Vandalismo gramatical

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Pichações fazem a festa em Europa, França e Bahia. O Equador está no mundo. Lá como cá, desocupados deixam marcas em prédios, muros, monumentos. Fazem borrões ou escrevem frases sem cerimônia. É aí que mora o perigo. É aí, também, que entra em cena a Ação Ortográfica Quito. Grupo de pessoas invadem as madrugadas pra corrigir os erros de escrita deixados pelos vândalos. Acrescentam acentos, inserem vírgulas, põem pontos, corrigem letras. Não são revolucionários nem políticos. São defensores radicais da gramática.

Nesta Pindorama verde-amarela, a moçada teria muiiiiiiiiiiiiiiiiito trabalho. Precisaria de duas esquipes. Uma atuaria nas ruas. A outra, em casa. Jornais, rádios, tevês exibem tropeços pra dar, vender e emprestar. É o caso da manchete “morre ex-anão de circo”. Ou da matéria que reclamava da falta de “acentos” destinados a idosos e grávidas nos ônibus. Ou do entrevistado que “interviu” na greve dos professores que se arrasta no Paraná.

Em ação

Vamos combinar? Quem escreve “ex-anão” se sente autorizado a embarcar em aventuras como “ex-pessoa” ou “ex-médico”. Quem pede “acento” para deficientes pode sentar-se em grampos ou chapeuzinhos e pôr sofás, bancos e cadeiras em cima de pobres letras que talvez desabem com o peso. Melhor oferecer assento aos passageiros e deixar o acento para as palavras. Quem diz “interviu” matou aula. Perdeu a explicação sobre pais e filhos. Intervir nasceu de vir. Um e outro se flexionam do mesmo jeitinho: vim (intervim), veio (interveio), viemos (interviemos), vieram (intervieram).

Lembrete

De sentar se formou assento. O primitivo se escreve com s. O derivado, vaquinha de presépio, vai atrás. Mantém o s original.