Peles-vermelhas e caras pálidas

Publicado em Geral


 
A reserva Raposa Serra do Sol fica em Roraima. Ocupa 1,67 milhão de hectares do território do estado. Ali vivem 18 mil índios de diferentes etnias e cerca de 800 brancos que se dedicam ao comércio ou à cultura do arroz. A presença dos caras-pálidas gera tensão no pedaço. O Supremo vai decidir se eles devem cair fora.

“É um encontro do Brasil consigo mesmo”, disse a senadora Marina Silva. Sem querer, a ex-ministra do Meio Ambiente mirou o que viu e acertou o que não viu. “Consigo mesmo?”, perguntaram os ouvintes. “Não seria com ele mesmo?”

Ops! No pedaço, o pronome si. Ele se refere à 3ª pessoa, criatura de quem se fala. Combinado com a preposição com, vira consigo: Cada qual por si e Deus por todos. O egoísta só pensa em si. Marina trouxe consigo toda a bagagem. Falou consigo mesmo.

 
Olho no vício
 
Pobrezinho do consigo! Volta e meia, usam-no em função imprópria. Distraídos se esquecem de que ele se refere à 3ª pessoa. Juntam-no, então, à 2ª (você, o senhor, tu). Ouvem-se, então, mostrengos como este:

— Quero falar consigo.

Cruz-credo! O consigo significa “com o senhor”, ou “com você”. Não se refere, pois, à 3ª pessoa, mas à 2ª. Xô! Melhor: Quero falar com o senhor. Quero falar com você.

 
Não cheira, nem exala
 

De volta à vaca fria. “É um encontro do Brasil consigo mesmo”, disse a ministra. Certo? Certíssimo. O consigo se refere à 3ª pessoa — o Brasil. O pronome mesmo não muda a função do consigo. Mas olho nele. O dissílabo se flexiona de acordo com o ser a que se refere: Maria falou consigo mesma. João falou consigo mesmo. Maria e Paula falaram consigo mesmas. João e Rafael falaram consigo mesmos.