Autor: Denise Rothenburg
O teste da base do governo na Câmara será o auxílio reduzido
Ao colocar a proposta de autonomia do Banco Central (BC) para abrir sua gestão na Câmara, o presidente Arthur Lira (PP-AL) optou pelo tema que estava mais maduro, de forma a dar o discurso de sucesso no diálogo entre os Poderes da República. Mas, nos bastidores, todo mundo diz que a proposta não pode ser considerada um teste da base fiel ao presidente e, sim, a sinalização da Câmara de que, ali, a prioridade do presidente da Casa será a agenda econômica, sem a qual a perspectiva de sucesso eleitoral no futuro estará prejudicada.
Lira, assim como Jair Bolsonaro, sabe que, logo ali na frente, passados os temas mais fáceis, como a autonomia do BC, a coisa vai apertar. O grande teste será o auxílio de R$ 200. A oposição vai tentar elevar esse valor cortando despesas em obras que o governo deseja mostrar em 2022. Lira foi eleito com a ajuda do Palácio do Planalto para ajudar na construção dos consensos dentro daquilo que o governo deseja. Se a base aliada desandar, corre o risco de o presidente da República colocar a culpa no colo do presidente da Câmara. Bolsonaro já fez isso com Rodrigo Maia lá atrás. E nada garante que não repetirá a dose.
Reforma a conta-gotas
Bolsonaro não fará a reforma ministerial no ritmo que desejam os partidos, nem do jeito que eles pediram. E há um motivo para isso: deixar a turma com a expectativa de poder e não desagradar aqueles que o apoiam desde a campanha presidencial.
Teste de fidelidade
O presidente foi, inclusive, aconselhado a esperar passar o feriado de carnaval para anunciar o novo ministro da Cidadania. Assim, já estará resolvida a Comissão Mista de Orçamento e a Comissão de Constituição e Justiça. Há quem diga que, se houver uma rejeição ao nome da deputada Bia Kicis (PSL-DF) na CCJ, o mal-estar será grande.
Ficamos assim
Antes de colocar a autonomia do BC em votação, Lira tem encontro marcado com líderes dos partidos de oposição para estabelecer um acordo de procedimentos.
Termômetro
Lira quer aproveitar para medir como está a disposição dos oposicionistas em aceitar um valor menor do auxílio emergencial, de forma a não comprometer ainda mais as contas públicas. Ocorre que, depois de, no ano passado, a Câmara fechar o auxílio em R$ 500 e Bolsonaro subir para R$ 600 apenas para levar a melhor no eleitorado, ninguém da oposição acredita em acordo com o presidente.
Curtidas
Estica e puxa/ A transferência da instalação da Comissão Mista de Orçamento (CMO) para amanhã (10/2) foi lida como um sinal de que Elmar Nascimento (DEM-BA) não desistiu do cargo.
Nem vem/ Em conversas reservadas, porém, os mais próximos a Arthur Lira dizem que o nome é Flávia Arruda (PL-DF) e ponto. Não é uma questão pessoal e, sim, de proporcionalidade. O PL é maior que o DEM e Arthur, que brigou por Flávia em dezembro, não vai ceder agora.
Sem álibi/ O deputado João Roma (Republicanos-BA) está numa sinuca de bico. Apontado como um nome para o Ministério da Cidadania, ficará mal no seu partido se for chamado e recusar o cargo. Se aceitar, fica mal com o presidente do DEM, ACM Neto. Se João Roma for ministro, a indicação será atribuída a Neto, o que dará mais munição para o grupo do partido incomodado com o governo, enfraquecendo a posição do presidente da legenda como independente. É aquela velha história do sujeito que passou por um beco no momento do crime, na hora do crime, mas jura que é inocente.
Por falar em enfraquecimento…/ Os deputados podem até permanecer no DEM, mas alguns nomes começam a olhar para a porta de saída. Na lista, estão o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, que não apoiará Bolsonaro, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes. Mas ninguém fará qualquer movimento agora. A ordem é tentar segurar esse pessoal na legenda. Paes, por exemplo, que acabou de assumir, precisa de paz para trabalhar.
Ciro Gomes leva Miro Teixeira de volta ao PDT para coordenar a pré-campanha
Na luta por uma candidatura de esquerda capaz de atrair o centro, o ex-ministro de Ciro Gomes (PDT) acaba de conquistar um dos nomes capaz de servir de ponte para essa construção. O ex-ministro de Comunicações de Lula e ex-deputado Miro Teixeira, volta ao PDT, partido em que esteve filiado até 2013, para, a partir da semana que vem, começar a trabalhar um projeto nacional ao lado de Ciro para apresentar na campanha do ano que vem.
Miro estava na Rede de Marina Silva e depois de passar por varias legendas nos últimos oito anos, Pros, Apps (hoje Cidadania). Nesse período de isolamento social, as conversas com os antigos colegas de PDT e o com próprio Ciro foram aos poucos formatando esse retorno. “Ciro tem a situação do país na cabeça. É um cara do Nordeste que conhece o Sul”, disse Miro Teixeira ao blog, certo de que falta um planejamento estratégico para o Brasil.
“Não temos a pretensão de sairmos convencendo ninguém. Todas as atenções permanecem dedicadas à pandemia e em como reduzir número de mortes e de contaminações. E planejar, a fim de evitar no futuro o que passamos agora por falta de um projeto e de planejamento nacional. Ora, o Brasil tem história na produção de vacinas, a Fiocruz, o Butantan. Se tivesse planejado com antecedência, não estaríamos passando por isso”, diz Miro.
No momento, ele não fala do PT e nem de possíveis aliados ou adversários do próximo ano. “Quem fará esta conversa é Carlos Lupi”, diz ele, referindo-se ao presidente do PDT. Mas, nesse momento, em que juntar cartas é importante, Ciro Gomes acaba de conseguir um ás. Já é alguma coisa.
Arthur Lira tentará tirar reforma tributária de Aguinaldo Ribeiro
A reunião entre os presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco, e da Câmara, Arthur Lira, com os relatores da reforma tributária nas duas Casas não serviu para que Lira e o deputado Aguinaldo Ribeiro fizessem as pazes. Na Câmara, é dada como certa a substituição de Aguinaldo nessa relatoria, caso a reforma seja votada, primeiro, no Senado. Há quem diga que Aguinaldo só será mantido nessa vitrine se o presidente do PP, Ciro Nogueira, pedir.
Aos poucos e com muita paciência, Lira dará um jeito de afastar todos aqueles que tentaram lhe puxar o tapete, dentro do bloco original do Centrão. No caso de Aguinaldo Ribeiro, só tem um probleminha: o deputado já está nessa relatoria há algum tempo e sabe onde aperta o calo de cada setor e por dentro de onde é possível buscar acordos. Tirar por mera vingança poderá soar como um capricho que só atrasará a aprovação do texto.
Lula permanecerá “pendurado” na Justiça
As esperanças do PT, de lançar Lula como candidato em 2022, têm tudo para morrer na praia. Entre as conversas na área jurídica, as apostas são de que ele conseguirá a anulação da sentença dentro do processo do triplex no Guarujá, mas não o do sítio de Atibaia. Nesse cenário, Fernando Haddad será o candidato.
O ponto frágil é a saúde
O pedido da CPI da covid-19 no Senado é visto pelo governo como o maior ponto de fragilidade no Congresso hoje. Paralelamente, ainda tem a questão das vacinas, na qual o presidente Jair Bolsonaro fez questão de mostrar que está ao lado da Anvisa. Inclusive, nessa pressão do líder do governo, Ricardo Barros, sobre “enquadrar” a agência.
Se quebrar o acordo…
O PSL não pretende tirar a deputada Bia Kicis da indicação para a Comissão de Constituição e Justiça. O partido não tem interferido nas outras bancadas para dizer quem deve ser o postulante para compor este ou aquele colegiado. Além disso, há, entre os bolsonaristas, a certeza de que Bia está sofrendo uma campanha contra porque é aliada de primeira hora do presidente Jair Bolsonaro.
… vai ter troco
Líderes de outros partidos avaliam que se alguma legenda quiser concorrer contra Bia terá problemas, porque essa escolha das comissões técnicas é regimental. Até o carnaval, porém, há muita água para rolar sob a ponte.
CURTIDAS
Ela levou a melhor/ Depois da briga, do ano passado, em torno da Presidência da Comissão Mista de Orçamento, a deputada Flávia Arruda, do PL-DF, ficará com o cargo, conforme acordo já firmado entre os partidos. Elmar Nascimento, que era o nome defendido, em 2020, por Rodrigo Maia e liderou a ala contra Baleia Rossi, será agraciado em outra posição mais à frente.
E o combustível, hein?/ A reunião para tratar de preço de combustível, hoje (5/2), foi exigência do presidente Jair Bolsonaro. É uma forma de ele sinalizar aos caminhoneiros que está ao lado deles, mesmo que não resolva o problema da categoria.
DEM vai ficar rachado mesmo/ Com a tese da fidelidade partidária, muitos interessados em acompanhar Rodrigo Maia, caso ele saia do DEM, devem recuar. É que o mandato de eleições proporcionais pertence ao partido.
Por falar em DEM…/ Maia tem sido procurado por integrantes do partido, num esforço para que reflita sobre os erros que cometeu no processo e dê um tempo antes de tomar qualquer decisão sobre o futuro. Não tem adiantado muito. O pote de mágoas continua cheio.
No papel de presidente do Congresso Nacional, Rodrigo Pacheco (DEM-MG) acaba de inverter o cronograma que o governo havia montado para as reformas em 2021. A prioridade do ministro da Economia, Paulo Guedes, era a chamada PEC Emergencial, seguida da reforma administrativa, e a tributária. Tanto é que a proposta governamental sobre a tributária chegou ao Congresso na forma de uma carta de intenções, sem a formatação de um projeto de lei. Na semana passada, o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), comentava com amigos que a ordem seria a PEC Emergencial, a reforma administrativa. A reforma tributária ficaria para depois, porque não seria tão tranquilo tratar desse tema na Casa com o autor da proposta, o deputado Baleia Rossi (MDB), e o relator, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) __ aliado do ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, que apoiou Baleia Rossi.
Pacheco, que nada tem a ver com a disputa de poder na Câmara baixa, colocou Arthur Lira e Aguinaldo Ribeiro na mesma foto, lado a lado, logo depois da reunião na residência oficial do Senado, onde recebeu Lira e os relatores da tributária, o deputado Aguinaldo Ribeiro e o senador Roberto Rocha. Sem esses problemas políticos de inimizades, nem as arestas que restaram da disputa da Câmara, o presidente do Senado hoje tem mais condições de ocupar o espaço de centro, colocando todos à mesa. Faz política focado nos fatos e não nas intrigas e ressentimentos.
Lira já percebeu esses movimentos e foi direto: ” por sua vez, pediu a Pacheco que fosse instalada logo a Comissão Mista de Orçamento, primordial, porque o Orçamento deste ano não está aprovado. Pacheco concordou com a urgência do tema, mas lembrou que é preciso discutir esse tema com os líderes, ou seja, não dá para instalar ainda esta semana. Quanto às reformas, Lira citou ainda que, “nosso compromisso na Câmara é tratar com rapidez da reforma administrativa e, no Senado, da PEC Emergencial”. Falou ainda que “não vai haver briga entre Câmara e Senado por protagonismo” em relação às reformas.
A frase de Lira foi vista, entretanto, por alguns políticos como alguém que já percebeu que Rodrigo Pacheco não deixará o palco livre para que o presidente da Câmara desfile sozinho. Hoje cedo, Pacheco já ligou para Paulo Guedes, para tratar da PEC Emergencial, da reforma tributária e também da necessidade das questões sociais, leia-se auxílio emergencial. Ficaram de se reunir ainda nesta quinta-feira, no início da noite. O Senado, aliás, já tem sessão de votação hoje à tarde, com dois projetos de lei de conversão (nome que se dá quando há alteração de medidas provisórias), que tratam do acordo para as vacinas contra Covid-19 e ainda, da transferência para a União das ações representativas do capital social das Indústrias Nucleares do Brasil S.A. e da Nuclebras Equipamentos Pesados S.A, de titularidade da Comissão Nacional de Energia Nuclear.
O novo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), ocupa, hoje, a pole position do grid de largada dos políticos a serem observados mais de perto. No “arriar da mala”, que, diz o ditado, é como se conhece uma pessoa, ele se diferenciou de Jair Bolsonaro, largou na frente defendendo a necessidade de conciliar teto de gastos com assistência social, rechaçou os radicalismos de “um lado e de outro”, num recado para o chefe do Executivo e o PSol, que chamou o presidente de “genocida”. De quebra, Pacheco ainda se distanciou do presidente da Câmara, Arthur Lira, ao comemorar a posse com o comedimento que o momento exige e ao conseguir construir uma chapa com a oposição no Senado, quebrando, ainda que circunstancialmente, a polarização.
Pacheco não é partidário das pautas de costume do governo, elencadas como prioridade pelo presidente Jair Bolsonaro, e, nos dois últimos dias, está rouco de tanto defender a conciliação da pauta econômica com a social e de fortalecimento do sistema de saúde. Nos bastidores, há quem diga que sai Rodrigo Maia e entra Rodrigo Pacheco, mais discreto e menos emotivo. É o novo personagem que começa a chamar a atenção.
Sutil diferença
Ao vender a sua loja de chocolates, o senador Flávio Bolsonaro quer ver se consegue tirar as suspeitas da lavagem de dinheiro e a obrigação de responder pelo caixa da empresa. Agora, poderá sempre dizer, “não sou mais dono da loja, pergunte aos proprietários”.
PT na área
Enquanto o presidente Jair Bolsonaro chegava ao Congresso, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, gravava entrevista à Rede Vida de televisão. Ela disse, com todas as letras, que o nome do PT para 2022 é o do ex-presidente Lula. Se ele não conseguir anular a suspensão dos direitos políticos, o partido tende a ir de Fernando Haddad, o candidato de 2018.
Nada é definitivo, mas…
Gleisi defende que os partidos de oposição montem um programa conjunto e que cada legenda apresente o seu nome para, lá na frente, decidir se será o caso de lançar um único candidato, ou vários e se encontrar no segundo turno. Afinal, uma sigla grande como o PT não ter postulante é algo quase impossível.
Comissões & ministérios
Partidos começam a trabalhar um nome alternativo ao de Bia Kicis para a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). O deputado Lafayette Andrada (Republicanos-MG) é o mais citado. Só tem um probleminha: ele está cotado, ainda, para ministro da Cidadania.
CURTIDAS
Sentiu o tranco…/ Depois da festa de sua posse, com mais de 300 pessoas, e a maioria aglomerada sem máscara, o presidente da Câmara, Arthur Lira, decidiu colocar ordem no plenário. Ontem (3/2), por exemplo, chamou a atenção de quem estava no recinto sem o item de proteção.
… e verá consequências/ Obviamente, a festa, há dois dias, não pode ser o motivo, por causa do curto espaço de tempo, mas o departamento médico da Câmara atendeu várias pessoas com febre na instalação dos trabalhos.
Português não é para amadores/ O fato de a deputada Flordelis constar como “titular” da Secretaria da Mulher da Câmara tumultuou o WhatsApp das parlamentares ontem de manhã, uma vez que elas ainda não se reuniram para escolher quem comandará a Secretaria. No início da tarde, a secretária da Mulher, deputada Professora Dorinha (DEM-TO), esclareceu que essa titularidade é automática e vale para todas. “Todas as 79 deputadas estão nessa condição, como se fosse uma comissão”. Ah, bom!
O Congresso não é para amadores/ A deputada Flordelis, aliás, não deseja qualquer cargo ou visibilidade neste momento. Acusada de participação no assassinato do marido, ela pretende ficar bem quieta, para ver se consegue terminar o mandato. Até hoje, seu caso não foi analisado pelo Conselho de Ética.
A bancada feminina da Câmara amanheceu numa intensa troca de mensagens de WhatsApp ao ser alertada que, na página da deputada Flordelis na Câmara, acusada de ser mentora do assassinato do próprio marido, ela consta como “titular” da Secretaria da Mulher a partir de 02 de fevereiro deste ano. As deputadas sequer começaram a discutir a sucessão na Secretaria. “Isso não existe, a bancada feminina faz uma eleição, não sei de onde saiu isso”, diz a deputada Soraia Santos (PL-RJ).
Flordelis apoiou Arthur Lira, fez questão de postar fotos ao lado do novo presidente da Casa em suas redes sociais, como muitos outros, mas nem de longe será eleita pelas deputadas como titular da secretaria da Mulher, hoje presidida pela deputada Professora Dorinha (DEM-TO). Porém, como a única integrante da bancada feminina dentro do PSD, ela foi indicada para a comissão da mulher, outra instância da Casa, como “titular” para fazer parte do colegiado e não para comandá-lo. Afinal, enquanto não for julgada pelo Conselho de Ética da Casa, ela continua no exercício do mandato e participa como titular (e não apenas como suplente) de comissões técnicas.
Atualização
A secretária da Mulher, deputada Professora Dorinha, esclareceu que essa posição de ” titular” foi atribuída a todas as 79 deputadas para que elas possam interagir na secretaria, como se fosse uma comissão. A própria deputada Flordelis avisou que não pretende assumir postos na Casa. Aliás, conforme o blog apurou, a estratégia de Flordelis agora é ficar “mergulhada”, ou seja, não aparecer muito, a fim de tentar preservar o mandato.
A disputa de 2022 atingiu em cheio as pretensões de deputados e senadores de ocupar cargos no governo. É que, ao atender os novos aliados, o presidente pode acabar prejudicando aqueles que apoiaram sua candidatura em 2018, como os sujeitos que compram um apartamento na planta. Um dos maiores exemplos está no Distrito Federal.
A deputada Celina Leão (PP-DF) circulou na festa em homenagem a Arthur Lira e alguns brincaram, chamando-a de ministra do Esporte. Só tem um probleminha: Bolsonaro não decidiu recriar esse ministério e, no DF, os primeiros da fila no coração do capitão são o ex-deputado Alberto Fraga (DEM-DF) e a deputada Bia Kicis (PSL-DF), fiéis escudeiros. Ambos são, a preços de hoje, candidatos a deputados em 2022 e, como não haverá coligação, dificilmente, Bolsonaro abrirá uma vaga no governo para uma potencial adversária de seus melhores amigos.
Arthur queria a Mesa inteira
A decisão do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de anular o bloco de Baleia Rossi (MDB-SP), como seu primeiro ato, foi feita de caso pensado para dar ao bloco do Centrão e simpatizantes todos os cargos da Mesa Diretora ou, no mínimo, folgada maioria.
O diálogo do eu comigo
O jogo de Lira e do PP é evitar o placar de três a três na distribuição de cargos da Mesa, desenhada pela configuração dos blocos definidos na manhã de segunda-feira, e garantir maioria de parlamentares aliados ao Centrão na Mesa Diretora. Afinal, Lira prometeu que as decisões da Casa serão colegiadas. Agora, com quatro a dois, o presidente assegura que as coisas não fugirão ao seu controle.
Só teve um “probleminha”
O fato de Lira começar a gestão com uma “canetada” jogou ao vento todo o discurso de que a Mesa é equidistante da direita e da esquerda. Agora, apesar do acordo, será difícil restabelecer a confiança.
Dia da caça
A avaliação geral é de que o presidente do MDB e líder do partido, Baleia Rossi, terminou poupado por Arthur Lira porque o governo, hoje, não pode prescindir dos votos emedebistas. Só tem um probleminha: a retirada dos cargos dos deputados do partido deixou sequelas. E, sabe como é, o MDB, quando pode, se vinga.
Dia do caçador
O presidente Jair Bolsonaro quer ir, hoje, ao Congresso levar a mensagem presidencial de abertura do ano legislativo e mostrar que deseja uma relação cordial com o Parlamento. Não falará de reforma ministerial e, sim, da necessidade de reformas constitucionais.
Curtidas
Lira com “i”/ Nas rodinhas de Brasília dos aficionados por BBB, Arthur Lira vem sendo comparado à rapper Karol Conká, no BBB 21. Faz sucesso na Casa, mas, no público externo, é só paulada.
Bia Kicis na CCJ/ Conforme adiantou, dia desses, a coluna, a deputada Bia Kicis (PSL-DF) foi indicada pelo partido e vai presidir a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. Bia não será uma neófita ali. É advogada e procuradora do DF e já foi vice-presidente do colegiado.
E o Rodrigo, hein?/ Mais calmo, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia não definiu destino nem sabe mais se mudará de partido. Entre os amigos, é citado como alguém que jogou um cesto de pedras para cima e se esqueceu de sair de baixo. Agora, é se recuperar das pedradas para poder se mover.
O baile da ilha fiscal/ Se o primeiro ato do presidente Arthur Lira jogou fora o discurso de respeito às minorias, a festa para 300 pessoas até as 4h da matina tirou dos deputados o discurso de preocupação com a pandemia. A maioria desfilou sem máscara, como nos velhos e bons tempos em que os vírus resultavam em “gripezinha”. Num coquetel, com comes e bebes servidos o tempo todo, fica difícil manter o uso do acessório. Ocorre que, com a nova cepa do coronavírus circulando por aí, até quem já teve a doença não está seguro.
Enquanto isso, no Senado…/ O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, dispensou comemorações. Recebeu o governador de Minas, Romeu Zema, e se reuniu com alguns senadores para tratar dos cargos da Mesa Diretora. Já ganhou o apelido de Rodrigo, o discreto.
Partidos esperam reforma ministerial para depois do carnaval
A expectativa de poder foi crucial para ajudar Arthur Lira (PP-AL) a acomodar seus aliados nos últimos dias, a começar pelo Republicanos, que abriu mão de um cargo na Mesa Diretora da Câmara e, agora, aguarda um ministério. O mesmo vale para o DEM, que, ao sair do bloco de Baleia Rossi, deu ao presidente Jair Bolsonaro o que o capitão mais desejava: derrotar Rodrigo Maia, antes mesmo de anunciado o resultado. Nos bastidores, os deputados afirmam que o presidente terá de cumprir os compromissos e acomodar os novos aliados ao seu lado.
Embora o presidente tenha dito que há “apenas uma vaga” em sua equipe, a Secretaria-Geral da Presidência, ele não tem uma situação tão confortável, do ponto de vista político, que lhe permita deixar ao relento a turma que, agora, assume o poder no Congresso. Afinal, se a economia não responder rapidamente, o presidente terá dificuldades de manter o eleitorado e, por tabela, os novos amigos da velha política.
2022 começa agora
A briga entre Rodrigo Maia e ACM Neto tem como pano de fundo os rumos do DEM para 2022. Neto ainda tem uma janela aberta para apoiar a reeleição de Bolsonaro e uma parcela da bancada interessada nesse caminho. Nessa trilha, Rodrigo não seguirá nem amarrado.
Rodrigo e Luciano
Do MDB, passando pelo PSDB, pelo Cidadania e até pelo PSL, Rodrigo Maia estudará bastante antes de escolher um partido para chamar de seu. Afinal, foi o primeiro presidente do DEM, quando o PFL trocou o nome, tem história política. Ele jogará junto do empresário Luciano Huck rumo a 2022. São amigos há 20 anos.
Por falar em PSDB…
Foi preciso uma intervenção do PSDB paulista, leia-se João Doria, para evitar que o PSDB fizesse igual ao DEM e saísse do bloco de Baleia Rossi. O movimento contava com o apoio do PSDB de Minas. O líder da bancada, Rodrigo de Castro, foi acusado pelo MDB de atuar para atrasar o pedido de registro do bloco de Baleia. A disputa no PSDB indica que Doria não terá vida fácil no ninho para ser candidato a presidente da República.
Apostas
O governo calcula que o mote da oposição para a eleição do ano que vem promete ser a pandemia e os erros do governo nessa seara. A aposta dos bolsonaristas, porém, é de que esse tema já terá passado e que o povo estará mais interessado na economia.
Curtidas
Frota, o primeiro tiro/ A abertura da sessão preparatória, com o discurso de Alexandre Frota, do PSDB-SP, cheio de ácidas críticas ao governo, fez parte da estratégia da oposição de tentar levar o plenário a mudar de ideia em relação a Arthur Lira. Chamou Bolsonaro até de abutre, que acabou com a Lava-Jato, se omitiu na prisão em segunda instância; falou do líder com dinheiro na cueca (senador Chico Rodrigues) e por aí foi.
Lá e cá/ Depois que Luiz Miranda (DEM-DF) se juntou ao comboio para o passeio de moto, no último sábado, o presidente Jair Bolsonaro chamou o ex-deputado Alberto Fraga, de quem é amigo há 20 anos. Conversaram por mais de duas horas. Não dá para deixar um velho amigo com ciúmes de Miranda, que não foi chamado para conversar depois do passeio.
Diferenças importantes/ Arthur Lira fez campanha voltada para os deputados e não para o público externo. Aliás, na Câmara, quem fez campanha para os cargos internos, via público externo, invariavelmente, se deu mal.
Por falar em público externo…/ A aglomeração de deputados no plenário da Câmara, durante a sessão preparatória, deixou o corpo médico de plantão atônito por causa da pandemia da covid-19. Muitas excelências mantinham a máscara no queixo, outras cobriam apenas a boca. Preocupante. Até porque, diante de uma nova cepa, até quem já teve a doença não está completamente livre do vírus.
“Rodrigo Maia fez ouvidos moucos ao clamor dos brasileiros. A história é implacável”
Luiza Erundina (PSol-SP), referindo-se aos sucessivos pedidos de impeachment, que Rodrigo desprezou e ameaçou abrir no último dia, quando não havia mais tempo
2022 pesa e PSDB volta ao bloco de Baleia Rossi, mas racha permanece
As pontes para o futuro falaram mais alto dentro do PSDB e o partido permaneceu no bloco construído por Baleia Rossi e Rodrigo Maia. Mas, o líder Rodrigo de Castro (MG), ligado ao deputado Aécio Neves, ex-candidato a presidente da Republica, é visto como alguém que tentou levar o partido para o Aldo de Arthur Lira. Nas hostes de Baleia Rossi (MDB-SP) comenta-se inclusive ue Rodrigo de Castro já estava com tudo encaminhado, com 17 assinaturas, para mudar de lado na última hora. Afinal, outro integrantes da bancada de Minas Gerais, Domingos Sávio, participou do jantar em apoio a Lira na última sexta-feira. O governador de São Paulo, João Dória, estrilou. Afinal, há uma parceria dos tucanos com o MDB em São Paulo e não seria de bom tom abandonar o barco de Baleia Rossi nessa reta final, como fez o DEM.
O fato de segurar o PSDB no bloco de Baleia Rossi, porém, não apaga as divisões internas. Aécio Neves joga para evitar que João Dória seja o grande líder do partido e possível candidato a presidente da República pelo PSDB. Da mesma forma, ACM Neto joga para escantear Rodrigo Maia rumo a 2022, conforme o leitor do blog já sabe. Bolsonaro está feliz da vida. Enquanto os partidos de centro estiverem divididos, o presidente reinará em paz para compor sua campanha à reeleição sem grandes dissidências na sua fatia do eleitorado.
Certo da vitória no primeiro turno, Lira trata dos outros cargos da Mesa
Com a liberação das bancadas do DEM e do PSDB, e outros movimentos de última hora, a tendência é Lira ser eleito em primeiro turno hoje, com um “placar de emenda constitucional”, ou seja, acima de 308 votos. Para se eleger em primeiro turno, precisa de 257. Confiante de que terá esse total, Lira trata agora dos outros cargos da Mesa Diretora, atraindo até mesmo alguns integrantes da oposição. Já está certo que Marília Arraes (PT-PE) será candidata avulsa ao cargo que seu partido tiver direito a escolher, no caso, a primeira-secretaria, e o bloco de Lira descarregará os votos para ajudá-la. O mesmo acontecerá em relação ao PSB, onde o candidato deve ser o deputado Júlio Delgado (MG).
Essas candidàturas, estimuladas por Arthur Lira, são vistas como cruciais para que o deputado alagoano conquiste votos tanto no PT, quanto no PSB e seja eleito com o “placar de PEC”, conforme comentam seus aliados.







