Tolerância zero

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Adílson Pinheiro joga no time do tolerância zero. Não leva dúvida pra casa nem a pedido dos deuses do Olimpo. Quando pinta uma, faz o que deve ser feito. Bate à porta de quem pode saná-la. Outro dia, leu este período: “É nas páginas de um livro que podemos viajar sem sair de casa e conhecer a alma humana”.

Ops! Não seria “São nas páginas de um livro que podemos viajar sem sair de casa e conhecer a alma humana”? Pensou. Repetiu uma forma e outra. Em vão. Não chegou a nenhuma certeza. Recorreu, então, ao blogue. A questão, pra lá de bem-vinda, toca em termo sem função. Ele se mete na vida do enunciado porque é intrometido.

O intrometido

Monteiro Lobato costumava dizer que a língua tem variado estoque de palavras à disposição. Combina-as segundo a necessidade. Na formal, usa terno e gravata. Na informal, camiseta, bermuda e chinelo. A escolha de um ou outro traje depende da ocasião. É igualzinho a nós. Se vamos à piscina, vestimos biquíni ou sunga. Se ao baile de gala, longo e smoking. Se ao cineminha de sábado, jeans, tênis, shortinho.

No exemplo do Adílson, a língua está à vontade. Deu a vez a penetra pra lá de ousado. Trata-se da partícula é que. Expletiva, ela pode ser jogada for a. Exemplos não faltam: Onde (é que) você mora? Por que (é que) empresários envolvidos na Operação Lava-Jato voltaram pra casa? Quem (é que) sabe a resposta? Nós (é que) somos patriotas.

O xis da questão

Olho vivo, Adílson. Você propõe transformar o é que em são que. Nem pensar. A intrusa é inflexível. Invariável, não tem singular nem plural. É sempre igual. Que tal mandá-la plantar grama no asfalto? Xô, criatura indesejada! Assim: (É) nas páginas de um livro (que) podemos viajar sem sair de casa e conhecer a alma humana.

Moral da opereta

E daí? Sem a expletiva, o enunciado mantém-se correto. Mas perde ênfase. Ficar com ela? Livrar-se dela? É preferência de cada um. O resultado não muda. É acertar. Ou acertar.