar a crise da saúde e, no caso de Paulo Guedes, vem ainda a crise econômica, depois da pandemia, acompanhada da terceira onda, a política. O futuro do Brasil nunca foi tão incerto.
Atrasados
A demora de Bolsonaro em sancionar a ajuda de R$ 600 aos trabalhadores informais começou a ser explorada pela oposição, e ficará assim por mais tempo. Afinal, completou um mês da chegada do vírus no Brasil e, até o momento, a parte econômica, tão citada pelo presidente, ainda não resultou em recursos nas mãos dos mais necessitados.
Constrangimento
Os diplomatas brasileiros pelo mundo afora estão tontos, sem saber como explicar a posição do governo e a edição da fala de Tedros Adhanom feita pelo presidente, em rede nacional. Afinal, o diretor da Organização Mundial de Saúde (OMS) não recomendou a volta ao trabalho, e sim a proteção das pessoas mais necessitadas.
Sentiu o tranco
Os cuidados de Bolsonaro ao dizer, em seu pronunciamento, que está preocupado com a saúde das pessoas, foram vistos como um sinal de que percebeu a perda de popularidade. Porém, o fato de dizer que quer retomar seu projeto de desenvolvimento indica que ainda não se deu conta do tamanho da crise e de que terá que ter um plano B.
Terra, o conselheiro
O ex-ministro Osmar Terra sustenta, há 15 dias, que a curva de casos no Brasil não será a mesma de países como a Itália, e que isso não se deve ao isolamento. É na posição dele que Bolsonaro tem se pautado.
“Bolsonaro chora porque viu que errou e errou feio”
Do deputado Fábio Trad (PSD-MS), irmão do senador Nelsinho Trad, que não tem comorbidades e teve 10% dos pulmões comprometidos pela Covid-19
Deputado na UTI/ Vice-líder do PSC, o deputado Aluisio Mendes (MA) está internado no Sírio Libanês, em Brasília, por causa da Covid-19. À coluna, ele contou que há seis dias passou mal, foi ao hospital e os testes deram positivos. Ainda não saiu da UTI, mas apresenta melhoras.
As fake news reinam…/ Como se não bastasse a gravidade da pandemia, as pessoas ainda têm que conviver com montagens de fotos que proliferam pelo WhatsApp sem o menor controle. Uma das últimas, repassadas nos grupos bolsonaristas, mostra a governadora do Rio Grande do Norte, Fátima Bezerra, junto com o vice-governador Antenor Roberto e o prefeito de Natal, Álvaro Dias.
… e as ironias também/ Nos grupos petistas, alguns posts perguntam “Cadê o Queiroz?”, numa referência ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro, que recebia depósitos dos funcionários do gabinete de Flávio nos tempos de deputado estadual. Os posts vêm acompanhados de frases do tipo: “reza a lenda que a família Bolsonaro recomendou a ele distanciamento social, isolamento e quarentena, a fim de evitar contaminação”.
Termômetro/ O Park Sul, no setor industrial do Guará, onde, em 2018, os moradores comemoraram de forma efusiva a vitória de Bolsonaro, aderiram ao panelaço na hora do pronunciamento do presidente, ontem à noite.
CB.PODER/ O senador Major Olímpio (PSL-SP) é o entrevistado de hoje do programa, logo depois do jornal local, na TV Brasília e nas redes sociais do Correio Braziliense.
O pronunciamento de hoje mostrou que o presidente Jair Bolsonaro sentiu o tranco da queda de popularidade e estende a mão para o diálogo e para tentar recuperar o que perdeu. Falou da saúde das pessoas, da necessidade de união, se colocou como aquele que detém o comando da equipe ao dizer que determinou aos ministros que cuidem dos brasileiros. Falou inclusive em união de todos, governadores, prefeitos, Legislativo, Judiciário na guerra contra o coronavírus. O discurso de união, de “vamos juntos” e de preocupação primeiramente com a saúde das pessoas finalmente substituiu o da “gripezinha”.
Resta saber se as ações presidenciais seguirão nesse sentido. Na reunião dos governadores do Sudeste, semana passada, por exemplo, o presidente mais atacou do que discutiu saídas para estados como São Paulo, o epicentro da pandemia no Brasil. Ficou mais preocupado com o embate politico com o governador João Doria, citando inclusive a eleição de 2022, algo que não está na cabeça do brasileiro nesse momento. A tensão com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é outro ponto. Não dá para o presidente nomear um ministério técnico e desprezar as recomendações técnicas de sua equipe, ao ponto de ministro ter que olhar para o seu colega da Casa Civil, Braga Neto, e escolher as palavras mais amenas para expor os resultados do confinamento _ como fez Mandetta na coletiva de hoje.
Bolsonaro não deixou ainda de citar a parte que lhe agradou do discurso do diretor Organização Mundial de Saúde, Tedros Adhanom. Porém, manteve dessa “missa” a metade, ao mencionar apenas a parte em que Adhanom fala sua preocupação com os informais e desconhecer o trecho com a referência à necessidade de proteção dessas pessoas por parte dos governos.
A parte da OMS, porém, não ocupou tanto o discurso como se esperava e o ponto alto foi mesmo a mudança de tom. Embora Bolsonaro tenha mantido suas referências à cloroquina e à preocupação com o emprego, fez questão de lembrar que não há tratamento específico para Covid-19 e nem vacina. Agora, assim como os médicos trabalham incansavelmente para recuperar a saúde dos cidadãos que procuram os hospitais, o presidente trata de querer recuperar a sua saúde política. Ainda está em tempo. Basta levar o discurso à prática.
A equipe do presidente Jair Bolsonaro diz não saber informar o tom do pronunciamento que o presidente fará logo mais em cadeia nacional de rádio e tevê. Sabe-se apenas que será na linha do que ele já vem defendendo em relação ao combate ao coronavírus. De quebra, loas ao 31 de março, aniversário do golpe de 1964. Alguns dizem que só quem sabe do teor são os filhos do presidente, em especial, Carlos Bolsonaro.
Na semana passada, quando do primeiro pronunciamento, os militares chegaram a fechar um texto com o presidente, mas foram surpreendidos na hora em que Bolsonaro falou. O tom foi bem diferente daquele acertado com assessores e ministros, que tratava da gravidade da pandemia. Se Bolsonaro hoje optar por falar da Organização Mundial de Saúde, conforme sugeriu que faria pela manhã,corre o risco de mais um fiasco internacional para se somar ao fato de ter sido classificado como o líder que pior está lidando com a crise do coronavírus.
R$ 1 bilhão para pequenos produtores, em especial, agricultura familiar
Uma conversa entre o ministro da Economia, Paulo Guedes, e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, bateu o martelo sobre o apoio financeiro a produtores de leite, hortifrutis e, também, flores. O valor previsto é da ordem de R$ 1 bilhão. Metade desse volume, R$ 500 milhões, vai para o Programa de Aquisição de Alimentos, em parceria entre o Ministério da Cidadania e Conab, para aumentar também as compras da agricultura familiar. O intuito é garantir renda aos produtores e estoque para a distribuição em hospitais e clínicas de idosos.
A preocupação dos técnicos da área econômica é evitar que os produtores fiquem sem renda ou se vejam obrigados a parar a produção por falta de capital. Há um cuidado especial com os produtores de leite e laticínios, que perceberam nos últimos dias uma diminuição da venda de seus produtos.
Flores
Um dos setores que sentiu fortemente a queda da demanda nesta segunda quinzena de março foi o das flores. Esse pessoal trabalhava muito para eventos, como casamentos, batizados, festas em geral. Agora, esse público simplesmente desapareceu e cancelou tudo o que estava programado para abril, por exemplo. Com a decisão de hoje, o governo agora vai começar a mapear também outros setores que enfrentem dificuldades para evitar uma quebradeira geral. A ideia é atendê-los com esses recursos que os técnicos do governo prometem disponibilizar nas próximas semanas.
Planalto tenta conter os danos de imagem na crise do coronavírus
Coluna Brasília-DF
Ao levar as coletivas do Ministério da Saúde para o Planalto, como parte do gabinete de crise, Jair Bolsonaro adota uma estratégia para evitar a leitura de que a equipe do ministro Luiz Henrique Mandetta é algo estanque, descolado do governo. Aliás, foi aconselhado a adotar esse modelo para tentar amenizar o impacto negativo não só do passeio de domingo, mas também das declarações da manhã, em que novamente defendeu que todos voltem ao trabalho, num momento em que até Donald Trump se rende à necessidade de isolamento. Veremos até quando isso vai durar. O presidente quer os louros do trabalho desenvolvido pelo Ministério da Saúde, mas quer distância do ônus econômico das suas recomendações, de distanciamento social.
Aliados têm dito que Bolsonaro não se convenceu da gravidade da crise. Primeiro, houve a defesa de uma campanha institucional para que o Brasil voltasse ao trabalho. Não deu certo. Depois, o rascunho de um decreto para determinar o retorno imediato às atividades em todo o país. Não funcionou. A contar pela disposição dele, algo mais virá. O Brasil vive a cada dia a sua aflição.
Ministros por Mandetta
Não são poucos os ministros que têm apelado a Bolsonaro para refluir nas declarações dissonantes com as de Mandetta. O que o ministro da Economia, Paulo Guedes, fala de público, a favor do isolamento, é voz corrente no primeiro escalão do governo.
A terceira onda
As declarações de Bolsonaro só serão tratadas de forma mais contundente no Parlamento, quando o país estiver em condições de voltar à normalidade. Em outras palavras, o Brasil seguirá com crise política em altos e baixos. Ninguém tomará qualquer atitude, até que se resolvam as questões de saúde, e as medidas econômicas tenham alguma resposta a fim de melhorar a vida das pessoas.
Está assim I
Em Londrina (PR), um empresário de 55 anos, que passou a infância e a adolescência em Brasília, começou a sentir dores pelo corpo em 18 de março. Em 20 de março, febre alta e dor de cabeça. Procurou a emergência de um hospital privado três dias depois. Foi mandado de volta para casa, sem teste para coronavírus e qualquer cuidado especial. Preocupado e ainda passando mal, voltou ao hospital dia 25. Aí sim, o tratamento foi diverso. Uma tomografia detectou lesões nos pulmões e, então, foi internado e houve coleta de material para o teste. Ontem, 29 de março, recebeu o resultado: Covid-19.
Está assim II
Esse empresário continua internado. Conta ainda que tem um passado atlético em piscina, alimentação saudável, não fuma, não bebe, não tem hipertensão, diabetes, ou qualquer outro fator de risco. Agora, seu quadro clínico começa a melhorar. “O vírus é violento”, avisa.
Militares e o meio-termo de Villas Boas
Integrantes da cúpula das Forças Armadas cobraram de Bolsonaro uma postura mais afinada com o Ministério da Saúde. Daí o motivo da nota do ex-comandante do Exército, general Villas Boas, que critica ações extremadas, delimita o centro como ponto de equilíbrio e, por tabela, sai em defesa do presidente. Divulgada, ontem, nas redes sociais, coloca Bolsonaro como bem intencionado. A leitura da política é a de que a caserna age para tentar conter o presidente e a crise política.
Continha/ Dia desses, o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) reclamou de um juiz que suspendeu a carreata do “Brasil não pode parar”, referindo-se a um cidadão contra 57 milhões –– o número de votos que seu pai angariou no segundo turno. O problema é que, desses milhões, há muitos que defendem o confinamento e não votaram a favor de Bolsonaro, e sim contra o PT.
Sem exemplos para citar/ O fato de o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, adotar o autoisolamento depois que um de seus assessores testou positivo para o novo coronavírus, foi mais um baque nas atitudes de Bolsonaro, que, com vários colaboradores com resultado positivo, continua nas ruas.
Difícil, mas deve rolar/ A Câmara fez ontem testes para sessões virtuais. Só tem um probleminha: com 513 deputados, vai ser complicado definir a ordem de uso dos microfones –– e por aí vai.
Enquanto isso, na construção civil…/ Obras de fundação de um edifício na região do Park Sul continuavam ontem a pleno vapor.
Bancada paulista destinará todas as emendas ao combate ao coronavírus
Coordenador da bancada de São Paulo no Congresso, o deputado Vinicius Poit (Novo-SP) conseguiu que todos os R$ 219 milhões em emendas da bancada de São Paulo ao Orçamento deste ano sejam destinadas ao combate ao coronavírus. O valor deverá ser aplicado na área de saúde para compra de equipamentos médicos destinado ao tratamento de pacientes. São Paulo tem 206 pacientes internados em UTI, de um total de 1.451 casos. Esses números foram divulgados hoje. O número de mortes é 98.
A iniciativa de Poit junto aos deputados de São Pulo, a maior bancada da Câmara, segue o que já foi feito por outras bancadas estaduais pelo Brasil afora. Até aqui, Distrito Federal, Sergipe e Amazonas anunciaram iniciativas semelhantes.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, segue espremido. De um lado, um presidente da República que deseja implantar no país apenas o isolamento vertical, reabrindo comércios e todos os serviços não-essenciais e isolando apenas os idosos e pessoas do grupo de risco. De outro, a Organização Mundial de Saúde, as recomendações dos infectologistas, e mais de meio mundo que considera o isolamento a única forma segura de evitar o colapso dos serviços de saúde pública, uma vez que a escassez de testes rápidos para isolamento apenas dos doentes impede outro tipo de tratamento. Entre os dois, Mandetta, para a entrevista de daqui a pouco, promete a verdade. Vai, assim, na linha da citação bíblica, João 8:32, sempre mencionada pelo presidente Jair Bolsonaro: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”.
Bolsonaro, ao escolher seus ministros, em dezembro e 2018, anunciava que não cederia aos partidos e daria à sua equipe um perfil técnico. Se agora, nesse momento grave, Bolsonaro trocar o ministro da Saude, para colocar alguém que faça apenas a sua vontade, estará rasgando esse ativo que levou à sua eleição e foi amplamente aplaudido pela população. O próprio ministro Paulo Guedes, outro escolhido por um perfil técnico, disse hoje que está preocupado com a economia, mas defende o isolamento.
No mundo inteiro, os negacionistas da gravidade da pandemia que se mostraram mais atentos ao cenário econômico do que às questões de saúde pública tiveram que rever suas posições. Do prefeito de Milão, Giuseppe Sala, ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Bolsonaro insiste em manter sua sua posição. Vejamos quem está com a verdade. Afinal, como diz o presidente, a verdade libertará.