Um degrau acima

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Dad Squarisi // dad.squarisi@@correioweb.com.br
 
Subir na vida? Os sonhadores apontam dois caminhos — ganhar na loteria ou arranjar cônjuge rico. Os realistas, com os pés no chão e sem fé em Papai Noel, apostam em outra rota — o trabalho. Outra não é a razão por que imigrantes que chegam aqui com uma mão na frente e outra atrás ganham dinheiro, fazem poupança, adquirem bens. Pesquisa do IBGE divulgada estava semana mostra que a trilha do suor é a mais acertada.
 
O aumento do trabalho formal, aliado à valorização do salário mínimo e a políticas sociais, fez o Brasil mudar de patamar. De país pobre tornou-se mediano. A classe média passou a representar 51,8% da população. São pessoas cuja renda familiar vai de R$ 1.064 a R$ 4.591. Vale comemorar o salto. Vale, também, não cair no oba-oba. A concentração de renda, maior tragédia nacional desde as capitanias hereditárias, mantém o espectro assustador.
 
O abismo que separa pobres e ricos fica claro com simples operação aritmética — transformar a renda per capita anual de R$ 13.500 em renda mensal por família. O resultado dá R$ 5.062,50. Comparado com os R$ 1.064, tem-se a distância entre as classes A e B (renda superior a R$ 4.591) e a C. As demais? Nem se fala. Nada menos que 36 milhões de miseráveis sobrevivem com R$ 155 por mês. Conclusão: falta muito chão para consolidar as conquistas, ampliá-las e atingir o estado de justiça social.
 
O caminho passa necessariamente pela difusão de processo educativo ao alcance dos menos favorecidos e voltado para a modernidade. Percorre também outras trilhas. Entre elas, financiamento e incentivos fiscais para pequenos e médios empresários, redução da burocracia, queda do custo Brasil em todas as atividades. São trajetos indispensáveis para manter a mobilidade social e resgatar a multidão de deserdados de Deus e dos homens que se espalha pelas cinco regiões brasileiras.
 
Amparar a massa de paupérrimos é receita para diminuir o número de mal-educados, malvestidos, malcheirosos, malnutridos e maltudo que povoam nossas ruas e nossos pesadelos. Há que abrir-lhes espaços de trabalho e crescimento pessoal. O salário é diferente da esmola. Esta humilha; aquele dignifica. Com a medida, o trabalhador se torna classe média, o miserável se transforma em povo e parte do povo se torna emergente. A nova pirâmide talvez não torne o país grande potência. Mas o tornará justo.
 
(Artigo publicado no Correio Braziliense)